sábado, 30 de novembro de 2013

CLÓVIS CAMPÊLO

A DOR DE UMA SAUDADE



Talvez a vida não nos seja mais do que uma doce ilusão. Existimos, pensamos e logo tentamos justificar a nossa maneira de viver e de agir. Subjetivamos e desenvolvemos ou nos apossamos de conceitos que servem para nos acalmar os ânimos, nos momentos de maior tensão, ou para servir de item identificatório com quem nos cerca e nos rodeia. Nenhum homem é uma ilha. A solidão é devastadora. Estamos todos no mesmo barco e precisamos alimentar a ideia de que vivemos em uníssono uns com os outros e de que não existiria outro caminho plausível ou justificável dentro da nossa síntese ética (se é que a temos!) ou que aplaque as nossas indagações e ansiedades.

Assim sendo, o futuro sempre nos será uma incógnita e um desafio. Uma página em branco, onde a composição final vai depender da habilidade e da capacidade em nos superarmos e criar novas propostas e situações. Não é a toa, portanto, que tendemos a repetir experiências coletivamente aceitas e bem sucedidas. Se a maioria diz ou fez assim, isso pode nos ser uma garantia de segurança e sucesso. Pra que nos arriscarmos em vão?

O grande problema, porém, surge quando essa sucessão de atitudes supostamente segura e confiável, passa a se mostrar inadequada ou desdobra-se em consequências inesperadas e assustadoras. Quantas crenças e práticas foram abandonadas pela humanidade, ao longo do tempo, por se mostrarem inúteis ou ofensivas quando inicialmente pareciam dignas de confiança? As marcas e cicatrizes que ficam, em consequência disso, são sempre aterrorizantes e definitivas. Diante da tragédia definida, geralmente, só nos resta a resignação, o consolo e um novo aprendizado no sentido de não mais se repetir o equívoco. O homem que pensa e tem a capacidade de imaginar novos mundos e situações, é o mesmo que se deixa enganar por análises equivocadas e traiçoeiras.

Exercitar a individualidade e a autonomia, portanto, não é fácil para ninguém. Não só pelo risco que a novidade sempre traz em seu bojo, como também pelos sistemas regulatórios criados e mantidos, nítidos ou subjacentes, no imaginário e nas crenças da maioria. Toda diferença poderá ser castigada. Ou mantida em quarentena até que se mostre útil e rentável ao sistema dominante e predominante. A ousadia nunca não será feita para a covardia da maioria.

Admito até mesmo que talvez nada valha a pena, mesmo que a alma não seja pequena. Aliás, chega-se a um determinado ponto em que fica difícil até mesmo se fazer novos dimensionamentos ou distinguir o caminho mais novo e adequado.

Talvez a vida não seja mesmo mais do que uma doce ilusão. Existimos e pensamos, mas, mais cedo ou mais tarde, desaguaremos sempre na foz do mesmo rio, no mesmo delta, nas mesmas águas turvas, temerosas e desconhecidas.

Navegar será mesmo preciso?


Recife, 2013

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

TELMA COSTA, 60 ANOS

Conhecida nacionalmente pelo antológico dueto ao lado de Chico Buarque na canção "Eu te amo", Telma Costa deixou um garboso registro fonográfico antes de partir prematuramente em 1989 
(Por Bruno Negromonte)


Às vésperas do seu aniversário de 36 anos, Telma Costa, a filha caçula da pianista e professora de piano e canto coral do Conservatório de Juiz de Fora, Maria Aparecida Correa Costa, partiu prematuramente, deixando como legado alguns registros fonográficos, dentre os quais o álbum que tem por título o seu nome e que foi lançado em 1983. Entre as canções do álbum há faixas como 'Coisa Feita' (João Bosco - Paulo Emílio - Aldir Blanc), 'Fruta Boa' (Milton Nascimento e Fernando Brant), 'Espelho Das Águas' (Tom Jobim) e 'Não Vale Mais Chorar' (Ronaldo Bastos e Toninho Horta), entre outras. O disco conta em sua ficha técnica com a participação de Dori Caymmi e Cesar Camargo Mariano na produção e arranjos. Além de Caetano Veloso, que divide os vocais na faixa 'Certeza da Beleza', canção de sua autoria. É um registro fonográfico que apresenta uma Telma Costa no ponto certo para dar o melhor de si em composições que pesavam não só por ter a assinatura de alguns dos maiores nomes da MPB, mas por exigir técnica e segurança em suas interpretações. Coisa que Telma soube tirar de letra, basta ouvir o registro e ver como ele mostra-se atual,  apesar das três décadas já passadas desde o lançamento.
Telma Costa: morte prematura

No entanto vem do álbum de outro artista a sua interpretação mais conhecida. Telma, a convite de Chico Buarque, registrou em 1980 no LP "Vida" a canção 'Eu te amo', parceria do cantor e compositor com Tom Jobim. Essa mesmo dueto chegou a repetir-se dois anos depois sob o título 'Te amo', faixa presente no álbum "En español", trabalho voltado para o exterior. Seu envolvimento com a obra de Chico Buarque teve início na década de 1960, quando aos 15 anos, foi convidada pelo artista para dividir a interpretação da música 'Sem fantasia', em show realizado no Clube de Juiz de Fora, sua terra natal. Vale salientar que a cantora teve a oportunidade de viver em um ambiente extremamente propício ao desenvolvimento de suas habilidades artísticas, uma vez que veio de uma família extremamente musical. Além da matriarca, seus irmãos - Élcio, Telma Lisieux e Afrânio - também musicavam, e isso fazia com que a música fosse algo predominante na residência dos Costa.Tanto que ainda na infância a mãe apresentou aos pequenos as primeiras introduções no universo musical fazendo com que ainda na adolescência os mesmos formassem o grupo vocal Trieto, formado pelas irmãs Telma Lisieux e Sueli.

A irmã Sueli, citada ao longo do texto, para quem não sabe, é a consagrada compositora Sueli Costa, recentemente homenageada em nosso espaço pela passagem dos seus 70 anos. A artista é autora de inúmeros sucessos dentro da MPB, dentre os quais os clássicos 'Medo de amar Nº2' (em parceria com Tite de Lemos) e as canções 'Amar é outra liberdade' e 'Jura Secreta' (ambas em parceria com Abel Silva).

Telma dá início de fato à sua carreira artística a partir de 1971, quando tem a oportunidade de mudar-se para o Rio de Janeiro e passa a atuar em casas cariocas, como Special e People, entre outras, além de fazer parte, ao lado de Miúcha, Olívia Hime e Elizabeth Jobim, do grupo vocal que participou de shows de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Ainda na década de 70, tem seu primeiro registro fonográfico, gravando em 1978 no LP "Vida de artista", de sua irmã Sueli, a faixa "Quatro de dezembro". Ao longo da década seguinte participou de alguns programas de TV tal qual o "Bar Academia" e de um especial acerca da obra do cantor e compositor Tom Jobim, ambos na extinta TV Manchete. Sem contar a sua presença na trilha sonora da teledramaturgia brasileira registrando canções como "Adoração" (Lisieux Costa e Tite de Lemos), para a novela "Eu prometo" (Rede Globo/1983), "Fruta boa", de Milton Nascimento e Fernando Brant, para a novela "Paraíso" (Rede Globo/1982); além da música "Azulão" (Jayme Ovalle e Manoel Bandeira) para o longa-metragem "Inocência" (1983), de Walter Lima Júnior.

Fernanda Cunha: encantadora de plateias
Fernanda Cunha, filha da artista, hoje segue a mesma profissão da mãe cantando e encantando plateias de todo o planeta. Com cinco álbuns lançados, Fernanda vem sedimentando uma carreira artística não só no Brasil, mas também ao redor do mundo. Países como Canadá, EUA e outros tantos na Europa conhecem o repertório de álbuns como "O tempo e o lugar" (2002), "Dois corações- Fernanda Cunha interpreta Johnny Alf e Sueli Costa" (2004), "Zíngaro - Fernanda Cunha e Zé Carlos interpretam as parcerias de Tom Jobim e Chico Buarque" (2007), "Brasil Canadá" (2009) e do seu mais recente registro fonográfico "Coração do Brasil", registro que mostra uma artista que ganhou o mundo, mas não perdeu as suas mais genuínas raízes.Quando questionada acerca do maior legado deixado por sua mãe, Fernanda responde:"A maior riqueza que minha mãe me deixou foi o amor. Como artista a música e o amor pela música. Nasci respirando música, e a música muitas vezes me salvou de situações complicadas na vida. É um bálsamo". 






quinta-feira, 28 de novembro de 2013

HORA DA VITROLA

PAPEL MARCHE
Por João Bosco



NÚBIA NONATO

FISSURA 




Vancleysson sabia a hora certa em que Renilce acordava. A hora em que ela lavava as roupas, em que cozinhava o feijão e a hora que ele mais gostava e que fazia a sua alegria de voyeur, a hora em que ela tomava banho de sol na laje.

-Ela iá! Dizia ele estalando a língua.

Sua musa não era uma sumidade em beleza, mas tinha o que para ele era a coisa mais bela em uma mulher, ancas grandes e um traseiro generoso.

Esse era o grande sonho de consumo de Vancleysson, ser o titular daquele belo traseiro. E, assim, ele consumia todos os minutos de sua vida, sonhando em um dia possuí-la.

Alguns anos se passaram e Vancleysson definhava a olhos vistos tamanha era a sua fissura por Renilce.
Em um domingo, enquanto  os homens batiam a laje da vizinha, o companheiro de Renilce perdeu o equilíbrio e despencou batendo as botas logo em seguida.

Os amigos de Vancleysson sabedores da sua paixão trataram logo de unir os dois.

Na grande noite tão sonhada e idealizada ele cochichou-lhe aos ouvidos, o rosto de sua doce Renilce desapareceu por alguns segundos depois de levar um jeb de esquerda. Mas Vancleysson era pior do que "pau de dar em doido" e aos poucos foi se acostumando com os socos de sua amada.

Em uma noite depois do milionésimo pedido  Renilce não lhe bateu, pelo contrário, disposta a experimentar pediu apenas que ele apagasse a luz.

Cidoca, a vizinha do lado, acordou apavorada com a gritaria na madrugada.

Vancleysson, que havia engordado um pouco, voltou a secar.

Renilce cochichava em seu ouvido todas as noites, o infeliz, cansado, bem que tentava declinar, mas ela levantava os punhos e as luzes se apagavam.

A vizinha do lado?

Está alugando o seu puxadinho.


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

TUDO CERTO, NADA RESOLVIDO

-- Se eu fosse você, primeiro, eu faria “isso”; depois “aquilo”. Tudo se resolveria.

-- Se eu fosse você, primeiro faria “aquilo”; e, depois, “isso”. Tudo se resolveria. Então, ficamos assim: você resolve os meus problemas; eu, os seus.


OMBRO AMIGO

-- Se quiser desabafar, desabafe. Estou pronto para ouvi-lo. Se quiser chorar, não se acanhe. Se quiser...

-- Eu sei, eu sei. E lhe agradeço muito por isso. Mas, eu preciso mesmo – com urgência – de um empréstimo para pagar os aluguéis atrasados e evitar o despejo.



E SE...

-- Se Deus quiser, vai dar tudo certo.

-- E se ele não quiser?

-- Ele quer!

-- Quem lhe garante?



-- Tenha paciência, muita paciência, toda paciência do mundo.

-- É o que mais ouço. Mas não sou Jó.

-- Tudo passa.

-- Eu sei. Inclusive eu.


PÁSSAROS

Mais valem dois passarinhos voando que um passarinho na gaiola.


foto: blogdobotojuraci.blogspot.com.br

A DITADURA DO BOLSO

Eu sei. Você sabe. Todo mundo sabe que o barato quase sempre sai caro. Mas é o que dá para comprar. Fazer o quê? Voltar de mãos abanando?

PIADINHAS (II)

ADVOGADOS

- Dois amigos se encontram depois de muitos anos.
- Casei, separei e já fizemos a partilha dos bens.
- E as crianças?
- O juiz decidiu que ficariam com aquele que recebeu mais bens.
- Então ficaram com a mãe?
- Não, ficaram com nosso advogado.

PADRÃO SUS

- Um eletricista vai até à UTI de um hospital, olha para os pacientes ligados a diversos tipos de aparelhos e diz a eles: “Respirem fundo: vou trocar o fusível”.

POLÍTICOS

- Qual a diferença entre um político e um cachorro atropelados? Antes do cachorro, há marcas de freada...


terça-feira, 26 de novembro de 2013

DIRETO DE LISBOA


ESCULTURA DE ARAME
OBRA DE SIMONE GRECCO



NÚBIA NONATO

PRESSENTIMENTO



Deixarei minhas sandálias
surradas na soleira da porta.
Recolherei toda a roupa do varal.
Regarei as plantas e não mais
desmancharei as teias da aranha.
Abraçarei o pequeno pé de
acerola rezando para que ele
continue dando muitos frutos.
Ouvirei o canto do sabiá como
se fosse a primeira vez.
Deixarei o bem-te-vi contar
pra todo mundo que me viu!
Irei reler aquele poema de Pessoa,
é...aquele que sempre me faz chorar.
Guardarei odores e sabores,
sufocarei gemidos...
Não facilitarei a tua vida, pois do amor que
sinto, apenas o pressentes.




FALA: BARÃO! (II)


FRASES DE APPARÍCIO TORELLY
O BARÃO DE ITARARÉ




Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta...
***
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
***
Um casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
***
Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
***
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
***
Devo tanto que, se eu chamar alguém de "meu bem", o banco toma!
***
Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.





segunda-feira, 25 de novembro de 2013

OVO DA SERPENTE


 
mariadapenhanelles.blogspot.com
Houve um tempo, logo após a chamada redemocratização, em que políticos e estudiosos, ante a constatação óbvia de que as denúncias de corrupção aumentavam celeremente, alegavam que os escândalos apareciam em grande quantidade porque havia liberdade de imprensa – o que não existia na época da ditadura. Não estavam de todo errados. Mas também não se pode dizer que estivessem absolutamente certos. 

É mais que evidente que o problema não está na democracia, mas do uso que os inescrupulosos dela fazem. O que leva muita gente a alimentar o que se pode chamar de “utopia autoritária”. Desgraça das desgraças.


TENDÊNCIA DE PIORA

Quando alguém lhe perguntava por que o Congresso e demais casas legislativas iam tão mal das pernas, em todos os sentidos, Ulisses Guimarães devolvia a bola de primeira. Espere para ver a próxima legislatura, dizia, vai ser pior que esta. Pelo visto, não estava errado. As duas questões que não se calam: (1) Por quê? E (2) aonde vamos parar?

blogchicomaia.com.br

BRASIL

Pobre do país cujas oposições não conseguem capitalizar o desejo de mudança manifestado por dois terços dos eleitores, conforme pesquisa recente do IBOPE. Pelo andar da carruagem, teremos mais do mesmo, por mais quatro anos. Uma lástima. Por que isso acontece? Porque as oposições não têm clareza sobre o que querem. Nem o discurso em prol da ética lhe restou. A rigor, para a maioria das pessoas, todos os políticos são iguais: nascidos para roubar. E quem vai convencê-la do contrário?

domingo, 24 de novembro de 2013

ADONIRAN: PARA MATAR A SAUDADE

No dia 23 de novembro de 1982, morreu Adoniran Barbosa, aos 72 anos de idade.

A data ia passando batida, mas Clóvis Campêlo, editor do blog Geleia General e coordenador de grupo homônimo no FB, me fez o favor de refrescar a memória.

Seguem três músicas do mestre: PROVA DE CARINHO, BOM DIA, TRISTEZA (com Vinícius de Morais) e TORRESMO À MILANESA (com Carlinhos Vergueiro).









sábado, 23 de novembro de 2013

CASA NO CAMPO

Quem me dera ter uma. Para reunir os amigos etc. e tal. Mas sem muriçocas.



CLÓVIS CAMPÊLO

UM TÍTULO INESQUECÍVEL





Meus caros amigos, em 1970 o Brasil vivia uma das fases mais ferozes da ditadura militar, quando conquistamos a Copa do Mundo do México. Apesar das contestações dos teóricos esquerdistas, o povo foi às ruas e vibrou, referendando a conquista.

Naquela época, embora já movimentasse milhões e atingisse milhares de pessoas em todo o planeta, haja vista que foi a primeira copa transmitida via satélite para os países periféricos ao Primeiro Mundo, o evento ainda não se inscrevera no rol da indústria do entretenimento. Ganhar era uma circunstância e o importante ainda era competir. Era o chamado fairplay.

Mas, para alguns, o futebol era um dos ópios do povo, e utilizado, aqui no Brasil, pela ditadura militar para encobrir a sua violência repressiva e manter o regime de exceção. Consta, por exemplo, que o presidente Emílio Garrastazzu Médici influiu diretamente na convocação dos jogadores, impondo até a nome de Dario Peito-de-Aço, na época jogando no Atlético Mineiro, entre os jogadores convocados. Consta, também, e essa história seria depois desmentida pelo próprio treinador, de que João Saldanha teria sido afastado da direção técnica da seleção brasileira por conta da sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro.

O certo é que Zagallo assumiria o posto de técnico depois de Saldanha ter comandado o time durante as eliminatórias e ter classificado a nossa seleção com méritos. Com a mudança do treinador, mudaram também os jogadores convocados e o esquema de jogo, ficando para trás o convencional 4-2-4 de Saldanha, com Edu na ponta-esquerda, e entrando em cena o então inovador 4-4-3 de Zagallo, com Rivellino improvisado na esquerda como um falso ponta.

Na verdade, era o time de craques e as improvisações tiveram de acontecer para acomodar tantos bons jogadores em uma mesma equipe. Além de Rivellino na ponta-esquerda, Piaza improvisado como quarto-zagueiro e Tostão no comando do ataque. Os craques, com certeza, supriram as deficiências dos menos dotados tecnicamente, como o goleiro Félix e e zagueiro Brito. Consta até que, na verdade, a seleção era mesmo comandada dentro de campo por Pele é Gérson, embora Zagallo estivesse no banco de reservas ao lado de toda a comissão técnica.

No ataque, Pelé e Jairzinho complementavam a máquina mortífera de fazer gols. Em seis jogos, foram 19 gols marcados, superando a média de 3 gols por partida. Destaque ainda para os laterais Carlos Alberto Torres, Marco Antônio e Everaldo, além de Clodoaldo como cabeça de área.

Entre os reservas, jogadores de alto nível como o goleiro Leão e o meio-campista Paulo César Cajú.
Não é a toa que ainda hoje essa seleção brasileira de futebol seja considerada a melhor de todos os tempos entre os torcedores brasileiros e a crônica especializada.


Recife, 2013






sexta-feira, 22 de novembro de 2013

ALTA MÉDICA: OBRA DE DILMA

Perdão, leitores: houve um equívoco. Esta foto era para ser Della
E o psiquiatra foi direto ao ponto:

-- Meu caro, eu vou suspender todos os seus remédios. 

-- Como assim, doutor?

--Você não tem mais nada. Eu também não entendo o que Ella fala. Quando entendo – coisa rara –, não acredito.


PAPUDA. POR UM FIO

Ula, agora vai. Zeca Todas as Caras, segundo os jornais, “impõe disciplina a companheiros de cárcere”. Troca altas ideias com Jacinto Lamas (pelo visto, este se perdeu pelo sobrenome). E lê O CAPITAL E SUAS METAMORFOSES, de Luiz Gonzaga Beluzzo, amigo de Mino Carta, que arruinou as finanças do Palmeiras. O Centro Penitenciário da Papuda que se cuide.


BRASIL VAGABUNDO

Por que parlamentares ladrões têm acesso livre a visitas, ao contrário dos outros ladrões que lhes fazem companhia nas celas?

CARA DE PAISAGEM

FOTO: Assessoria MIN. do Planejamento
Deu no jornal:

“Documento assinado por deputados e senadores da base aliada ao governo diz que é preciso zelar pelo cumprimento das metas fiscais”.

Eremildo, perdão, o ministro da Fazenda, fez de conta que acreditou.


O neurônio solitário da presidente fez o de sempre: cara de paisagem.

DE PÉS JUNTOS

Todos os acusados de terem ligações com as máfias são inocentes. Segundo eles próprios. Ufa! Agora dá pra dormir tranquilo. 

QUEM SABE... SABE

O que teria colocado ponto final naquela amizade quase tórrida?


QUEM DIRIA?

Totó e os seus eram apenas punguistas.

ASCO

“Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”, gritam petistas supostamente indignados com a prisão do capo.


Até vassalagem tem limites. Ou não?

PIERINA & ARGEMIRO

Pelo andar da carruagem não tinham pressa nenhuma. 

Faziam bem, muito bem. Pressa de quê, pressa para quê, em idades avançadas daquelas? Um selinho, se tanto – e tanto pra quê? –, lhes faria bem danado. Acho eu. Mas achar vale nada.

Filhos, netos e bisnetos se opuseram à aproximação. 

Todos de olho na fortuna inexistente. Todos preocupados com o trabalho, dobrado, à vista.

PIERINA se foi, aos 90. ARGEMIRO, aos 92.

Jamais “ficaram”.

Juntos, aos 30, 32, fariam sucesso. Sem dúvida.

Paciência.


BALANÇO

Trabalhar é bom. Mas quase nunca compen$a.


ROTINA

Pior que voltar é não ter para onde ir.


BRUNO NEGROMONTE

ENTREVISTA: MÍRIAM BEZERRA 



Impregnada de brasilidade, Miriam Bezerra faz suas melodias permearem de modo sutil pela rica sonoridade existente neste nosso país-continente e traz principalmente o amor como regente de suas letras, composições estas que se apresentam com uma característica bastante peculiar: um lirismo exacerbado. Diferenciando-se de muitas do gênero, Miriam apresenta de modo pleno tanto em suas letras consistentes quanto nas delgadas melodias, característica inerente a algumas das grandes artistas de nossa música popular brasileira como vocês puderam conferir na apresentação da artista aqui no JBF, na matéria intitulada "Quando os sentimentos se liquefazem em um mar de tênues melodias", publicada ao longo da semana passada. Nesta conversa Miriam revela-nos um pouco as influências que a música nordestina exerce em sua obra e sobre o momento que percebeu que era preciso dar um basta em sua timidez para realmente seguir a carreira que hoje abraçou. Além das agruras em fazer música independente no Brasil como vocês podem conferir no bate-papo exclusivo a seguir. Boa leitura!


Você, que vem de uma família numerosa e aparentemente propensa à música, deve ter diversas “lembranças sonoras” de sua infância. De todos os irmãos só você seguiu a carreira artística? Quais as reminiscências musicais mais claras existentes em sua memória?

Miriam Bezerra - Realmente, minha família é muito numerosa. Gostos e vontades diversos. A constatação inicial é que todos nós, de certa forma, éramos “cantores”. Nossa infância foi muito marcada pela música. Todos nós realizávamos nossas tarefas domésticas, cantando! Eu achava isso muito natural e imaginava que a casa de todo mundo “funcionava” dessa maneira! Quando adulta descobri que nem toda família era assim. A música estava sempre presente em nossa casa, e isso era muito particular, ela estava lá, apesar das “botas”, “fardas” e “armas” de meu pai. Minha mãe gostava de cantar canções de roda de sua infância. Meu pai, maestro da banda militar, gostava de ouvir frevos e boleros. Certo dia, nos surpreendeu, com um gravador e uma fita cassete de “Santo Morales e Seus Boleros”! Nosso grande prazer era ouvir aquela fita milhões de vezes... toda noite... até o sono chegar. Eu passei a amar boleros. Numa outra vez, nos deu a cada uma, um rádio portátil. Foi aí, que eu enlouqueci com a música. O rádio desempenhou um papel importantíssimo na minha descoberta da música e sua amplitude. Essa é a minha principal lembrança... o prazer de estar embaixo das cobertas... no escuro... ouvindo toda a música que quisesse!

Só eu segui a carreira da música, mas, tenho outros irmãos artistas. Um é artista plástico, o outro, já falecido, era um grande carnavalesco. Vários outros, esporadicamente, em algum momento, se envolveram com teatro e música.


Culturalmente falando o Nordeste sempre teve uma grande relevância no cenário cultural do nosso país. De certo modo você bebeu da fonte da cultura desta região através de seus pais, que, nordestinos, trouxeram consigo um pouco dos ritmos e peculiaridades particularmente de Pernambuco e da Paraíba. O que hoje você destaca em sua sonoridade que tenha sido contribuição dessa “osmose” cultural? Principalmente na sonoridade de "E que a tristeza seja chuva".

MB -  Meu pai me fez conhecer e amar Luiz Gonzaga, Sivuca, Jackson do Pandeiro e Dominguinhos. Eles, para mim, são o Nordeste. Minha mãe trouxe as cantigas de roda, com forte influência portuguesa, além dos costumes, dos bordados e das bruxinhas de pano que confeccionava. Meu irmão, artista plástico, era também jornalista e ativista político. Através dele mergulhei na literatura e cultura do mundo. Ele, inicialmente, trabalhava na editora “Abril Cultural” e isso trouxe a relação apaixonada com os livros e discos. Ele tinha, além de milhões de livros, uma grande coleção de discos, fascículos, que contavam a história da musica popular brasileira. Isso foi muito marcante pra mim. Era bem pequena e me deliciava, ouvindo e lendo a vida dos compositores brasileiros. E foi através dele, também, que conheci Elomar, o príncipe da caatinga, como já disse Vinícius. Essa grande mistura, essa “osmose” cultural, como você diz, foi marcante no sentido de me despertar o gosto pela música do Brasil. Eu costumo dizer, com muito orgulho, que fiz um disco de “música brasileira”. A delicadeza, a inocência da infância, suas imagens, o singelo... a roça, as festas, o sertão, a vida dos meus pais... está tudo ali em letra e melodia.


Outra característica que consta em sua biografia é que devido a timidez você sempre procurou esquivar-se do palco. Qual foi o momento que você percebeu que era preciso dar um basta nessa situação e ir de encontro ao seu desejo?

MB - Primeiramente, subi no palco através do teatro. O que foi difícil, mas é muito mais fácil que cantar. No teatro você tem o apoio de um personagem construído, que lhe dá base e segurança. Na música, você está desnudo, sem nada que lhe proteja. Cantar é estar exposto em seus sentimentos mais íntimos. Sempre costumo dizer que cantar, dói. Dói muito... dói fundo. Mas, passada essa dor, vem uma sensação tão grande de prazer, que é indescritível. Ainda que eu sofra, todas as vezes que tenha que subir num palco, eu volto, sempre, à procura desse prazer, desse contentamento. O desejo de cantar subverteu minha timidez, quando percebi que precisava dar um salto e voar mais alto. De certa forma, foi uma cobrança minha. Sendo tímida sempre me cobrei demais. Num determinado momento, uma situação me exigiu, amigos me “forçaram”, a vida mostrou o caminho e a oportunidade. Era agarrar e seguir, ou, deixar passar e me afundar em tristezas. Com certeza, escolhi a melhor opção.


Fazer música de qualidade no Brasil não é fácil. Os grandes canais midiáticos priorizam aquilo que os propicia um retorno de audiência (e consequentemente financeiro) imediato deixando a qualidade à margem do público. Você como artista que se encaixa neste perfil independente deve vir passando por diversas adversidades neste processo de divulgação e afirmação enquanto cantora e compositora. Quais as maiores dificuldades encontradas até agora?

MB - Olha... as dificuldades são enormes e desanimadoras. Eu diria que até agora, só conheci as dificuldades. Fazer música de qualidade no Brasil, hoje, é mergulhar num processo de profunda solidão. Isso, é claro, quando não se tem dinheiro, ou apoios, como no meu caso. Fiz meu disco inteiro, juntando economias e lutando para cumprir todas as etapas, da melhor forma possível. As pessoas não têm noção do quanto é trabalhoso gravar um disco. Pagar e cuidar de ensaios, estúdio, músicos, mixagem, masterização, capa, fotos, prensagem, além de “fazer” as canções, é extremamente custoso e desgastante. E quando você se vê com caixas e mais caixas de Cd's a sua frente, você entra em desespero pensando... e agora? O que é que eu vou fazer? Você tem que cuidar de tudo e isso, às vezes, faz enlouquecer, faz querer desistir. Você já tem o seu Cd pronto e ainda tem que lutar. Agora, pra conseguir um espaço e mostrar o seu trabalho. Tudo envolve dinheiro e posição. No meu caso, sou uma ilustre desconhecida. É difícil conseguir uma data em um teatro e ter que arcar com despesas de músicos e técnicos. E se você pretende um show mais elaborado, com cenário e figurino, um bom roteiro... a coisa se complica mais ainda.

Em um país onde tradicionalmente a grande maioria das cantoras são intérpretes, você se destaca também como compositora. Como se dá seu processo de composição?

MB - Em verdade, sou uma compositora, antes de tudo, intuitiva. Sinto a música, ela se faz dentro de mim, dentro da minha cabeça e da minha emoção. É como se ela já existisse, estivesse lá... pronta... só esperando o momento de ser revelada. Não foi feita por mim...eu só a transformei em palavras e sons. Faço letra e melodia juntas... sempre apoiada por um fiel gravador. Às vezes uma conversa, uma palavra, uma cena, um poema, uma lembrança...e lá vem o encadeamento, a ideia, a canção. Registro e depois ouço. Daí vou lapidando, trabalhando, melhorando. Amo as palavras, procuro sempre valorizá-las. Melodia e letra têm que se casar com grandeza. Toda letra é poesia. Toda melodia é encanto.


É inegável que você tem uma forte ligação com o teatro, particularmente na composição da trilha sonora de alguns espetáculos com as quais você ganhou prêmios relevantes como o "Prêmio Pagu" e o "Prêmio Estadual Plínio Marcos. Fale-nos um pouco sobre essa relação com as artes cênicas e como ela contribui (ou inspira) o seu universo musical.

MB - Na verdade, a base de tudo é a literatura. Sou alguém que leu muito, desde menina. A leitura nos dá a amplitude e grandeza suficientes para pensar e refletir o mundo e a vida. A literatura me deu o gosto pela palavra, me fez ser alguém politizada, questionadora. As palavras me deram sensibilidade e me fizeram ser amante das artes. Amo escrever, amo cinema, teatro, música, pintura. Quando criança era modelo vivo, pro meu irmão. Ficava horas e hora imóvel, sentada, pra que ele pintasse “suas ideias”. A arte e a vontade dela, sempre foi o centro de tudo. Fazer teatro foi uma consequência. Através dele acabei me encantando e fazendo faculdade de Artes Cênicas. Quando comecei a cantar, foi inevitável juntar tudo. Em alguns espetáculos me pediam para cantar. Às vezes, meu personagem cantava em cena, outras vezes, gravava as canções dos personagens em estúdio. Daí, uma vez, recebi um convite para compor as músicas de um espetáculo infantil. Foi o primeiro passo, comecei a gostar e segui fazendo isso por muito tempo. O teatro e a vida caminham juntos. Vejo a vida como uma grande encenação, uma seleção de cenas. Algumas alegres, outras tristes, aquelas que não gostaríamos de ter vivenciado. Mas tudo é experimento e experiência. A música desse grande espetáculo fazemos todos os dias.

Você acha que este êxito e reconhecimento nas artes cênicas é algo que contribui de algum modo para o sucesso dessa estreia no universo fonográfico ou sua responsabilidade acaba tornando-se maior devido à bem sucedida carreira de compositora de trilhas sonoras?

MB - Vejo aí uma dualidade. De certa forma, a experiência teatral ajuda, mas, ao mesmo tempo, faz a cobrança ser maior. Na verdade, são realidades diferentes. As experiências são complementares, mas os caminhos são independentes e exigem, cada qual ao seu modo, uma intenção e uma dedicação diferente. Fazer uma trilha sonora é participar de um projeto, fazer parte de uma engrenagem que já está pronta. Fazer um disco, fazer canções, é passar por um processo mais individualizado e, também, solitário. Minhas trilhas foram muito elogiadas, muito bem recebidas. Abrilhantaram e enriqueceram os espetáculos de outros profissionais. Meu Cd, até aqui, tem sido muito elogiado. As pessoas me abordam dizendo que amam determinadas canções, se identificam com aquele sentimento exposto, se emocionam. Em ambas as experiências, me sinto uma privilegiada, pois toquei o coração de alguém.

Quais as contribuições que você poderia destacar como relevante depois de sua passagem por alguns grupos, dentre os quais os “Trovadores Urbanos”, que refletem-se em sua carreira solo?

MB - Os Trovadores Urbanos desenvolvem um projeto maravilhoso. Quando fui convidada a trabalhar com eles, inicialmente, não me senti capaz. O diferencial é que, além de “atuar” e cantar, na cena da serenata, e você ainda tem que entrar em uma casa e cantar diretamente para alguém. Você não sabe a emoção que vai encontrar ali. Não imagina como vai ser recebido. Parece simples, mas é algo poderoso demais. Você se vê diante de todo tipo de pessoa, todo tipo de situações. Isso me fez crescer muito. Você canta na festa, rodeada por emoção e alegria, mas também canta num leito de hospital, cercada de dor e lágrimas. É muito emocionante e, ao mesmo tempo, você tem que conseguir dosar essa emoção. Essa experiência me fez mais forte, mais segura. Me deu a noção exata da grandeza e do poder da música. A música transforma.

O álbum "E que a tristeza seja chuva", tem por característica a sutil abordagem a diversidade sonora existente em nosso país e letras que prezam pelo requinte e lirismo como podem observar aqueles que tiveram a oportunidade de ouvi-lo. Como se deu a seleção do repertório?

MB -  A seleção se deu de maneira bem natural. Tinha várias composições que queria gravar, mas nem todas poderiam entrar o mesmo Cd. Fui gravando uma a uma e tentando compor um universo, uma estória. Automaticamente, muita coisa ficou de fora, guardada, para um próximo trabalho.

Como tem sido a receptividade do público nos locais por onde você tem levado "E que a tristeza seja chuva"?

MB - A melhor possível. E isso tem me feito muito feliz! Até aqui só recebi elogios. As canções despertam os sentimentos mais puros. Eu falo de amor, falo da delicadeza, do que é simples, do que é verdadeiro. Acredito que, hoje, diante da realidade tão dura que vivemos, as pessoas estão carentes disso. Tendo de corresponder a modelos sociais e expectativas, acerca do que venha a ser o indivíduo “bem sucedido”, as pessoas estão se perdendo de seu lado humano, infantil, amoroso. A minha música procura mostrar a necessidade de deixar que esses sentimentos primeiros, da criança, do sonho, da descoberta, do amor... falem mais alto e nos resgatem da escuridão. E que a tristeza seja chuva... lavando nossa alma e levando embora nossas dores.












quinta-feira, 21 de novembro de 2013

GENOÍNO

É uma bosta que o colunismo político brasileiro levou a sério. É o Demóstenes da esquerda.




LER JORNAL

Lástima. Só dá ladrão.




PIZZOLATO

É o Brasil exportando lixo para a Europa. Via Paraguai.

SONINHO MATUTINO

De madrugada, vago. Divago. De manhã, ninguém me tira da cama.


ATÉ TU, MARGARIDO?

Tempos bicudos, os nossos. Era tão gentil. A mão que afaga... É a mesma que, voraz, afana.


TÁ DIFÍCIL: A VOZ DAS RUAS

Políticos inverteram a lógica do Direito. São todos culpados até prova em contrário.


NÚBIA NONATO

MULHERES

Era engraçado perceber a curiosidade deles que para não darem
o braço a torcer mantinham a distância.
 
Numa dessas madrugadas da vida ao retornarmos de uma
apresentação de forró ou sei lá o quê(ainda não defini o estilo do
cantor), paramos em frente ao bar para tomarmos a saideira.

Um rapaz que saía ao portão ficou intrigadíssimo, pois no grupo não
haviam homens e divertindo-se com a nossa rebeldia tão natural
e espontânea,  nos chamou de transgressoras.

Nos definir hoje, apenas com o que estabelece o dicionário é mera
redundância, somos muito mais do que isso, complexas, eu diria.
_ Mas vale a pena...Não vale?

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

ANIMAL

Vizinho é lixo. O tipo acelerou o passo. E me bateu a porta do elevador na cara. 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

PANCADINHA & PANCADÃO

Cumpriu o ritual de sempre. Deu os remédios para o pai, esperou o pai tomar banho, secou o pai, vestiu o pai, preparou o café do pai. Era seu plantão. Colocou o pai no sofá, ligou a tevê, pediu pra que o pai ficasse ali, quietinho da silva. Voltaria logo. Iria até o mercado, do outro lado da rua, comprar umas frutas.

Mas cadê os óculos?

Procurou em vão pela casa toda. Onde estariam os malditos? Depois de quase meia hora, foi tomado por uma ideia medonha. Será que o pai sentara em cima deles? Sentara. Mas sentara em cima dos óculos dele, do pai. Mas, e os óculos do filho? Estavam na testa do pai. Pode?


NÚBIA NONATO

POR VENTURA

Se
eu for abduzida
quero meus
segredos revelados.
Caso me calem
que os meus
desejos explodam
transgressores
em vermelho
vivo.
Partirei levando
comigo um fogo
intenso, mas
deixo para ti
a sombra da
dúvida e o
eco de meus
pensamentos.



segunda-feira, 18 de novembro de 2013

TEMPO DE DESPERTAR

cabofriolegal.blogspot.com - José Maria Brinckmann
Já fui muito festeiro, não sou mais. Se houvesse uma enquete para definir o mês mais chato do ano, cravaria, sem pestanejar: dezembro. É um porre de bebida ordinária. É pior que cuecas e sapatos apertados.  Não chega a aleijar, mas incomoda.

Os preços disparam e raramente se encontra nas lojas o que se procura. O trânsito consegue ficar infinitamente pior do que já é. O telefone não para: de asilos a creches, todos querem uma doação extra. Os funcionários do prédio esperam uma “caixinha gorda”, os balconistas da padaria também. O ajudante do açougueiro, o carteiro e os medidores de água, luz e gás não fogem à regra. Caracas: esta gente já não recebe o 13º?

Não sei o que é pior: as festas de Natal ou as comemorações do dia 31. Todo mundo de olho no relógio. Afinal, meia-noite é a hora de abraçar com entusiasmo aquele parente que você paga para não ver ao longo do ano. Aquela felicidade forçada é de arrebentar corações pouco valentes, como o meu. Pior que isso, só o tal de “amigo oculto”. Perde-se muito tempo e dinheiro com essa bobagem. Em geral, você dá ao “amigo” o que ele abomina, e recebe algo que para nada lhe serve. É a lei da vida: aqui se faz e aqui se paga. Isso quando não ocorre de você dar um panetone para a tia e receber da tia um panetone, da mesma marca e tamanho. É patético.

Ah, temos os foguetórios, anunciando a chegada do novo ano. Todo mundo de boca aberta, olhando para o céu e dizendo em uníssono: “Que lindo!” Francamente. Que dizer, então, das simpatias? Calcinhas brancas para ter paz; amarelas para ter dinheiro. E por aí vai. Suponho que as devassas, por coerentes e pragmáticas, não usem calcinha alguma. 

Ainda bem que não há mal que sempre dure. Janeiro logo chega. É tempo de pôr em marcha tudo aquilo que, há duas décadas, em marcha prometemos pôr. Tempo de recomeçar – de contar os dias que faltam para dezembro próximo.