terça-feira, 26 de abril de 2016

POLÍTICA/OPINIÃO: RICARDO NOBLAT

migueljc
MIGUEL – JORNAL DO COMMERCIO (PE)

QUEM PARIU TEMER QUE O EMBALE

(Por Ricardo Noblat) Em algum momento no ano passado, o PSDB ficou contra o impeachment da presidente Dilma. Preferia que ela sangrasse até o fim do seu atual mandato. Assim seria mais fácil derrotar o PT na eleição presidencial de 2018.

A posição do partido depois mudou e ele aderiu à tese do impeachment. Para refugá-la poucos meses mais tarde. E para outra vez recepcioná-la com medo de que Lula voltasse a comandar o governo e acabasse sendo bem sucedido.
Uma vez que o pedido de impeachment foi aprovado pela Câmara dos Deputados, e está a um passo de ter sua admissibilidade referendada por larga maioria no Senado, o PSDB – sempre ele! – enfrenta novo dilema: participar ou não do futuro governo Temer?

José Serra e Fernando Henrique Cardoso são a favor da participação. Serra está cotado para ser ministro de Temer. Aécio Neves e Geraldo Alckmin são contra. Os dois são aspirantes a candidato a presidente em 2018.

Foi marcada uma reunião para o próximo dia 3 que deverá decidir o que o PSDB acha a respeito. Por PSDB, entenda-se: o chamado colégio de cardeais do partido formado por duas dezenas de nomes, se tantos.

Nos quinze dias que antecederam à aprovação do impeachment na Câmara, o vice-presidente Michel Temer aproveitou o final de suas conversas com aliados ou possíveis aliados para adverti-los:

- Não basta que aprovem o impeachment. Isso de pouco adiantará se não me derem condições para governar.

Dito de outra maneira: quem votar contra o impeachment teria de dar em seguida seus votos para que o novo governo governe.

O que Temer pedirá ao Congresso será praticamente a mesma coisa que Dilma hesitava em pedir – seja por pressão do PT, seja por lhe faltar coragem, seja por seu estado de confusão mental. Não haverá novidades.

O impeachment foi aprovado com 367 votos favoráveis e 137 contrários. Para fazer qualquer reforma via proposta de emenda à Constituição, o governo precisará de um mínimo de 308 votos. Se não tiver, adeus governo.

O governo de Dilma caiu de podre, é bem verdade. Mas os que se recusaram a ajudá-lo a manter-se mesmo cheirando mal, não poderão agora fingir que nada tiveram a ver com a sua queda. Tiveram, sim. E por isso são responsáveis pelo governo que está por vir.

Do fim da ditadura militar até o fim do primeiro governo de Dilma, o Congresso jamais negou o que um presidente da República recém-empossado lhe pediu. Aprovou até o congelamento da poupança dos brasileiros promovido pelo então presidente Fernando Collor.

O que Temer pedirá ao Congresso será praticamente a mesma coisa que Dilma hesitava em pedir – seja por pressão do PT, seja por lhe faltar coragem, seja por seu estado de confusão mental. Não haverá novidades.

O futuro ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, só não foi ministro da Fazenda de Dilma porque ela nunca gostou dele. Lula gostava e o indicou para o cargo muitas vezes. Meirelles foi o presidente do Banco Central do governo Lula.

Se era para negar a Temer condições de governar, o PSDB e demais partidos deveriam ter arcado com a responsabilidade de sustentar Dilma.

Agora é tarde.

Ricardo Noblat é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário