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EFEITO TEQUILA À VISTA
POR JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
PORTAL
DO ESTADÃO
09/01/2017
| 00h03
Falências disparando, vendas caindo e
empregos sumindo – mas não para todos. Três instituições prosperam e se
multiplicam na crise: partidos políticos, igrejas e, agora, facções criminosas.
Cada uma no seu nicho de mercado e com estratégias distintas, mas usufruindo do
sucesso que escapa a governos e empresas. Em comum, mantêm uma relação especial
com o estado. Embora mantenham contabilidade detalhada, nenhuma recolhe
impostos.
Há 35 partidos registrados
oficialmente, e outros 50 na fila para ganharem acesso a lugar na urna
eletrônica, ao horário de propaganda no rádio e TV e, mais importante, ao Fundo
Partidário. O Congresso está tentando diminuir a concorrência – afinal, há que
repartir tempo e dinheiro com os novatos -, mas, como mostraram os repórteres
Mariana Diegas e Valmar Hupsel Filho, isso não intimidou os candidatos a
cacique partidário.
Todos disseram não estar nem aí para
a cláusula de barreira que os grandes partidos lhes querem impor. Seguem
tentando lograr seu registro e, assim, usufruir da isenção fiscal e – entre
outros benefícios – acesso à listagem com nome e dados pessoais de todos os
eleitores brasileiros. Sim, inclusive os seus.
Partidos vendem esperança de uma vida
melhor – quando não para todos, ao menos para seus filiados. Se não der para
transformar a sociedade, que transforme a vida dos caciques e viabilize algum
benefício para os seus chegados – um cargo público, talvez. Acenar com a
prosperidade e uma virada na vida também é o atrativo de outra instituição em
alta, com ou sem crise.
Pesquisa recente do Datafolha reconfirmou que igrejas
evangélicas pentecostais e neopentecostais são as mais bem sucedidas na
conquista de novos fiéis. Em duas décadas, duplicaram sua participação no
mercado religioso. De 10% dos brasileiros em 1994 arrebanharam 22% em 2014 – e
mantêm essa fatia desde então. Assim como os partidos, uma característica
fundamental das igrejas emergentes é a sua pulverização.
Embora as denominações mais populares
reúnam milhões de fiéis, outras dezenas de milhões de pessoas se definem
genericamente como “evangélicos” ou pertencentes a um de centenas de grupos
neopentecostais que, isoladamente, são pequenos demais para aparecerem nas
tabelas do IBGE – mas, em conjunto, estão cada vez mais presentes no dia-a-dia
da população.
Seu crescimento denota a incapacidade
do estado e do mercado de oferecerem a um segmento populacional tão expressivo
oportunidades suficientes de ascensão social e econômica. O dízimo promete
suprir aquilo que os impostos não cobrem.
Nos últimos anos, explorando o
crescimento das franjas mais marginalizadas do sistema, o crime se organizou a
partir dos presídios. Segundo o repórter Alexandre Hisayasu, são pelo menos 27
facções que orbitam e guerreiam em torno das duas principais: o PCC e o Comando
Vermelho. Também cobram mensalidade dos associados (em troca de “proteção”),
movimentam centenas de milhões de reais por ano e buscam monopólio, do
narcotráfico.
A resposta dos governos estaduais e
federal foi complacente. Crime organizado derruba taxas de homicídio – porque
inibe disputas paroquiais entre bandidos -, até irromper em massacres, como os
de policiais em 2006 e os de detentos em 2016. Nessas crises, a complacência
vira incapacidade. Mesmo sabendo que matanças viriam, as autoridades não
conseguiram evitá-las.
É esperado que, em suas trajetórias
emergentes, as facções criminosas e a política partidária se cruzem – como já
se cruzaram denominações religiosas e partidos. Para antever no que isso vai
dar, basta olhar para outros países latino-americanos.
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