"SÃO OS OCIOSOS QUE TRANSFORMAM O MUNDO, POIS OS OUTROS NÃO TÊM TEMPO" ALBERT CAMUS POR ROQUE SPONHOLZ PESSOAL, DIA 1 DE FEVEREIRO ESTAREMOS DE VOLTA ABRAÇÃO (OS) |
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
ATÉ LÁ
CRÔNICA: WALCYR CARRASCO
ILUSTRAÇÃO: FRAGA |
A DURA VIDA DE EX-RICOS
O ex-rico tem vantagens que o povo comum não tem.
Sempre sobra um parente com casa à beira-mar
POR WALCYR CARRASCO
ÉPOCA
DIGITAL – 19/07/2016
Em um país como o nosso, onde
mudanças econômicas são tsunamis, fortunas vão e vêm. Quando adolescente,
conheci várias famílias que perderam tudo no café, em São Paulo. Lembro de um
palacete onde até os vidros eram importados da França. Vitrines repletas de
biscuits. Um dia fiquei para jantar. Serviram... uma espiga de milho cozida
para cada um! Juro. Já relatei o fato até em novelas. Surpreso, pensei: na casa do meu pai, ferroviário, ao
menos tinha arroz e feijão! Quando estive em Ilhéus, conheci uma família que
fez fortuna no auge do cacau. Uma das senhoras havia sido pianista e conhecido
personalidades da Semana de 22, em São Paulo. Havia um piano na sala e tentei
ser gentil:
– Toque para nós.
Desastre! O piano estava quebrado.
Ela tentou arrancar algum som. Não havia fundos nem para consertar o piano!
Uma nova casta de ex-ricos vai e vem.
É a dos executivos desempregados. Empresas contratam diretores a peso de ouro.
Em certo momento, ou quebram, ou são pegas pela Justiça, ou decidem renovar o
quadro. O diretor sai, próximo aos 60 anos. Tem um bom dinheiro. Título do
Paulistano, um dos clubes mais elegantes de São Paulo. Mora numa cobertura. Só
não se preocupou muito em formar renda, a vida era muito elegante para isso.
Cria uma empresa, em geral de importação e exportação. Como alto executivo,
está acostumado a uma estrutura. Aluga um andar. Contrata secretárias. Compra
móveis. Instala-se com elegância. Enquanto seu concorrente, que vem de baixo,
atende ele próprio o telefone e talvez trabalhe na mesa da cozinha da mãe. A
nova empresa não dá prejuízo. Vai para o escambau. O leão que antes comandava
centenas, milhares de funcionários, vai para casa, aguardar a mulher voltar do
cabeleireiro.
Mas é como vício. Há um amigo que
sempre diz:
– Dinheiro vicia mais rápido que
cocaína.
Hábitos são difíceis de perder.
Vendem um quadro, que a mulher herdou. Gastam para esquiar na Europa. Entram no
cheque especial para jantar fora, com amigos. Conheci a ex-CEO de uma
corporação. Nas compras, se gostava de um modelo, comprava um de cada cor.
Saiu. Achou que encontraria recolocação rápida. Dois anos depois, estava ela
mesma vendendo roupas feitas no porta-malas do carro. Um amigo, ex-rico,
estudou nos melhores colégios. Fala francês perfeitamente. O motor do carro,
blindado, fundiu. Só lhe resta usar o carro que o pai, ainda bem de vida,
comprou para os dias de rodízio. Modelo simples. Tem vergonha.
Ex-rico sente que a perda do dinheiro
é defeito pessoal. Talvez seus amigos ainda ricos pagassem os jantares. Mas
eles têm vergonha da situação! Começa o discurso.
– Quero uma vida mais simples, cansei
de sair!
– Não fui para a Europa neste ano
porque quero conhecer o Brasil.
Há vantagens, que o povo comum não
tem. Sempre sobra um parente com casa à beira-mar. Às vezes o próprio ex-rico
tem a sua, em um elegante refúgio campestre. Mas vender a casa como, na crise?
Às vezes não paga o condomínio do apartamento. Horror, horror, demite o
motorista. A própria ex-rica leva o cachorro para tomar banho. Diz que prefere,
mas ninguém acredita. Sobra o título do Paulistano. Malha na academia de lá.
Mas, após a malhação, não há dinheiro para um sanduíche! De repente, o
apartamento está para ir a leilão. O antigo superdiretor tenta um emprego mais
simples, com os bons amigos. Não consegue. Pela idade. Vem a explicação.
– Você tem qualificações demais.
Merece coisa melhor.
A empresa contrata um rapaz
promissor, de 30 anos. Enquanto isso, a ex-rica, mulher do ex-diretor, aprende
a fazer as unhas, com a filha. Uma tira a cutícula da outra. Economia até na
manicure!
Na atual crise, há ex-ricos em vários
momentos da curva. A maioria perderá até o apartamento em leilão por falta de
pagar o condomínio. Os mais rápidos se viram. Já vi o ex-presidente de uma
corporação virar taxista. Há os que alugam o apartamento. Mudam-se para o
interior ou para a casa de campo que sobrou. Aos amigos, explicam:
– Quero um estilo de vida mais
simples.
Ou seja, ir a pé até a padaria. É a
salvação. Dinheiro é mesmo como cocaína. Quem deseja conseguir abandonar o
vício monetário e o consumismo, que implica muitos pequenos caros hábitos, precisa
mudar de turma. Mudar para longe é a única saída. Voltar às raízes e ter a tal
vida simples. Mas o ex-rico só se convence quando raspou o tacho. E não sobrou
nem para um último gole de vinho francês.
PALAVRAS E EXPRESSÕES: DEONÍSIO DA SILVA
DONA MARIA I (IMAGENS: ARQUIVO GOOGLE) |
DE ONDE VÊM AS PALAVRAS
NEM TODA MARIA VAI COM AS OUTRAS
Deonísio da Silva conta como a mulher que mandou enforcar Tiradentes
tornou-se
a rainha louca que só saía dos aposentos acompanhada por damas de
companhia
POR DEONÍSIO DA SILVA
BLOG
DO AUGUSTO NUNES
15/01/2017
| 11H17
A Maria desta expressão é a rainha
portuguesa Dona Maria I, mãe de Dom João VI, avó de Dom Pedro I, bisavó de Dom
Pedro II, imperador carioca nascido no bairro de São Cristóvão, e trisavó da Princesa Isabel, a Redentora (assim apelidada por ter abolido a
escravidão).
Quando veio para o Brasil com a
Família Real, em 1808, já tinha perdido o juízo e passou a ser conhecida como A
Rainha Louca. Certamente já tinha alguma avaria no bestunto quando em 1792 prolatou a famosa sentença de enforcar
Tiradentes, esquartejá-lo e fixar pedaços do corpo em postes.
A sentença demorou dezoito horas para
ser lida em praça pública e culminou com o enforcamento e o esquartejamento de
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, no dia 21 de abril de 1792, no Rio
de Janeiro.
Enviada a Ouro Preto num barril de
salmoura e afixada num poste da praça pública, para apavorar eventuais novos
libertadores, a cabeça do herói foi roubada quando o sentinela encarregado de
proteger a relíquia dormiu.
O autor da façanha foi o padre
letrado Manuel da Silva Gatto (com este nome…), que a escondeu em sua casa no
Bairro das Cabeças (bairro predestinado!).
No leito de morte, ele fez a confidência
ao escritor Bernardo de Guimarães, entregando-lhe a relíquia macabra. O autor
de O Seminarista, de Escrava Isaura e de uma paródia pornô de I- Juca Pirama,
de Gonçalves Dias, herdou a casa do padre e enterrou a cabeça no quintal.
Mas quem já estava sem cabeça era a
Rainha Louca. Anos depois desta violência inaudita, as cortes afastaram do
trono a soberana violenta e sanguinária, legando o poder ao príncipe regente,
que depois se tornaria o rei Dom João VI.
Confinada a seus aposentos reais, no
Convento do Carmo, no Rio de Janeiro, a rainha louca só saía dali acompanhada
por diversas damas de companhia, senão aprontava coisas desatinadas.
Quando o povo via o cortejo pelas
ruas, sabia que ela não decidira passear, tinha sido levada. Não parecia mais a
tresloucada soberana que mandara enforcar e esquartejar Tiradentes. Agora era
apenas uma Maria qualquer, sem vontade nenhuma, que era levada a passear com
outras mulheres, muitas das quais chamavam-se Maria também.
E a rainha tornou-se apenas uma Maria
que vai com as outras, expressão desde então aplicada a quem não tem opinião
própria e segue a dos outros. Mas não deixa de revelar um preconceito contra as
mulheres, pois há muitos joões e josés que estão sempre indo com os outros.
Deonísio da Silva é professor, escritor e etimologista
O CANTO DE VÓLIA
IMAGEM: EDGAR DEGAS |
BAILARINA
Ela, por vezes, se sentia assim:
Voando ao vento...
Os passos, os saltos,
A faziam voar,
Viver no seu elemento.
Era pássaro,
Era anjo,
De plumagem nova,
De desejos vários...
Ela, outras vezes, se sentia assim:
Uma árvore centenária...
As raízes, as dores,
A prendiam na terra,
Era cárcere, sofrimento.
Era fera,
Era demônio,
Coberta de andrajos,
De ambiguidades antigas...
Mas tudo o que ela queria
Era voar,
Saltar acima do que lhe foi
destinado,
Rodopiar em vertiginoso bailado,
E dizer para o mundo
Que era dona do seu destino.
05/12/2016
***
Vólia Loureiro do Amaral Lima é paraibana,
engenheira civil, poetisa, romancista e artista plástica.
Autora das obras Aos Que Ainda Sonham (Poesia)
e Onde As Paralelas Se Encontram (Romance).
IMAGENS: DMITRI DANISH
Dmitri Danish nasceu em Kharkov, Ucrânia, em 1966. Sua mãe foi a
primeira a descobrir o seu talento. Viu que ele expressava seus pensamentos,
desejos e sentimentos através das suas criações e começou a se comunicar com o
filho pela cor e pela forma.
Na idade de cinco anos, Danish viveu sua primeira experiência
profissional como pintor, pintava paisagens e retratos de qualidade. Aos 13
anos foi aceito na Escola de Arte de Kharkov e aos 15 registrado no Colégio de
Arte do Estado (1982)
Em 1986 se formou na universidade e começou a ensinar a arte.
Durante seu período universitário pintou paredes de diversos edifícios, casas
de madeira, pequenas lojas, cafés e era tido como um caloroso e acolhedor
pintor de um lugar para bem viver.
Depois de se formar, tornou-se membro da prestigiosa União dos
Artistas da Ucrânia e suas pinturas eram muito elogiadas. Começou, então, a
expor na própria Ucrânia, Rússia e outros países da Europa oriental. Em 2000 o
Museu de Belas Artes de Kharkov fez uma apresentação de suas obras à qual deu o
nome de ‘As cidades e as montanhas” e adquiriu três das suas pinturas que hoje
fazem parte da sua coleção permanente.
Danish tem percorrido a maior parte da Europa desde a abertura das
fronteiras da Rússia, visita cidades e países como era seu sonho desde criança.
Passou algum tempo em Roma, Veneza, Viena e cidades da França, Holanda,
Hungria, Grécia e Turquia.
Hoje reside nos Estados Unidos desde que para lá embarcou em 2005;
ganhou prestígio e admiração nas galerias e museus de arte americanas e
continua a produzir a arte.
FONTE: Michèle
Christine, do blog “Bouquet de Cravos e Conchavos)
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
CRÔNICA: CARLOS HEITOR CONY
FOTO: ARQUIVO GOOGLE |
CHARUTO PERDIDO
POR CARLOS HEITOR CONY
UOL
– 07/06/2005
Todos sabem que o Rio é o paraíso das
balas pedidas. Não há dia em que não morre alguém por causa delas. Não apenas
nas ruas, mas até mesmo dentro de casa, que a Constituição em vigor considera o
"abrigo inviolável do cidadão".
Por falar em cidadão, sempre me
considerei um exemplar abominável da espécie. Detesto tudo o que é
politicamente correto mas procuro não ser mal educado --o que nem sempre
consigo. E aí vai uma confissão que todos considerarão infame.
Fumo charutos desde os 20 anos,
médicos, parentes, amigos, eu próprio, tudo fizemos para deixar o vício.
Desanimei e assumi. Outro dia, depois de um jantar em casa de cerimônia, fui
para a varanda de um apartamento na Avenida Atlântica. Puxava as tragadas do
meu Romeo y Julieta, bitola Churchill, quando uma dama que os jornais chamam
"da alta sociedade", veio falar comigo.
Não podia recebê-la de charuto na
boca ou na mão. Não havia cinzeiros, todos ali eram saudavelmente
antitabagistas. Jogar o charuto no chão seria porcaria e falta de respeito para
com o dono da casa. Não tive outro jeito. Disfarcei o que pude e atirei o
charuto para a calçada, nove andares abaixo.
Só depois, encostado na amurada,
conversando com a dama sobre o caso do Garganta Profunda, olhei para a calçada
e vi um cidadão fazendo gestos alucinados e proferindo, para cima, as palavras
que costumamos dizer em situações semelhantes. Fora atingido por um charuto
perdido.
Temi que ele viesse averiguar de onde
partira a agressão. Fatalmente chegaria a mim. Disse para a dama o que me
parecia de mais profundo sobre o Garganta Profunda, pedi licença e fui para o
lavabo. Onde fiquei o tempo que me pareceu seguro para que a indignação do
homem, lá embaixo, passasse e ele fosse embora, tendo o que contar sobre a
decadência dos bons costumes.
-- Ananias: no começo, eu dizia “não quero” e ponto final. Mafalda insistia para que não fosse tão direto, grosseiro. Passei a adotar uma estratégia. Se os pais são católicos, digo que somos evangélicos. Se eles são evangélicos, digo que não saímos do terreiro...
Por Orlando Silveira
http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2017/01/nem-pensar-ananias.html#comment-form
***
LEIA TAMBÉM
-- Ananias: no começo, eu dizia “não quero” e ponto final. Mafalda insistia para que não fosse tão direto, grosseiro. Passei a adotar uma estratégia. Se os pais são católicos, digo que somos evangélicos. Se eles são evangélicos, digo que não saímos do terreiro...
Por Orlando Silveira
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INSTANTES: ANA ANDRADE
FOTO: WALLED GAD -MAMA ÁFRICA
Antes que o futuro cresça e a idade
aprenda a contar,
quero gastar toda a infância sem
fazer economia!
***
FOTO: GOOGLE
Colhi a chuva
aveludada de fulgor
e a noite se fez de mansidão,
entoando silêncios
cúmplices de sofreguidão.
***
Desmaiada de sorrisos
encolhe-se uma rosa,
seca de silêncios
e molhada de saudades.
***
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***
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-- Ananias: no começo, eu dizia “não quero” e ponto final. Mafalda insistia para que não fosse tão direto, grosseiro. Passei a adotar uma estratégia. Se os pais são católicos, digo que somos evangélicos. Se eles são evangélicos, digo que não saímos do terreiro...
Por Orlando Silveira
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FOTOGRAFIAS: ANDRÉ CYPRIANO
André Cypriano (1964) é paulistano e
vive nos Estados Unidos desde 1990. Possui interesse por projetos sociais e
culturais e frequentemente tem seus documentários fotográficos utilizados em
seminários educativos. Realiza vários projetos que são expostos em galerias e
museus do Brasil, Europa e EUA.
É autor do livro “Rocinha” (Senac
Editora, 2005), um projeto especial que retrata a vida na favela, e “O
Caldeirão do Diabo” (Cosac Naify, 2001). Cypriano ganhou diversos prêmios por
suas obras, como o Portrait Excellence Award (julho de 1996), o New Works
Awards (julho de 1998), o Mother Jones International Fund for Documentary
Photography (junho de 1999) e o Bolsa Vitae de Artes em São Paulo (janeiro de
2002).
FONTE: FOTOEMPAUTA.COM.BR
A COLUNA DO CLÓVIS
FOTOGRAFIA: CLÓVIS CAMPÊLO |
DUAS OU TRÊS COISAS
QUE EU SEI SOBRE ELAS
(Por Clóvis Campêlo) Como pessoa do sexo masculino,
muitas vezes não me sinto à vontade para discutir ou opinar sobre questões que
dizem mais respeito às mulheres do que aos homens.
O aborto, por exemplo. Eu pessoalmente
sou contra, mas admito que que cabe às mulheres decidirem sobre o que fazer com
o seu corpo e com o que ele abriga.
A minha posição contra o aborto,
porém, não se prende a nenhuma questão moral ou religiosa.
Diz respeito apenas às amplas
possibilidades que as mulheres têm hoje de evitar a gravidez.
Deixar-se engravidar, portanto, pode
ser um ato de extrema irresponsabilidade completamente evitável. Pode ser uma
aposta na esperteza e na impunidade.
Uma outra questão séria para mim, e
essa me envolve diretamente como marido, pai e avô, é a questão da divisão do
trabalho na família.
Para mim, caros amigos, a divisão do
trabalho no lar reflete simplesmente a divisão do trabalho na sociedade em que
vivemos.
Reflete a estrutura vertical do poder
instituída no aparelho estatal, nas entidades privadas e até mesmo nas
sociedades religiosas.
O poder é privilégio de poucos. Assim
sendo, repetimos o adágio popular: "Manda quem pode e obedece quem tem
juízo".
Não é só dentro do lar que as pessoas
têm a sua força de trabalho explorada.
Assim sendo, embora tenha sido
permitido às mulheres, ao longo dos últimos tempos, por uma imposição do
capitalismo que sempre precisa se reciclar para continuar lucrando, ocupar determinados
espaços que antes eram só dos homens, não se repensou a questão da divisão do
trabalho na família simplesmente por que isso não interessa ao sistema.
Penso que é de pleno direito as
reclamações e questionamentos femininos. Penso também que nós, homens,
precisamos nos reciclar e adotar posturas mais participativas na divisão desse
trabalho incessante e necessário.
Quando as mulheres têm dinheiro e
poder, porém, transferem essa carga de trabalho a outras mulheres ou mesmo
homens, pagando por isso e repetindo o esquema do sistema.
Toda essa visão de exploração do
outro está entranhada em nós, imposta pela educação que recebemos dentro e fora
do lar. Assim, as próprias mulheres também são culpadas por isso.
É preciso mudar. Sempre.
Já se disse que o preço da liberdade
é a eterna vigilância. Eu digo que o preço do equilíbrio é o eterno movimento e
o preço da justiça é a eterna concessão. Quem ama concede e compartilha. Quem
não consegue amar, explora o outro e se justifica pelos modelos disponíveis.
É claro que conceder e partilhar
também implica em perder.
Não se pode querer tudo ao mesmo
tempo agora.
Nós, homens, não somos cachorros para
sermos amestrados como tal. Somos seres pensantes e temos o direito de
questionar e modificar os costumes de forma consciente e humanizada.
Recife, 2008
AS CHARGES DO DIA
SPONHOLZ
PAIXÃO - GAZETA DO POVO (PR)
ALPINO
ANTONIO LUCENA - BLOG DO NOBLAT
ANTONIO LUCENA - BLOG DO NOBLAT
MIGUEL - JORNAL DO COMMERCIO (PE)
CHICO CARUSO - O GLOBO
SPONHOLZ
BENETT - GAZETA DO POVO (PR)
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
DOIS QUERIDOS
Ilustração: arquivo Google |
Não bateu hoje, não.
Tem batido há tempos. Saudade do tio, saudade da tia.
Acho que a prima à distância, via FB, direto de Floripa, turbinou a danada da saudade sem preço. Coisa boa ter tios de que quem não
se esquece jamais. Iraci e Valésia. Tive outros, igualmente queridos. Dei sorte. Antônio, Tonico, Orlando, Laura "Pamonha"...
Nunca conheci ninguém
tão querido e teimoso como tio Iraci.
Menino, eu gostava
demais de almoçar arroz com feijão, bife, ovo frito, salada, na casa dele. Coisas da tia. Mulher
de ouro. Ele chegava, ouvidos moucos, carinhoso, víamos juntos - ele, eu e a
nossa fome - o noticiário esportivo. Tempos de Geraldo Breta. Gremista, meu tio.
Corintiano também. Gostava de ficar por ali, dois, três dias. Nas
férias. Só para almoçar o almoço da tia Valésia e ver o futebol com o tio.
O tio nunca ouviu bem.
Iraci, surdo. Valésia, paciência de Jó, gritava para que ele a ouvisse. Ela
gritou uma vida toda, com o carinho de quem ama. Iraci implicava. Só quem ama
implica.
Compraram um aparelho
para o tio. O tio passou a ouvir tanto que o aparelho ficava mais desligado que ligado. Ele não suportava o clamor das ruas, menos ainda as falas de tia Valésia. Sempre altas, altíssimas.
A tia passou a vida
gritando para que ele a ouvisse. Para a tia, não era possível voltar a falar baixo, uma
vida inteira falando alto, para seu amor ouvir!
E ele com
aquela impaciência e teimosia queridas: “Lá vem a Valésia”. Baixava o som do
aparelho. Pura birra. Era seu jeito de dizer: “Valésia, te amo.”
(junho de 2014)
domingo, 15 de janeiro de 2017
CHÁ DAS CINCO: MANOEL DE BARROS
www.proparnaiba.com |
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Uso a palavra
para compor meus silêncios.
Não gosto das
palavras
fatigadas de
informar.
Dou mais
respeito
às que vivem
de barriga no chão
tipo água
pedra sapo.
Entendo bem o
sotaque das águas.
Dou respeito
às coisas desimportantes
e aos seres
desimportantes.
Prezo insetos
mais que aviões.
Prezo a
velocidade
das
tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
um atraso de nascença.
Eu fui
aparelhado
para gostar
de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é
maior do que o mundo.
Sou um
apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas
moscas.
Queria que a
minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não
sou da informática:
eu sou da
invencionática.
Só uso a
palavra para compor meus silêncios.
O FAZEDOR DE AMANHECER
Sou leso em
tratagens com máquina.
Tenho
desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a
minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena
manivela para pegar no sono.
Um fazedor de
amanhecer
para
usamentos de poetas
E um
platinado de mandioca para o
fordeco de
meu irmão.
Cheguei de
ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas
pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado
de idiota pela maioria
das
autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que
fiquei um tanto soberbo.
E a glória
entronizou-se para sempre
em minha
existência.
Manoel
de Barros
(1916-1914) recebeu, entre outros, os seguintes prêmios:
-- Prêmio
Orlando Dantas (1960)
-- Prêmio da
Fundação Cultural do Distrito Federal (1969)
-- Prêmio
Nestlé (1997)
-- Prêmio
Cecília Meireles (literatura/poesia), em 1998
(FONTE: PENSADOR/UOL)
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