Dilma Rousseff, aos 22 anos, responde a um interrogatório na sede
da
Auditoria Militar do Rio de Janeiro em 1970
RADIOGRAFIA DE UMA FRAUDE (1)
A GUERRILHEIRA
Dilma aprendeu a montar e desmontar uma arma,
mas jamais apertou um gatilho fora da aula
Por Augusto Nunes
13/05/2017
O HISTÓRICO DA
GUERRILHEIRA TEM
MAIS CODINOMES QUE
TIROTEIROS
“Senhora ministra Dilma Rousseff, minha camarada de armas”, assim
José Dirceu saudou a herdeira do cargo na abertura da cerimônia do adeus à Casa
Civil. “Ela é uma companheira de lutas e, como eu disse, uma camarada de
armas”, reincidiu no meio do palavrório o figurão despejado do cargo por não
saber ocultar direito as provas do crime. “Lutamos contra a ditadura militar de
armas na mão. Lutamos pela redemocratização do Brasil de peito aberto”.
Animado com a salva de palmas, o orador caprichou na pose de
primeiro aluno da turma no cursinho intensivo de guerrilha em Cuba. Dilma
manteve o semblante severo de quem entrou em Havana no primeiro dia de 1959 ao
lado de Fidel Castro. Se esses dois tivessem escoltado Che Guevara na selva
boliviana a história seria outra, emocionaram-se na plateia veteranos heróis da
resistência que hoje lutam pela prosperidade alistados no exército dos
bolsistas da anistia.
O País do Carnaval não estabelece limites nem prazos de validade
para a fantasia, constatou outra vez o Brasil que vê as coisas como as coisas
são. Na discurseira de junho de 2005, por exemplo, Dirceu travestiu de soldados
da democracia dois devotos de seitas que pretendiam trocar a ditadura militar
pela ditadura comunista, e tinham tanto apreço pela liberdade quanto um
carcereiro nazista.
“A VAR- Palmares é uma organização político-militar de caráter
partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da
guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o
objetivo de tomar o poder e construir o socialismo”, confessava já nas
primeiras linhas o panfleto de apresentação de uma das quatro siglas
frequentadas por Dilma em três anos de militância clandestina. Mas quem faz o
que fez Dirceu não fica embaraçado por tão pouco, e o falatório seguiu seu
curso.
Sempre fantasiado de democrata, o capitão do time expulso de campo
pelo mensalão aproveitou a troca de guarda no primeiro escalão para celebrar a
troca de chumbo que não houve. O guerrilheiro diplomado com o codinome Daniel
só foi visto de armas na mão nas aulas práticas do cursinho ─ para disparar
balas de festim, porque não se desperdiça chumbo em combates imaginários. De
volta ao Brasil, assustou-se com o tamanho da confusão e preferiu
entrincheirar-se por trás do balcão do Magazine do Homem, em Cruzeiro do Oeste.
Em vez de comprar brigas perigosas, esperou a anistia vendendo roupas
masculinas.
O histórico da guerrilheira urbana registra mais codinomes que
tiroteios. Entre meados de 1967 e janeiro de 1971, a mineira Dilma Vana
Rousseff Linhares foi Estela, Vanda, Patrícia e Luiza. Nenhuma participou
diretamente de ações armadas. Dilma aprendeu a montar e desmontar uma arma, mas
jamais apertou um gatilho fora da aula. “Ela não era uma figura de muito
destaque”, disse Carlos Minc, que também se filiou à VAR-Palmares. A
sinceridade não pegou bem: Dilma acha que fica melhor no retrato com um trabuco
na mão.
“Não gosto de falar sobre isso”, diz com voz inconvincente quando
ouve perguntas sobre os velhos tempos. Não há nenhum relato épico a fazer. Num
filme inspirado no assalto ao cofre do governador Adhemar de Barros, por
exemplo, a atriz escalada para o papel de Dilma jogaria no time dos
coadjuvantes. Segundo relatórios da polícia, coube-lhe administrar a
distribuição de dinheiro, providenciar esconderijos e comprar um Fusca. Dilma
só admite a aquisição do carro. O tom de voz insinua que fez coisas de que até
Deus duvida.
“Ela é uma das molas mestras dos esquemas revolucionários”, decidiu
o delegado Newton Fernandes na coleção de perfis deliberadamente superlativos
de militantes da VAR-Palmares. Convinha valorizar a supressão de qualquer
retrato nos cartazes dos procurados. O promotor militar, encarregado de
denunciar a organização, venceu o festival da hipérbole ao enxergar na jovem de
22 anos “a Joana d’Arc da subversão”, “a papisa da guerrilha”, “uma figura
feminina de expressão tristemente notável”.
Presa em janeiro de 1970, Dilma foi submetida a torturas e ficou
três anos na cadeia. Nesse período, mais de 100 presos políticos foram
embarcados para o exílio em troca da libertação de embaixadores sequestrados.
Ninguém considerado importante ficou fora das listas de prisioneiros a
resgatar. Ela não entrou em nenhuma.
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