terça-feira, 31 de julho de 2018

CRÔNICA: WALCYR CARRASCO (faltam bio e fotos)




METAS DE VIDA

As pessoas querem brilhar. Confundem vocação
com a vontade de aparecer

Por Walcyr Carrasco
Revista Época Digital
16/01/2018 - 08h00

Dou ossinhos de petshop a minha cachorra Luna. Ela enterra. Depois desenterra. Simples assim. Se uma pomba dá mole, ela come, sem problemas de consciência. Luna é husky, e como tal, caçadora. Não enfrenta nenhum movimento pelos direitos dos pombos. Simplesmente pula em cima e depois engole até as penas. Gosta quando coço suas orelhas. Se chega uma visita que ela adora, simplesmente deita, patas para cima, expondo as partes íntimas. Que é exatamente o que eu gostaria de fazer, dependendo da visita. Mas sento educadamente e ofereço um café. Luna sábia. Eu a sustento. Ela nem mesmo tem a preocupação de ganhar a vida.

Desde que eu me conheço por gente, aprendi que devia estudar, me profissionalizar. E subir na vida. E formar um patrimônio. A sabedoria popular diz que no caixão nada se leva. Mas o magnífico mundo criado pelos humanos não leva essa sábia advertência em consideração. Quando eu era criança, ouvia ser preciso me preparar para a velhice. Sem condições de trabalhar, eu teria de sobreviver do dinheirinho amealhado durante a vida. Aposentadoria era uma palavra doce. Descobri que não ao visitar uma antiga professora. Com os índices de correção do governo, ela, mais de 80 anos, não recebe o suficiente para pagar a faxineira duas vezes por semana. Do que adiantou o sacrifício de mais de 40 horas semanais?

O grande objetivo da vida, portanto, não seria viver um amor, escalar montanhas ou plantar árvores. Mas formar o tal patrimônio. Lembro-me de uma antiga história, não me recordo onde li, de um pescador que vivia à margem de um rio. Chegou um homem da cidade, ofereceu uma fortuna pelo terreno. O pescador perguntou por que deveria vender.

– Com esse dinheiro o senhor poderá viver tranquilamente, à beira de um rio, pescando como gosta – explicou o comprador.

– Mas eu já vivo assim. Não preciso vender coisa nenhuma.

E o pescador continuou tranquilo em sua terrinha. Vendemos nossos sonhos, desejos, sentimentos mais íntimos, para termos a tal terrinha à beira de um lago. Mas... já não temos tudo isso? Eu assisto a esse processo, dolorosamente, no que toca à expressão artística. Já conheci muito candidato a escritor. Houve um tempo em que a questão da qualidade se sobrepunha a qualquer outra. Escrever era um mergulho íntimo. Mas a visão americana, que privilegia o sucesso, ganhou o mercado. Um livro é bom dependendo de quantos exemplares vendeu. É cada porcaria que ganha espaço na imprensa! Isso também vale para cantores, músicas, peças de teatro... todas formas de expressão artística. Tenho consciência de que vivo cercado de obras rasas. Isso ainda é uma sorte, fazer sucesso. Conheço inúmeras pessoas que, ao escolherem sua profissão, optaram pela mais segura. Depois, querem expressar sua veia artística. Acho maravilhoso alguém dar aulas de pintura em um asilo, criar grupos de teatro nas escolas, clubes, cantar com os amigos nas festas. Mas, novamente, as pessoas querem brilhar. Confundem vocação com a vontade de aparecer.

Um grande músico pode ser pobre e desconhecido. Repercutirá no mundo cultural e artístico. Mas ninguém se conforma com isso. Abandonam-se vocações, sede de viver e até amores. Mesmo não expressa em voz alta, talvez a frase que grita mais intensamente no íntimo de cada pessoa seja simplesmente:

– Eu me vendi.

Falei da área artística porque conheço mais de perto, convivo com sede de sucesso e riqueza em meu cotidiano. Mas estou farto de conhecer financistas, médicos, engenheiros idem. Poucos são felizes em ser quem realmente são. Trocam seus anseios, seu desejo de vida por um carro para se exibir, uma casa que não usam inteiramente, closets imensos, com roupas que não repetem. Existe algo mais ridículo que o caso do político escondendo uma fortuna em malas num apartamento? O dinheiro não servia para nada, a não ser para ser olhado. Como tantas contas em paraísos fiscais das quais os corruptos e traficantes não podem lançar mão, para não serem descobertos. É o patrimônio contemplado, que se torna apenas um símbolo. Sem palavras. Ainda estamos no início do ano. Não é questão de pensar em promessas como perder a barriga ou aprender um novo idioma. A grande questão geral da vida, essa sim merece atenção: quais são minhas metas? E afinal, o que levo no caixão?

Só se leva a vida que a gente viveu. Contemplo a sabedoria da minha cachorra, que nem pensa nisso. Só vive. Eu queria ser um cachorro.


segunda-feira, 23 de julho de 2018

HORA DA VITROLA: BETHÂNIA (FERA FERIDA)

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Betânia/ Foto: Arquivo google

FERA FERIDA
Maria Bethânia
De Roberto Carlos e Erasmo Carlos



Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída
Mas saí ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes no peito atingido

Animal arisco
Domesticado esquece o risco
Me deixei enganar
E até me levar por você

Eu sei quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor

Eu sei, o coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração
Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração

Eu andei demais
Não olhei pra trás
Era solto em meus passos
Bicho livre, sem rumo, sem laços

Me senti sozinho
Tropeçando em meu caminho
À procura de abrigo
Uma ajuda, um lugar, um amigo

Animal ferido
Por instinto decidido
Os meus rastros desfiz
Tentativa infeliz de esquecer

Eu sei que flores existiram
Mas que não resistiram
A vendavais constantes

Eu sei que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
O que eu não me esqueci

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração

Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração

Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração


IMAGENS: VISCONTI



O Beijo
O BEIJO


Nu

Nu



Juventude
JUVENTUDE



Morro do Castelo

MORRO DO CASTELO



A Caboclinha

A CABOCLINHA



No Verão [As Duas Irmãs]

NO VERÃO - AS DUAS IRMÃS


O Vitelo

O VITELO



Sem Título

SEM TÍTULO



***

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Eliseo d'Angelo Visconti (Giffoni Valle Piana, 30 de julho de 1866 — Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1944) foi pintor, desenhista e designer ítalo-brasileiro ativo entre os séculos XIX e XX. É considerado um dos mais importantes artistas brasileiros do período e o mais expressivo representante da pintura impressionista no Brasil. (Wikipédia)


domingo, 22 de julho de 2018

IMAGENS: JOHN EVERETT MILLAIS



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"Ofélia" (1851-1852), tela acima, é a obra mais famosa do pintor inglês John Everett Millais (1829, Londres, 1896). Para realizá-la, Millais passou quatro meses num mesmo local do condado de Surrey, a sudoeste de Londres, pintando a vegetação de fundo. Em seguida, voltou a Londres para pintar a modelo Elizabeth Siddal, que posou numa banheira cheia, tão determinado estava Millais a captar a imagem de modo autêntico. A obra é inspirada na trágica história de Ofélia (Hamlet - Shakespeare), levada à loucura e suicídio depois que Hamlet mata-lhe o pai. A obra integra o acervo da Tate Gallery, em Londres.



(Retirado do livro História da Pintura, Wendy Beckett, via blog do Luís Nassif)
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sexta-feira, 20 de julho de 2018

HORA DA VITROLA ESPECIAL: SANTA FOSSA (COM ELIS REGINA E CLARA NUNES)

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Elis Regina/ Foto: IG

Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor
(Mario Lago)

***


A NOITE DO MEU BEM

De Dolores Duran
Na interpretação de Elis Regina



Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de irmãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, como este bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda pureza (ternura) que eu quero lhe dar

***

NÃO ME DIGA ADEUS

De Paquito , Luiz Soberano , João Correa da Silva
Na interpretação de Nara Leão




Não. . . . não me diga adeus
Pense nos sofrimentos meus
Se alguém lhe dá conselhos
Pra você me abandonar......
Não devemos nos separar
Não vá me deixar
Por favor
Que a saudade é cruel
Quando existe amor
Não . . . .não me diga adeus
Pense nos sofrimentos meus


***




CORAÇÃO LEVIANO

De Paulinho da Viola
Na interpretação de Clara Nunes



Trama em segredo teus planos
Parte sem dizer adeus
Nem lembra dos meus desenganos
Fere quem tudo perdeu

Ah coração leviano não sabe o que fez do meu
Ah coração leviano não sabe o que fez do meu (mas trama)
Este pobre navegante meu coração amante

Enfrentou a tempestade
No mar da paixão e da loucura
Fruto da minha aventura
Em busca da felicidade

Ah coração teu engano foi esperar por um bem

De um coração leviano que nunca será de ninguém