terça-feira, 17 de janeiro de 2017

A COLUNA DO CLÓVIS

FOTOGRAFIA: CLÓVIS CAMPÊLO

DUAS OU TRÊS COISAS
QUE EU SEI SOBRE ELAS

(Por Clóvis Campêlo) Como pessoa do sexo masculino, muitas vezes não me sinto à vontade para discutir ou opinar sobre questões que dizem mais respeito às mulheres do que aos homens.

O aborto, por exemplo. Eu pessoalmente sou contra, mas admito que que cabe às mulheres decidirem sobre o que fazer com o seu corpo e com o que ele abriga.

A minha posição contra o aborto, porém, não se prende a nenhuma questão moral ou religiosa.

Diz respeito apenas às amplas possibilidades que as mulheres têm hoje de evitar a gravidez.

Deixar-se engravidar, portanto, pode ser um ato de extrema irresponsabilidade completamente evitável. Pode ser uma aposta na esperteza e na impunidade.

Uma outra questão séria para mim, e essa me envolve diretamente como marido, pai e avô, é a questão da divisão do trabalho na família.

Para mim, caros amigos, a divisão do trabalho no lar reflete simplesmente a divisão do trabalho na sociedade em que vivemos.

Reflete a estrutura vertical do poder instituída no aparelho estatal, nas entidades privadas e até mesmo nas sociedades religiosas.

O poder é privilégio de poucos. Assim sendo, repetimos o adágio popular: "Manda quem pode e obedece quem tem juízo".

Não é só dentro do lar que as pessoas têm a sua força de trabalho explorada.

Assim sendo, embora tenha sido permitido às mulheres, ao longo dos últimos tempos, por uma imposição do capitalismo que sempre precisa se reciclar para continuar lucrando, ocupar determinados espaços que antes eram só dos homens, não se repensou a questão da divisão do trabalho na família simplesmente por que isso não interessa ao sistema.

Penso que é de pleno direito as reclamações e questionamentos femininos. Penso também que nós, homens, precisamos nos reciclar e adotar posturas mais participativas na divisão desse trabalho incessante e necessário.

Quando as mulheres têm dinheiro e poder, porém, transferem essa carga de trabalho a outras mulheres ou mesmo homens, pagando por isso e repetindo o esquema do sistema.

Toda essa visão de exploração do outro está entranhada em nós, imposta pela educação que recebemos dentro e fora do lar. Assim, as próprias mulheres também são culpadas por isso.

É preciso mudar. Sempre.

Já se disse que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Eu digo que o preço do equilíbrio é o eterno movimento e o preço da justiça é a eterna concessão. Quem ama concede e compartilha. Quem não consegue amar, explora o outro e se justifica pelos modelos disponíveis.

É claro que conceder e partilhar também implica em perder.

Não se pode querer tudo ao mesmo tempo agora.

Nós, homens, não somos cachorros para sermos amestrados como tal. Somos seres pensantes e temos o direito de questionar e modificar os costumes de forma consciente e humanizada.

Recife, 2008

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