sábado, 7 de janeiro de 2017

A COLUNA DO CLÓVIS

FOTO: CLÓVIS CAMPÊLO/2008

É DE FAZER CHORAR!

(Por Clóvis Campêlo) No carnaval do Recife nunca tem gato na tuba. O som rola livre e solto e nas escalas de dó, fá e sol os músicos executam com maestria os compassos seguros da marcação do frevo.

Porém, se na tuba nunca teve gato, já teve gajo executando a inspiração gaiata de parodiar o lema positivista do nosso símbolo pátrio. Deu bandeira. “Desordem e retrocesso” foi a palavra de ordem.

Para usar uma palavra do agrado do poeta caruaruense Demóstenes Felix, eu diria que o Carnaval é DESCONSTRUÇÃO.

Carnaval é permissividade, e assim sendo faz com que as pessoas dispam-se dos estereótipos e passem a viver, de forma lúdica, outros personagens.

No Carnaval, podemos até mesmo assumir o papel de antípoda de nós mesmos, sermos o OUTRO. E sendo o outro, encurtarmos as distâncias conceituais, fazer cair por terra as máscaras do faz-de-conta, as convenções e as normas que regem a sociedade.

Assim sendo valem as sátiras sociais, as críticas políticas, a mudança dos costumes, a transmutação do indivíduo. Vale a catarse.

Por isso, é de fazer chorar quando o dia amanhece e obriga o frevo a acabar.

Por isso, a quarta-feira de cinzas é sempre tão ingrata: retornamos à realidade, repomos as indumentárias neurotizantes do dia-a-dia, reassumimos os papéis que nos são impostos pela vida e aos quais nem sempre escolhemos.

Enfim, deixando de ser o outro, voltamos a ser nós mesmos e nós perdemos novamente. Deixamos de ser curvas e voltamos e ser retas.

Assim, reconstituímos a “ordem” e o “progresso” até que venha o próximo carnaval.

***

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