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CARREGAR BABÁ DE BRANCO A RESTAURANTE
É SINAL DE QUE VOCÊ É UM RICO BOBO
A babá, quase sempre vestida de branco,
tenta fingir que não odeia aquilo tudo
Por Luiz Felipe Pondé
Folha Online – 24/04/2017
Sempre se soube que sucesso desumaniza. Só gente iniciante não sabe
disso. Sucesso é muito bom. Não me entenda mal. Desumaniza porque pode fazer
você achar que você é o máximo em tudo, quando o foi apenas em algo em
particular, e, às vezes, esse algo é bem banal se tomarmos a totalidade das
atividades e experiências humanas.
Mas o sucesso não só desumaniza, ele pode deixar você ridículo se
você não perceber que a melhor forma de conviver com o sucesso é fingir que ele
não existe. Pra você e para os outros. Eu sei que é difícil, então melhor
consultar um profissional do ramo. Existem alguns bons por aí. Ouvi dizer que
existem até alguns workshops que ensinam você a não ser um jovem de sucesso
ridículo por causa do próprio sucesso. Lúcifer foi o primeiro jovem de sucesso
bobo da história. E acabou ficando com o porão.
Quando o sucesso atinge você muito cedo na vida, a chance de você
virar uma besta arrogante é enorme.
A juventude já é "um sucesso" em si, apesar de temporário
e condenado à extinção com os anos. Quando associada a dinheiro ganho (ou
herdado e ganho), essa tendência é reforçada. Quando a esse processo é
adicionado o acesso a muita informação, mesmo que picada, superficial, mas
abundante, ao simples toque de um rápido clique "mobile", você pode
ver diante dos olhos o fenômeno tão discutido hoje em recursos humanos: jovens
que estão sempre diminuindo todo ser humano que chegou ali antes dele. O pior é
que tem gente de 60 anos que acha que se humilhando diante deles, dizendo que
"o mundo é dos jovens", receberá um pouco de misericórdia. Bobinhos.
Muito disso é culpa dos pais, como bem mostra a psicóloga americana
Jean Twenge em sua obra. "Generation Me" e "Narcissism Epidemic",
dois de seus títulos, mostram bem como crianças criadas por pais que sempre as
acharam o máximo, e, com o tempo, passaram a invejar a juventude delas
(principalmente as mães), facilmente se transformam em jovens arrogantes e
crentes de que abafam porque foram à Mongólia nas férias. Essa moçada cresceu
achando mesmo que as opiniões que acumulou ao longo dos poucos anos de leitura
rápida é, de fato, relevante. Pouca experiência de vida associada a muito
dinheiro e a muita "cultura mobile", pode dar em várias faces
ridículas do sucesso.
E quando essa turma tem filhos (se os tem...)? Surgirá a babá de
branco em meio aos restaurantes de gente rica. Carregar uma babá de branco para
um restaurante é sinal de que você tocou o fundo do poço da babaquice de rico.
Vejamos a cena.
E, assim, chegaremos a uma outra face ridícula do sucesso. Essa você
vê em restaurantes, clubes e aeroportos. Trata-se desses casais com um filho só
que carrega uma babá a tiracolo.
O pai, com aquela cara de quem realmente acredita que tem a mulher
na mão porque dá Chanel pra ela aos 35 anos de idade. Um daqueles descritos no
parágrafo acima. Logo descobrirá o efeito devastador e purificador do tédio
feminino – aquele mesmo que dizem por aí que é culpa do patriarcalismo.
Risadas?
Aliás, o patriarcalismo também é culpado pelo capitalismo, pela
poluição ambiental, pela Inquisição e pelo fato da gravidade atrair corpos
humanos. A mãe, com aquela dureza advinda de muitas bolsas Chanel e muito
tédio, controla sua babá com um simples olhar a distância.
A babá, quase sempre vestida de branco, com aquele rosto cheio de
mal-estar e vergonha, tenta fingir que não odeia aquilo tudo. Corre atrás do
pequeno (miúdo, como diriam nossos irmãos portugueses) de um lado para o outro,
segurando seu iPad.
O pequeno, aluno da Saint Paul ou de uma Waldorf da moda, logo dará
bolsas Chanel ou se for uma pequena, as ganhará.
Mas, mesmo com rosto de mal-estar e vergonha por estar entre
"gente rica", nossa babá suporta estoicamente a humilhação da roupa
branca que não é de médica. Mas, quando se precisa de dinheiro, se precisa de
dinheiro, coisa que em nosso mundo de plástico se esqueceu.
A pergunta é: como alguém não ensina para essa gente brega que não
se leva babá pra restaurantes?
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