FOTO: ARQUIVO GOOGLE |
MEU
QUINTANA
Frases
que fiz para o mais querido dos poetas
POR RAUL
DREWNICK
EM
ESCREVIVER – PORTAL DO ESTADÃO
EM 06/01/2017
| 08h58 0
+ Dizer Quintana ou dizer poesia são duas
formas de expressar o mesmo mágico fenômeno que mantém cada vez mais leitores
agradecidos e fascinados.
+ Desde o dia em que comecei a falar de Mario
Quintana, os passarinhos passaram a me procurar para conversar sobre o sol e as
flores.
+ A poesia, em Mario Quintana, se manifestava
até nas vírgulas. Nas reticências ele era capaz de englobar uma tarde inteira
de outono, com seus frutos e pássaros.
+ Posso imaginar o menino Mario Quintana
fazendo mil travessuras, menos a de sair
com um estilingue caçando passarinhos.
+ Se Mario Quintana morasse no Rio, teria
descoberto, bem antes que Tom e Vinicius, a garota de Ipanema.
+ Uma das especialidades de Mario Quintana,
talvez a mais notável, era lembrar às pessoas que a maior alegria dos lábios
não é transmitir palavras. É sorrir.
+ Os melhores amigos do menino Mario Quintana
eram as gurias de olhos sonhadores e os passarinhos metidos a barítonos.
+ Penso em Mario Quintana como se fosse um
homem parado numa esquina de Porto Alegre, cortando e distribuindo fatias de
sol. Fininhas, naturalmente, que são as mais saborosas.
+ Se um dia eu for para Pasárgada, sei que lá
estará Mario Quintana. Será ele quem me apresentará ao rei, se o rei não for
ele mesmo.
+ Mario Quintana tinha o maravilhoso e
confessável vício da beleza.
+ A poesia de Mario Quintana é como o cheiro
morno da primeira fornada de pãezinhos do dia, que o vento aspira avidamente,
misturado com o aroma orvalhado das flores.
+ Mario Quintana é um desses irresistíveis
piscares de olhos, uma dessas lentas ajeitadas de cabelos que a poesia usa
quando quer se mostrar mais graciosa.
+ A beleza dos textos de Mario Quintana tem
sempre um quê de menina travessa encarapitada numa árvore, mastigando uma fruta
e cuspindo os carocinhos.
+ Gostar de Mario Quintana é um desses gostares
que se assumem logo à primeira vista.
+ Se Mario Quintana fosse chuva, seria dessas
que caem amenas, como se temessem afogar uma formiga, afundar um barquinho de
papel ou despetalar uma rosa.
+ Para Mario Quintana, fazer poesia era tão
natural quanto respirar, porém muito mais prazeroso.
+ Com Mario Quintana a beleza se sentia em
casa, como um gato na poltrona predileta.
+ Mario Quintana era um passarinho que
assobiava Lupicínio.
RAUL
DREWNICK é jornalista. No currículo, tem 32 anos de Estadão e 20 de revista
Visão. Vinte e três livros, a maioria para o público jovem. Como cronista,
escreveu para o Estadão e para as revistas Veja e Cláudia. Dois livros de
crônicas: Antes de Madonna (Editora Olho Dágua, 1994) e Pais, filhos e outros
bichos (Editora Lazuli/Companhia Editora Nacional, 2006), além de participar da
antologia Cronistas do Estadão, 1991, na qual se reúnem cronistas dos mais de
cem anos de vida do jornal.
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Lando, se um dia formos a Pasárgada, tomaremos um chimarrão com o Quintana. E ele nos contará sua trajetória de passarinho.
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