terça-feira, 17 de janeiro de 2017

CRÔNICA: CARLOS HEITOR CONY


Resultado de imagem para IMAGENS HOMEM FUMANDO CHARUTO
FOTO: ARQUIVO GOOGLE

CHARUTO PERDIDO

POR CARLOS HEITOR CONY
UOL – 07/06/2005

Todos sabem que o Rio é o paraíso das balas pedidas. Não há dia em que não morre alguém por causa delas. Não apenas nas ruas, mas até mesmo dentro de casa, que a Constituição em vigor considera o "abrigo inviolável do cidadão".

Por falar em cidadão, sempre me considerei um exemplar abominável da espécie. Detesto tudo o que é politicamente correto mas procuro não ser mal educado --o que nem sempre consigo. E aí vai uma confissão que todos considerarão infame.

Fumo charutos desde os 20 anos, médicos, parentes, amigos, eu próprio, tudo fizemos para deixar o vício. Desanimei e assumi. Outro dia, depois de um jantar em casa de cerimônia, fui para a varanda de um apartamento na Avenida Atlântica. Puxava as tragadas do meu Romeo y Julieta, bitola Churchill, quando uma dama que os jornais chamam "da alta sociedade", veio falar comigo.

Não podia recebê-la de charuto na boca ou na mão. Não havia cinzeiros, todos ali eram saudavelmente antitabagistas. Jogar o charuto no chão seria porcaria e falta de respeito para com o dono da casa. Não tive outro jeito. Disfarcei o que pude e atirei o charuto para a calçada, nove andares abaixo.

Só depois, encostado na amurada, conversando com a dama sobre o caso do Garganta Profunda, olhei para a calçada e vi um cidadão fazendo gestos alucinados e proferindo, para cima, as palavras que costumamos dizer em situações semelhantes. Fora atingido por um charuto perdido.

Temi que ele viesse averiguar de onde partira a agressão. Fatalmente chegaria a mim. Disse para a dama o que me parecia de mais profundo sobre o Garganta Profunda, pedi licença e fui para o lavabo. Onde fiquei o tempo que me pareceu seguro para que a indignação do homem, lá embaixo, passasse e ele fosse embora, tendo o que contar sobre a decadência dos bons costumes.


***

LEIA TAMBÉM

Resultado de imagem para IMAGENS BATIZADO


-- Ananias: no começo, eu dizia “não quero” e ponto final. Mafalda insistia para que não fosse tão direto, grosseiro. Passei a adotar uma estratégia. Se os pais são católicos, digo que somos evangélicos. Se eles são evangélicos, digo que não saímos do terreiro... 
Por Orlando Silveira

http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2017/01/nem-pensar-ananias.html#comment-form

Nenhum comentário:

Postar um comentário