DÓRIA EM DIA DE JÂNIO (FOTO: JORNAL DO BRASIL) |
GESTÃO E MARKETING
Serão mais bem sucedidos os prefeitos que forem
de fato bons gestores, que souberem escolher onde gastar,
não percam o tempo deles
de fato bons gestores, que souberem escolher onde gastar,
não percam o tempo deles
- e o nosso - com cenas de marketing
POR MIRIAM LEITÃO
O
GLOBO – 03/01/2017
Quando o prefeito João Dória Júnior
se vestiu de gari, ele estava fazendo um ato que nada tem a ver com governar,
mas sim com propaganda. Se quiser a cidade mais limpa, há muito o que um
prefeito pode fazer além desse gesto de mera demagogia.
Ao decidir acabar com a extravagante
frota de 1.300 carros que serve ao prefeito, ao secretariado e alto
funcionalismo, Dória faz muito bem. Ele mandou o secretariado andar de Uber ou
de táxi. Quem paga? Se for o cidadão, então é tudo marketing.
Ao dizer que é um “gestor”, o
prefeito de São Paulo está aproveitando a onda antipolítico. Se ele for um bom,
ótimo. Ainda terá que provar, porque sua experiência empresarial é muito
específica.
Quando Crivella anunciou 79 medidas,
ele misturou algumas poucas decisões que pode aplicar rapidamente, como cortes
de cargos em comissão, com ideias que são apenas a rotina de governar, como a
de fixar prazos para que sua equipe faça relatórios ou planos.
Uma das medidas dá prazo de 15 dias
para a apresentação de um plano para a programação do carnaval de rua de 2017.
Outra, encomenda relatório de como está o sistema de prevenção e alerta de
deslizamentos por causa das chuvas. Isso deveria ter sido feito na transição. O
problema é que Crivella teve apenas dois encontros com Paes, um protocolar e
outro na semana da posse.
A ideia de rever as isenções de IPTU
é ótima. O prefeito foi um dos autores da proposta aprovada para que igrejas
não paguem IPTU.
Agora é lei federal.
Na quarta-feira passada, Eduardo Paes
disse para Crivella que, quando não aumentou o ônibus atendendo a pedido do
então ministro Mantega, ele recebeu o alerta de um economista amigo dele de que
iria se arrepender. E de fato se arrependeu.
Contou isso para avisar a Crivella
que elevaria a tarifa. No dia seguinte, Crivella criticou a decisão de Paes, e
ele voltou atrás. Agora o prefeito do Rio só precisa aprender que isso
significa gasto.
Pior fez Dória, que tomou a mesma
decisão e depois foi pedir ajuda ao governo Federal porque terá uma enorme
despesa com o subsídio.
Em Porto Alegre, na semana passada, o
então prefeito José Fortunati e o prefeito ainda não empossado Nelson Marchezan
Jr. disputaram o IPTU. Ficou um verdadeiro “quem dá mais”. Fortunati oferecia
12% de desconto para quem antecipasse, Marchezan ofereceu 15% para quem pagasse
em janeiro. Era uma queda de braço pelo que há de mais escasso hoje nas
prefeituras: receitas.
A dívida dos municípios com o Tesouro
repete o mesmo quadro das dívidas dos estados: devem mais os municípios maiores
e, portanto, foram mais beneficiados pela troca dos indexadores no governo
Dilma. São Paulo foi o que mais ganhou porque na época da primeira negociação,
no governo Fernando Henrique, escolheu uma taxa de juros maior para não ter que
entregar ativos para a privatização.
O economista Fábio Klein, da
Tendências Consultoria, explica que há enormes diferenças entre municípios: —
Muitos municípios tiveram uma queda grande de endividamento por causa da
mudança do indexador da dívida, há dois anos. Antes, era IGP-DI mais 6% ou mais
9%. Agora, é IPCA mais 4%, ou a Selic, o que for menor.
No caso de São Paulo, o estoque da
dívida sobre a Receita Corrente Líquida caiu de 182% para 80%, no Rio, de 75%
para 46%, em Belo Horizonte, de 53% para 33%, em Curitiba, de 8% para 4%. Quem
estava com dívida mais baixa foi menos beneficiado.
Uma grande fonte de recursos dos
municípios maiores é o ISS. O problema, disse Klein, é que o setor de serviços
vai crescer ainda menos do que o PIB. Não será um ano fácil.
Serão mais bem sucedidos os prefeitos
que forem de fato bons gestores, que souberem escolher onde gastar, que não
percam o tempo deles — e o nosso — com cenas de marketing e que tenham novas
propostas para superar os velhos problemas das cidades.
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