SUPERLOTAÇÃO (FOTO: NOTIBRAS) |
SE ARREPENDIMENTO MATASSE...
A elite bem informada do país conhece os números
do desastre cavado
por Dilma
nos últimos anos com o apoio de Lula e do PT,
mas o povão, não
POR RICARDONOBLAT
2/01/2017 - 03h20
Chegará o dia, se é que esse dia
ainda não chegou, que o presidente Michel Temer baterá contrito com a mão no
peito e rezará o “minha culpa, minha máxima culpa” por ter sonegado aos
brasileiros informações vitais sobre as dimensões da herança maldita deixada
pelos dois governos da ex-presidente Dilma Rousseff.
Com extraordinária timidez, quase
como se pedisse desculpas por fazê-lo, ele, ontem, ao chamar de “pavorosa
matança” o que antes classificara de “acidente pavoroso” ao referir-se ao
assassinato bárbaro de presos em Manaus, forneceu uma pálida ideia do descaso
dos governos passados com a trágica situação do sistema carcerário brasileiro.
No país com o quarto maior número de
presos do mundo, só atrás dos Estados Unidos, China e Rússia, gastou-se pouco,
quase nada, na construção de novas penitenciárias ou na reforma das existentes.
Em 2014, por exemplo, o Orçamento da União reservou para o Fundo Penitenciário
Nacional R$ 493,9 milhões. Gastou-se
R$ 51,2 milhões.
No ano seguinte, a dotação para o
fundo foi de R$ 542,3 milhões, mas
apenas foram pagas despesas da ordem de R$
45,8 milhões. No ano passado, a partir de maio com Temer na presidência
interina da República, a dotação atualizada do fundo foi de R$ 2,6 bilhões, e a despesa liquidada
alcançou R$ 1,1 bilhão.
- São condições desumanas em que os
presos se acham. Há presídios em que cabem 600 pessoas com 1.600 pessoas, não
é? — declarou Temer na abertura de reunião ministerial no Palácio do Planalto
sobre retomada de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele
promete construir mais cinco presídios até o final do próximo ano.
Por si só, a construção de mais
presídios de pouco adiantará para conter o crescimento da criminalidade. Mas é
bom saber que temos hoje um presidente que se diz preocupado com o problema e
disposto a enfrentá-lo. Os anteriores também se disseram preocupados, mas não
foram muito além disso. Erguer presídios não atrai votos.
O excessivamente cauteloso Temer
apostou que poderia aplacar a fúria do PT com a deposição de Dilma não fazendo
alarde em torno da herança que ela lhe legou. Herança que por erro ou omissão
ele ajudou a construir na condição de vice-presidente. O passado de oposição
intransigente do PT não recomendava tal aposta.
A elite bem informada do país conhece
os números do desastre cavado por Dilma nos últimos anos com o apoio de Lula e
do PT, mas o povão, não. O silêncio de Temer a respeito disso autoriza muita
gente a pensar que boa parte da culpa pela crise que o país atravessa deve-se
na verdade à ausência de um governo melhor.
Não é fato que o governo Temer seja
tão ruim ou pior do que foram os dois governos de Dilma. Longe disso. Mas corre
o risco de parecer.
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