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O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Uso a palavra
para compor meus silêncios.
Não gosto das
palavras
fatigadas de
informar.
Dou mais
respeito
às que vivem
de barriga no chão
tipo água
pedra sapo.
Entendo bem o
sotaque das águas.
Dou respeito
às coisas desimportantes
e aos seres
desimportantes.
Prezo insetos
mais que aviões.
Prezo a
velocidade
das
tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
um atraso de nascença.
Eu fui
aparelhado
para gostar
de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é
maior do que o mundo.
Sou um
apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas
moscas.
Queria que a
minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não
sou da informática:
eu sou da
invencionática.
Só uso a
palavra para compor meus silêncios.
O FAZEDOR DE AMANHECER
Sou leso em
tratagens com máquina.
Tenho
desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a
minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena
manivela para pegar no sono.
Um fazedor de
amanhecer
para
usamentos de poetas
E um
platinado de mandioca para o
fordeco de
meu irmão.
Cheguei de
ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas
pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado
de idiota pela maioria
das
autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que
fiquei um tanto soberbo.
E a glória
entronizou-se para sempre
em minha
existência.
Manoel
de Barros
(1916-1914) recebeu, entre outros, os seguintes prêmios:
-- Prêmio
Orlando Dantas (1960)
-- Prêmio da
Fundação Cultural do Distrito Federal (1969)
-- Prêmio
Nestlé (1997)
-- Prêmio
Cecília Meireles (literatura/poesia), em 1998
(FONTE: PENSADOR/UOL)
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