TEMER; CÁLCULO POLÍTICO (FOTO: GOOGLE) |
TEMER
DERRAPA FEIO MAIS UMA VEZ
Ao ser
obrigado, mesmo com atraso, a tratar do problema,
Temer o
fez de maneira profundamente infeliz, insensível e desastrosa.
Pesou
nisso tudo o cálculo político
POR
RICARDO NOBLAT
06/01/2017
- 03h07
Depois de um longo silêncio de quatro dias
sobre a chacina de presos em Manaus, o presidente Michel Temer perdeu ontem uma
extraordinária oportunidade de continuar calado. Pelo menos a levar-se em conta
o que disse durante reunião com um grupo de ministros. Disse sobre a morte e o
esquartejamento de 56 presos:
- Eu quero mais uma vez solidarizar-me com as
famílias que tiveram os seus presos vitimados naquele acidente pavoroso que
ocorreu no presídio de Manaus. Nossa solidariedade, portanto, é uma solidariedade
governamental e, tenho certeza, apadrinhada por todos aqueles que aqui se
acham.
Na boa: por mais competente que seja não há
comunicação de governo capaz de favorecer um presidente que chama de “acidente
pavoroso” o que está longe de ter sido um acidente. Pavoroso, foi. Mais do que
pavoroso: foi um horror, um crime bárbaro, que remete às práticas de
aniquilamento usadas pelo Estado Islâmico.
Como chefe da Igreja Católica, e chefe do
Estado do Vaticano, o Papa Francisco referiu-se à chacina como um “acontecimento”
que provocou sua tristeza e preocupação. Não lhe cabia adjetivá-lo. Ou ele não quis fazê-lo por prudência ou
recato. Mas a Temer cabia chamar o que aconteceu pelo seu nome certo – chacina,
massacre, tragédia.
Acidente é um episódio casual, fortuito,
imprevisto, como ensinam os dicionários. Num dos países mais violentos do mundo
onde mais de 50 mil pessoas são mortas a cada ano e 11 Estados registraram
decapitações desde a rebelião no complexo penitenciário de Pedrinhas, em São
Luís, em 2013, acidente pode ter sido a ascensão de Temer à presidência.
Não se atribua o que Temer disse a uma mera
infelicidade na escolha das palavras. Ele é um homem culto, de letras. Sabe
manejar as palavras com propriedade, e disso já deu mostras à farta. Ao taxar
de “acontecimento pavoroso”, ele quis claramente isentar seu governo de
qualquer responsabilidade com o acontecido, e minimizá-lo.
Por recente, é razoável que não se ponha na
conta do governo Temer as 56 mortes de Manaus. Elas devem ser debitadas de preferência
na conta do atual governo do Estado, nas contas dos que o antecederam e dos
governos federais passados que nada fizeram para enfrentar a tragédia de um
sistema carcerário desumano que só alimenta o crime organizado.
Mas ao ser obrigado, mesmo com atraso, a tratar
do problema, Temer o fez de maneira profundamente infeliz, insensível e
desastrosa. Pesou nisso tudo o cálculo político. Faltou-lhe consciência à
altura do cargo que ocupa.
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