FOTOGRAFIA: CLÓVIS CAMPÊLO |
DUAS OU TRÊS COISAS
QUE EU SEI SOBRE ELAS
(Por Clóvis Campêlo) Como pessoa do sexo masculino,
muitas vezes não me sinto à vontade para discutir ou opinar sobre questões que
dizem mais respeito às mulheres do que aos homens.
O aborto, por exemplo. Eu pessoalmente
sou contra, mas admito que que cabe às mulheres decidirem sobre o que fazer com
o seu corpo e com o que ele abriga.
A minha posição contra o aborto,
porém, não se prende a nenhuma questão moral ou religiosa.
Diz respeito apenas às amplas
possibilidades que as mulheres têm hoje de evitar a gravidez.
Deixar-se engravidar, portanto, pode
ser um ato de extrema irresponsabilidade completamente evitável. Pode ser uma
aposta na esperteza e na impunidade.
Uma outra questão séria para mim, e
essa me envolve diretamente como marido, pai e avô, é a questão da divisão do
trabalho na família.
Para mim, caros amigos, a divisão do
trabalho no lar reflete simplesmente a divisão do trabalho na sociedade em que
vivemos.
Reflete a estrutura vertical do poder
instituída no aparelho estatal, nas entidades privadas e até mesmo nas
sociedades religiosas.
O poder é privilégio de poucos. Assim
sendo, repetimos o adágio popular: "Manda quem pode e obedece quem tem
juízo".
Não é só dentro do lar que as pessoas
têm a sua força de trabalho explorada.
Assim sendo, embora tenha sido
permitido às mulheres, ao longo dos últimos tempos, por uma imposição do
capitalismo que sempre precisa se reciclar para continuar lucrando, ocupar determinados
espaços que antes eram só dos homens, não se repensou a questão da divisão do
trabalho na família simplesmente por que isso não interessa ao sistema.
Penso que é de pleno direito as
reclamações e questionamentos femininos. Penso também que nós, homens,
precisamos nos reciclar e adotar posturas mais participativas na divisão desse
trabalho incessante e necessário.
Quando as mulheres têm dinheiro e
poder, porém, transferem essa carga de trabalho a outras mulheres ou mesmo
homens, pagando por isso e repetindo o esquema do sistema.
Toda essa visão de exploração do
outro está entranhada em nós, imposta pela educação que recebemos dentro e fora
do lar. Assim, as próprias mulheres também são culpadas por isso.
É preciso mudar. Sempre.
Já se disse que o preço da liberdade
é a eterna vigilância. Eu digo que o preço do equilíbrio é o eterno movimento e
o preço da justiça é a eterna concessão. Quem ama concede e compartilha. Quem
não consegue amar, explora o outro e se justifica pelos modelos disponíveis.
É claro que conceder e partilhar
também implica em perder.
Não se pode querer tudo ao mesmo
tempo agora.
Nós, homens, não somos cachorros para
sermos amestrados como tal. Somos seres pensantes e temos o direito de
questionar e modificar os costumes de forma consciente e humanizada.
Recife, 2008
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