sábado, 20 de maio de 2017

CÍNICOS OU LESOS?


 
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IMAGEM: GOOGLE
 O Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, estava sorumbático naquele final de tarde. Sozinho à mesa, degustava seu aperitivo no bar do Carneiro, enquanto rabiscava o jornal da manhã. De tempos em tempos, virava a cabeça de um lado para outro, sinal de que reprovava, com veemência, alguma coisa. Eis que chegou Ananias acompanhado de Deolinda. Difícil de acreditar. Mas nem o único e legítimo símbolo sexual de Vila Invernada foi capaz de entusiasmá-lo – ao menos num primeiro momento. Uma e outro quiseram saber qual era o problema.

-- Querem saber? Ando cansado. Penso seriamente em cancelar a assinatura do jornal e deixar de acompanhar o noticiário de rádio e tevê. Não suporto ler, ver e ouvir tanta lambança. Tenho a impressão, Ananias, de que seus colegas de profissão nos tomam por imbecis.

-- O que houve? – lhe perguntaram os dois, em uníssono.

-- Com a possível reforma da Previdência, não há dia nem hora, em que não apareça um gaiato (ou gaiata) para nos dizer que as pessoas precisam ter cautela, mais responsabilidade etc. Onde já se viu, segundo eles, alguém não ter previdência privada? Esses “analistas” são lesos. Ou cínicos – o que é mais provável. Vão-se catar. A maioria das pessoas não ganha sequer para comer, isso quando está empregada. Francamente.

-- Veja bem, Velho Marinheiro: é que...

-- Ananias, não me venha com esse seu corporativismo de padaria. Não é tudo, não. Não há santo dia em que não apareça “especialista”, para nos lembrar que o mercado de trabalho exige, cada vez mais, aperfeiçoamento continuado. Quem não fizer novos cursos, não investir em línguas e sei lá o que mais está lascado. Ora, volto ao que há pouco já lhes disse. Se o sujeito não ganha para comer, se é obrigado a fazer bicos e mais bicos, para sustentar a família, como ter tempo e dinheiro para estudar?

-- É verdade, é verdade – concordaram Deolinda e seu decote generoso.

-- Ananias: vamos mudar de assunto, esse já rendeu o que tinha que render. Vamos comemorar a presença, entre nós, da “Gabriela” de Vila Invernada.

-- Boa ideia, boa ideia – animou-se o jornalista desempregado.

-- Carneiro: traga bebida para a gente e uma porção de bolinhos de arroz, mas fritos na hora. Deolinda só merece coisas boas. E os analistas que se danem, safados. (OS)   

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