sábado, 7 de janeiro de 2017

CRÔNICA: RAUL DREWNICK

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FOTO: ARQUIVO GOOGLE

MEU QUINTANA

Frases que fiz para o mais querido dos poetas

POR RAUL DREWNICK
EM ESCREVIVER – PORTAL DO ESTADÃO
EM 06/01/2017 | 08h58 0


+ Dizer Quintana ou dizer poesia são duas formas de expressar o mesmo mágico fenômeno que mantém cada vez mais leitores agradecidos e fascinados.

+ Desde o dia em que comecei a falar de Mario Quintana, os passarinhos passaram a me procurar para conversar sobre o sol e as flores.

+ A poesia, em Mario Quintana, se manifestava até nas vírgulas. Nas reticências ele era capaz de englobar uma tarde inteira de outono, com seus frutos e pássaros.

+ Posso imaginar o menino Mario Quintana fazendo mil  travessuras, menos a de sair com um estilingue caçando passarinhos.

+ Se Mario Quintana morasse no Rio, teria descoberto, bem antes que Tom e Vinicius, a garota de Ipanema.

+ Uma das especialidades de Mario Quintana, talvez a mais notável, era lembrar às pessoas que a maior alegria dos lábios não é transmitir palavras. É sorrir.

+ Os melhores amigos do menino Mario Quintana eram as gurias de olhos sonhadores e os passarinhos metidos a barítonos.

+ Penso em Mario Quintana como se fosse um homem parado numa esquina de Porto Alegre, cortando e distribuindo fatias de sol. Fininhas, naturalmente, que são as mais saborosas.

+ Se um dia eu for para Pasárgada, sei que lá estará Mario Quintana. Será ele quem me apresentará ao rei, se o rei não for ele mesmo.

+ Mario Quintana tinha o maravilhoso e confessável vício da beleza.

+ A poesia de Mario Quintana é como o cheiro morno da primeira fornada de pãezinhos do dia, que o vento aspira avidamente, misturado com o aroma orvalhado das flores.

+ Mario Quintana é um desses irresistíveis piscares de olhos, uma dessas lentas ajeitadas de cabelos que a poesia usa quando quer se mostrar mais graciosa.

+ A beleza dos textos de Mario Quintana tem sempre um quê de menina travessa encarapitada numa árvore, mastigando uma fruta e cuspindo os carocinhos.

+ Gostar de Mario Quintana é um desses gostares que se assumem logo à primeira vista.

+ Se Mario Quintana fosse chuva, seria dessas que caem amenas, como se temessem afogar uma formiga, afundar um barquinho de papel ou despetalar uma rosa.

+ Para Mario Quintana, fazer poesia era tão natural quanto respirar, porém muito mais prazeroso.

+ Com Mario Quintana a beleza se sentia em casa, como um gato na poltrona predileta.

+ Mario Quintana era um passarinho que assobiava Lupicínio.

RAUL DREWNICK é jornalista. No currículo, tem 32 anos de Estadão e 20 de revista Visão. Vinte e três livros, a maioria para o público jovem. Como cronista, escreveu para o Estadão e para as revistas Veja e Cláudia. Dois livros de crônicas: Antes de Madonna (Editora Olho Dágua, 1994) e Pais, filhos e outros bichos (Editora Lazuli/Companhia Editora Nacional, 2006), além de participar da antologia Cronistas do Estadão, 1991, na qual se reúnem cronistas dos mais de cem anos de vida do jornal.


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Um comentário:

  1. Lando, se um dia formos a Pasárgada, tomaremos um chimarrão com o Quintana. E ele nos contará sua trajetória de passarinho.

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