sábado, 31 de janeiro de 2015

CHARGES: DIRETO DA "BESTA"

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BRUM- TRIBUNA DO NORTE


ATRÁS DO JORNAL DA BESTA FUBANA 
SÓ NÂO VAI QUEM JÁ MORREU



fausto
FAUSTO - OLHO VIVO


paixao
PAIXÃO - GAZETA DO POVO



duke
DUKE - O TEMPO



clayton
CLAYTON - O POVO

VOX POPULI


“Deus ajuda quem cedo madruga”
Só um ateu juramentado pode crer numa barbaridade dessas. Deus não deixaria a ver itas os trabalhadores noturnos, muito menos os boêmios.

“Papagaio velho não aprende a falar”.
Pena que a regra não valha também para os novos. Papagaio é sempre um saco.

“Nem só de pão vive o homem”.
É vero. Um sexinho de vez em quando é bom.

“Em boca fechada não entra mosquito”.
Nem comida. Nem bebida. Sem uma e outra, a morte é certa. Abra a boca, homem!

“Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.
Melhor comprar uma furadeira. Sai mais barato. É mais rápido e ecologicamente correto.


 “Todos os caminhos levam a Roma.”
Desde que você tenha dinheiro pra pagar as passagens.

“O seguro morreu de velho.”
 E foi infeliz a vida toda.

“A chave do sucesso é a perseverança”.
Claro, claro. Desde que o sujeito persevere no rumo certo.

(Publicado em 20 de agosto de 2014)



CLÓVIS CAMPÊLO

A MINHA INSIGNIFICÂNCIA

CLÓVIS E SUA "INSIGNIFICÂNCIA"


Na casa do meu sogro, em Carolina, no sul do Maranhão, era assim: só quem dormia em cama era ele e a mulher, minha sogra. Foi assim, aliás, que constituíram uma família de nove filhos. Os filhos, estes, todos, dormiam em redes no quarto contíguo. Assim, quando fui admitido na família, inseri a minha na rede na fileira do quarto filial. Era mais um que chegava, mais uma rede para contabilizar que a família voltava a crescer e começava a receber novos agregados.

De Carolina para o Recife, foi um pulo. Na minha casa, nunca faltou uma rede. Nelas, embalei os meus filhos e os netos. Com um pouco de sorte, talvez consiga até embalar os bisnetos. A rede passou a fazer parte do nosso ambiente doméstico. Um utensílio indispensável.

Procuro no Google, o novo pai dos burros, quem inventou a rede e conformo que se trata de uma invenção ameríndia, feita originalmente com cipós e lianas. No Brasil colônia foi reinventada com algodão e enfeitada com franjas. Deixava, assim, de ser um utensílio doméstico indígena para ser um ornamento a mais nas casas dos nossos invasores e dominadores.

Durante muitos anos morei em um prédio no bairro do Cordeiro, no Recife, onde disputava com um vizinho para ver quem permanecia mais tempo na rede, à noite, nos terraços dos nossos apartamentos. Era uma disputa mais do que amigável, já que ele, um matuto de Jataúba, cidade situada no agreste do Estado, não dispensava horas de relaxamento e cochilos na rede.

Por essa época, apelidei a rede de “minha insignificância”. Sempre que precisava interromper alguma conversa longa ou desinteressante, usava sempre esse argumento: “já está na hora de me recolher à minha insignificância”! Funcionava a contento, as pessoas entendiam e até achavam graça.

Hoje, mesmo morando no décimo sexto andar de outro edifício, não dispenso a rede no terraço, onde costumo ver a lua cheia nascer por trás dos edifícios da Madalena. Mesmo assim, ainda insatisfeito por conta dos dias de chuva, que me privam do terraço panorâmico, instalei outro armador de rede na sala para as emergências.

Por nada nesse mundo, eu me separo da minha insignificância!


Recife, dezembro 2014

NÚBIA NONATO

www.gopixpic.com



DOM

Pense numa caixa de lápis de cor,
pense nas misturas possíveis e
impossíveis, feche os olhos com
força e deixe a imaginação dar
o seu próprio tom.

Abra os olhos e na sua frente
surgirá a mais linda borboleta
que sem a menor pretensão de
te ofuscar rouba de ti o que
Deus lhe deu de graça, o dom.




sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

FIM DA LINHA

matriz2006.blogs.sapo.pt

E nada mais foi dito, após a sentença ser decretada.

Os filhos se entreolharam comovidos, sob o olhar aflito, mas firme, da mãe.

O velho também não disse palavra. Olhava o nada, sem lágrimas.

Sabia que aquilo – sua interdição – não era maldade.

Era inevitável.




CHARGES: DIRETO DA "BESTA"



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NANI - CHARGE ONLINE


ATRÁS DO JORNAL DA BESTA FUBANA 
SÓ NÂO VAI QUEM JÁ MORREU


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WALDEZ - AMAZÔNIA JORNAL



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MIGUEL - JORNAL DO COMMERCIO



luscar
LUSCAR - CHARGE ONLINE




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JARBAS - DIÁRIO DE PERNAMBUCO



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FRED - CHARGE ONLINE

RAPIDÍSSIMAS (LXIII)

www.bolachachoca.com.br

ENTENDER...
Todo mundo entende, quero ver suportar.

PLAYGROUND
Crianças são adoráveis. Na barriga da mãe.

O QUE É ISSO, PAI?
Não me agradeça por nada, me perdoe pela pouca paciência.

RETRATO 3 X 4
-- Afinal, quem você é?
-- Um desassossegado, por natureza e sina.

ZÉ PANCADA
A cada semana, ele adquire novas manias. 
Sem abrir mão das antigas.

SABIÁ
Eu ainda te amo tanto. Acho que é pra sempre.

VERÃO, VERÃO
Querem saber? Estou mais cansado que puta em final de expediente.

EFEITO SANFONA
Único jeito de acabar com a praga é não emagrecer mais.


www.dicascomoemagrecer.com


UM HOMEM FELIZ
Ninguém o levava a sério.

ZERO A ZERO
Nunca dei a mínima para mulheres muito lindas. 
Elas sempre me retribuíram com a mesma moeda.



BRUNO NEGROMONTE

NINGUÉM PASSA INCÓLUME AO SEU SOM...
Entre os mais variados gêneros Wesley Nóog mostra aquilo que lhe constitui
Com quinze anos de estrada e cinco álbuns lançados Wesley Nóog traz em sua música um balanço genuinamente brasileiro norteado principalmente pelos grandes nomes do soul nacional. Ativista cultural, poeta, cantor e compositor, Nóog traz seu DNA constituído por música, uma vez que seus pais e tios são coristas e maestros. Filho de funcionários públicos e de família religiosa baseada na tradição metodista, o pequeno Ocimar Wesley Nogueira estudou Teologia e música e teve uma infância ambientada neste contexto sempre alimentando o desejo de cantar e compor. No entanto a sua pobre infância acabou o afastando deste desejo que tanto acalentava por conta de motivos maiores. Atendendo a vontade dos pais Wesley priorizou seus estudos seguindo, aos 16 anos, para o Seminário, onde permaneceu por 12 anos sem nunca abrir mão do desejo germinado ainda na infância. Pelo contrário, foi no Seminário que o artista teve a oportunidade de não só alimentar a sua fé assim como também mergulhar na música e desenvolver as suas aptidões para a arte a partir de um bem estruturado ambiente, onde somado a atmosfera da década de 1970 propiciou ao jovem Ocimar o ambiente ideal para sincretizar a sua arte. Vale registrar que ao longo deste período teve a oportunidade não só de estudar em uma escola estruturada numa fazenda ocupada como também foi educado e conviveu com professores que tinham como herança a Teologia da Libertação das comunidades eclesiais de base, fomentando de modo substancial aquilo que Nóog começou a desenvolver como arte a partir das influências captadas através da sonoridade de nomes como Tim Maia, Jorge Ben, Cassiano, Carlos Dafé e Hyldon, artistas de fundamental importância para a formação da sonoridade do artista.
Ligado a movimentos populares, Wesley Nóog procura levar para a sua arte um pouco daquilo que busca alcançar também enquanto cidadão desde que iniciou sua carreira em 1993 com o grupo Swing e Cia. Após cinco anos no grupo passou a integrar outro grupo, o Estação Fankalha, relevante grupo do cenário musical alternativo. Seu primeiro trabalho solo foi registrado em forma de single e foi composto por duas faixas. Intitulado de "Mameluco Afro Brasileiro", este debute fonográfico do artista se deu em 2008 como prévia de um projeto mais ousado que culminaria dois anos depois com um álbum constituído por 10 músicas, esmerado através do resultado de um profícuo diálogo entre os ritmos existentes no Brasil aliados as influências do soul e da black music. Nesta trajetória sempre optou por seguir um caminho alternativo aquele imposto pelas indústrias fonográficas, o que fez com que sua música fosse atrelada aquilo que lhe convinha, o que acabou favorecendo de modo substancial o seu engajamento devido as parcerias com alguns movimentos populares, como a Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) um dos movimentos artísticos mais ativos do estado de São Paulo. "Estar ligado a estas iniciativas permite que eu tenha uma visão mais clara da realidade como também ter ações transformadoras que são negadas pela educação 'oficial' e, acima de tudo, exercer a minha função na história como artista cidadão, aquele que vai onde o povo está", bem define o artista mostrando a sua arte em lugares como a França, por exemplo.
"Soul assim" é um projeto totalmente autoral que busca refletir, de certo modo, como uma espécie de autobiografia coletiva, procurando registrar histórias da periferia a partir da figura de Wesley. O disco que conta com onze faixas, perpassa por gêneros como o samba soul, o funk, o charme entre outros que não só constituem toda a sua sonoridade mas também daqueles que o influencia artisticamente. Faixas como "Não Há Mal que Prevaleça", Nóog conta que fez uma modesta leitura do suingue do saudoso mestre Tim Maia. Em "Parati" Wesley tem a possibilidade de não só prestar uma homenagem ao município do litoral carioca como também usar o título como dedicatória a partir de um jogo de palavras, o samba-soul "Melhores Sabores" trata de modo análogo alguns dos diversos sabores que extrapolam os dotes culinários. Canções como "Chora Cuíca", "Meu Samba", "Vários Erros", "Presente de Flores" e "Salve a Flor" trazem a possibilidade de ouvir e avaliar a diversidade do artista a partir de sua veia sambista. Já "Cantador Guerreiro" aborda de modo melódico e poético o sincretismo religioso existente em nosso país. O disco ainda conta com "A Esperança Passa" e "Soul Assim" que batiza o álbum deste artista que almeja um dia conquistar os fãs do ídolo Tim Maia. Em síntese pode-se afirmar que o álbum é uma espécie de autobiografia de todas as coisas que o artista vive e observa. 
Produzido pelo maestro Claudio Miranda e pré produzido pelo próprio Nóog em parceria com Tiano Bless (que também é responsável pelos teclados, efeitos e moogs), a ficha técnica do álbum "Soul assim" conta ainda com nomes como Paulinho (bateria) Pikeno (percussão), Claudio Miranda (cavaquinho, banjo, baixo, guitarra, violão e percussão); Cintia Pitcci (flautas, sax e arranjos), Richard Oliveira (trombone, trompete, sax, flautas e arranjos); Nando Rangel e Celso Bernucio (guitarra musical parati) e Rafael Azevedo (contra baixo elétrico). A divulgação e prensagem do álbum contou com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que através do Corredor Cultural Mameluco Afro Brasileiro (iniciativa criada pelo próprio Nóog). É válido registrar que todas essas parcerias e articulações contribuíram de modo significativo para o barateamento do projeto. O disco que a princípio exigia um investimento de cerca de R$ 70 mil, saiu por cerca de R$ 20 mil, ou seja, 70% a menos que os números iniciais. Deste modo Wesley Nóog vem traçando de forma bastante peculiar a sua arte, deixando refletir-se nela tudo aquilo que a periferia assimila a partir da grande mídia e da indústria cultural em um momento de verdadeira antropofagia de nós mesmos como vocês poderão conferir ao ter a oportunidade de conhecer não só a arte mas todo o engajamento do artista. Fica para os amigos leitores duas faixas de "Soul assim". A primeira trata-se de "Meu samba", canção como já dito da lavra do próprio artista e que pode ser acessada a partir do link abaixo: http://minhateca.com.br/brunonegromonte/Faixa+01(1),215940328.mp3(audio) A segunda canção trata-se de "Não há mal que prevaleça", onde a partir do mesmo procedimento pode ser ouvida através do link: http://minhateca.com.br/brunonegromonte/Faixa+02,215940271.mp3(audio)%3C/div

DALINHA

Dalinha Catunda

DONA DA RINHA

Você deu uma de macho
Quis cantar em meu terreiro
Vá trepar noutro poleiro
Ou lhe faço de despacho
Não pense que sou capacho
Que eu posso perder a linha
Não diga que é culpa minha
Não caia nessa esparrela
Tenho peito e não titela

Aqui só comando a rinha.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

CHARGES: DIRETO DA "BESTA"


SAMUCA – DIÁRIO DE PERNAMBUCO


AUTO_samuca


MYRRIA – A CRÍTICA


AUTO_myrria


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FRED – CHARGE ONLINE

fred


LUSCAR – CHARGE ONLINE



luscar

CHARGES: DIRETO DA "BESTA"

nani
NANI – CHARGE ONLINE


ATRÁS DO JORNAL DA BESTA FUBANA 

SÓ NÂO VAI QUEM JÁ MORREU



bdp
SPONHOLZ – JBF


thiagolucas
THIAGO LUCAS – FOLHA DE PERNAMBUCO
AUTO_myrria
MYRRIA – A CRÍTICA



HIPOTIROIDISMO

blog.diariodonordeste.com.br

-- Não sei por que estou engordando tanto assim. Eu como tão pouco, doutor. Deve ser problema de metabolismo preguiçoso. Só pode ser isso – jura a paciente, notória saqueadora noturna de geladeiras.

23/10/2013

IMAGENS: CLÓVIS CAMPÊLO



ENTRE A NATUREZA E O CONCRETO
Recife, dez/2013
Fotografia de Clóvis Campêlo





A BORDO DO FERRY-BOAT
Baía de São Marcos
São Luís/MA, fevereiro 2014
Fotografias de Clóvis Campêlo


 









NÚBIA NONATO

DURAS PENAS


www.pipocadebits.com

Aprendi a duras penas que
o rugir de uma tempestade
dura pouco, que as  ondas
que se elevam sobre o farol,
repousam plácidas  como
pequenas vagas  espumantes
que lambem meus pés.

Aprendi que é no silêncio onde
povoam os mais vis pensamentos,
que o meu mais forte e cruel
oponente  habita, eu mesma.

Que eu me permita ao açoite
das tempestades, ao assédio
incansável das ondas furiosas.
Que eu me permita dobrar-me
humildemente e escutar no
vão das vicissitudes a voz
cúmplice do Criador.


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

PELA RAZÃO ERRADA

praiadeubatuba.blogspot.com

Souza chegou ao consultório médico devastado: trêmulo, suando frio, pressão nas alturas, coração ameaçando sair pela boca.

O doutor foi direto ao ponto:

-- O senhor vai ter que se submeter a uma série de exames. Preciso saber os estragos que esse seu estresse medonho já provocou. O que está acontecendo?

-- Doutor é o seguinte: não suporto mais trabalhar onde trabalho. É muita pressão, muita grosseria dos chefes, muitas exigências descabidas. E o salário não é lá essas coisas, tenho condições de ganhar mais em outro lugar. Não consigo descansar nos finais de semana. Só de saber que a segunda-feira está chegando, surto.

-- E por que o senhor continua lá?

-- Porque, verdade seja dita, o plano de saúde que a empresa oferece aos funcionários é muito bom. Só por isso.  

Publicado em 18/09/2014


COISAS DA VIDA

O TROTE

(Por Violante PImentel) Margarida e Deusa eram duas empregadas domésticas, que trabalhavam na casa de Dona Dalva, em Nova Cruz. Desde o dia em que começaram a trabalhar juntas, estabeleceu-se entre elas uma grande antipatia. Eram rivais no amor e disputavam o mesmo homem. Perderam a cerimônia da dona da casa, e passaram a se agredir na sua frente.

Num certo dia, as duas mulheres se agrediram fisicamente, chamando a atenção dos vizinhos. A dona da casa já estava propensa a dispensá-las, e a contratar novas serviçais.

Havia em Nova Cruz um homem muito astucioso, por nome Manoel Toscano, vizinho de Dona Dalva. Cheio de ouvir as brigas das duas empregadas, Manoel resolveu fazer-lhes um susto. À noite, o telefone de Dona Dalva tocou, e uma voz masculina, dizendo que estava falando da Delegacia de Polícia, pediu para falar com Margarida da Silva e Deusa dos Santos. As duas foram, então, “intimadas” a comparecer àquela delegacia de Polícia, às oito horas da manhã seguinte.


Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

As duas mulheres foram dormir assustadas, e pela manhã, antes da hora marcada, já estavam na delegacia de Polícia. Logo foram avisadas de que o Delegado ainda não havia chegado, e que elas deveriam permanecer naquela sala aguardando.  Foram chegando outras pessoas, e a sala de espera, aos poucos, ficou lotada. Já eram quase 11 horas, quando, na Delegacia de Polícia, as duas mulheres começaram a discutir, irritadas e temerosas do que iriam ouvir do Delegado. Os ânimos se alteraram e as duas se agrediram com impropérios, chamando a atenção das pessoas que ali se encontravam.

No momento em que um soldado tentava acalmá-las, entrou o Delegado, e, imediatamente, deu ordem para que elas o acompanhassem até a sua sala. A autoridade policial, então, perguntou-lhes o motivo que as levara até ali. Ouviu delas a resposta de que estavam atendendo à intimação por telefone, que dele haviam recebido na noite anterior. O Delegado, muito mal humorado, respondeu que isso não era verdade, pois ninguém podia ser intimado por telefone. Mas já que ele encontrou as duas se agredindo, inclusive dizendo palavrões, elas iriam passar o resto do dia presas, para que aprendessem a respeitar uma Delegacia de Polícia. E deu ordem ao soldado para trancar as duas mulheres numa cela, até 17 horas .

As rivais chegaram na casa de Dona Dalva arrasadas, e a partir de então acabaram-se as brigas...


CLÓVIS CAMPÊLO

SOFRÊNCIA!



Oriunda da zona da mata sul do Estado de Pernambuco, a minha mãe, durantes muitos anos, manteve um pequeno sítio na zona rural da cidade de Rio Formoso. Era um lugar maravilhoso, resultante do desmembramento do Engenho Carrapato, onde ela vivera quando menina. Um local repleto de árvores frutíferas, repletas de pássaros canoros, cortado por um pequeno riacho, repleto de peixes e muçus.

Ainda menino, gostava de estar ali nas férias. Mas, sempre nos finais de tarde, apesar de curtir o local, era acometido de uma tristeza inexplicável, uma depressão que se desfazia na manhã seguinte, quando o sol a tudo iluminava. Nunca entendi direito esse sentimento negativo que me acometia a alma no final do dia.

Sempre imaginei que apenas eu, nesse mundo repleto de pessoas boas e más, fosse o depositário dessa emoção. Até que um dia, entrevistando o escritor Edson Nery da Fonseca, no belo sobrado onde morava, na cidade de Olinda, ouvi-o dizer a mesma coisa: não gostava dos entardeceres bucólicos dentro do mato. Preferia os fins de tarde à beira-mar, curtindo a sinfonia dos ventos e sentindo os últimos raios do sol que se ia. Éramos companheiros, portanto, naquele sentimento estranho e supostamente solitário.

Clóvis Campêlo

Também nos dias de chuva, sinto-me alterado por uma tristeza inexplicável. Como bom sagitariano que sou, preciso do calor e da luminosidade do sol para me energizar. Não conseguiria, portanto, morar em um local onde o céu não seja aberto e azul, e o dia claro como deve ser um dia feliz.

A explicação para isso encontrei no livro de homeopatia do dr. Nilo Cairo, onde ele mostra que o aumento da pressão barométrica nos dias de chuva pode influenciar de modo negativo algumas almas mais sensíveis. Do mesmo modo, o aumento da umidade relativa do ar, fazendo com que os fungos proliferem também pode afetar os maníacos depressivos como eu, e deixar-lhes de baixo astral.

Quando menino, no inverno chuvoso do Pina, quando a praia e o mar desapareciam no ambiente púmbleo e invernoso, imaginava-me como um pato selvagem dos desenhos animados da televisão, migrando para o sul em busca do sol quente.

Enfim, a vida é isso. Somos animais que reagem química e fisicamente aos estímulos externos. Adaptar-se é preciso para sobrevivermos. Acho que consegui.


Recife, janeiro 2015




sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

BRUNO NEGROMONTE

JOÃO TAUBKIN - ENTREVISTA EXCLUSIVA
Um baixo, guitarra, violão e uma bateria; eis o João Taubkin Trio, um projeto contemporâneo constituído por diversos gêneros em uma coerente unidade sonora
Se alguns sobrenomes pesam dentro da música o que João traz é um deles. João Taubkin é filho do conceituado pianista, arranjador, compositor e produtor Benjamim Taubkin, mas vem trilhando o seu próprio caminho no universo fonográfico desde 2002, quando participou da gravação do CD "Danças, jogos e canções", da Orquestra Popular de Câmara. De lá até cá vem dando vazão a sua sonoridade não só acompanhando o seu pai, mas através de diversos projetos ao lado de outros grandes nomes da música brasileira, tais quais Paulo Moura, Léa Freire, Mônica Salmaso entre outros. Sem contar a sua trajetória internacional ao lado de nomes como o do argentino Carlos Aguirre, o do indiano Madhup Mudgal e o do suíço Laurence Revey. Tudo e muito mais sobre o entrevistado de hoje pode ser conferido através da pauta publicada ao longo da semana anterior aqui mesmo nesta coluna. Não deixando as parcerias de lado, atualmente João hoje vem dedicando-se ao projeto João Taubkin Trio, que ao lado do baterista Bruno Tessele e do guitarrista Zeca Loureiro vem brilhantemente conseguindo encontrar o eixo central da alquimia sonora a qual se propuseram ao dar início a esta ideia. De modo bastante solicito, João Taubkin disponibilizou um pouco do seu tempo para nos presentear com esta despretensiosa e exclusiva entrevista que traz, dentre outras coisas, curiosidades a respeito de sua biografia e de sua carreira tais quais como o seu caminho cruzou com outros componentes do seu trio, suas influências enquanto músico e quais os projetos para este ano que acaba de começar. Boa leitura!
Quem conhece a sua biografia sabe que você tem um histórico familiar de envolvimento com a música, mas isso nem sempre é fator determinante para que nos tornemos músico. Quando foi que você atinou para a música por conta própria?
João Taubkin - No inicio do ginásio criei um grupo de rock com os amigos e desde então nunca mais parei. Na época tocava guitarra. Quando terminei o colegial não sabia o que eu queria fazer, entrei no cursinho no embalo e nesse cursinho fiquei por 1 mês. Cabulava muitas aulas e comecei a perceber que não tinha sido uma boa escolha. A partir daí, decidi me aprimorar como músico e o instrumento que escolhi foi o baixo (que já tocava no colegial). Fui fazer aula com o Celso Pixinga, que foi uma pessoa importante e por volta de 2001, meu tio Daniel Taubkin me chamou pra fazer parte do grupo dele que era formado por grandes músicos como o percussionista Guello, João Crystal, Emerson Villani e Gigante Brazil. O Gigante em especial, foi uma pessoa muito importante nesse inicio, principalmente pela generosidade. Daí em diante, comecei a tocar com o meu pai e com outros grandes professores. Essa foi a minha faculdade.
Você passou todo o ano de 2010 na maturação da ideia e na elaboração daquilo do molde que você buscava para o projeto. Ao longo desse tempo houve alguma mudança significativa na concepção do João Taubkin Trio?
JT - Quando você não está mais sozinho, as pessoas que estão no processo (Zeca e Bruno) passam a influenciar o trabalho. Isso é inevitável.
Como se cruzaram os caminhos do Bruno Tessele e do Zeca Loureiro com o teu?
JT - O curioso é que conheci ambos na oficina de musica de Curitiba em momentos diferentes no inicio do ano 2000. Na experiência dessa oficina, os alunos de todos os cursos se encontravam nos intervalos pra fazer um som. Foi assim que a gente se conheceu, já tocando.
Todas as faixas presentes neste projeto levam a sua assinatura. Todas elas foram concebidas para atender a este projeto ou já havia alguma engavetada que acabou encaixando-se a esta proposta?
JT - A maioria das músicas presentes no disco não foram feitas pensando na formação de trio. Quando o trio se formou, eu adaptei as músicas.
Certa vez em entrevista seu pai comentou que haveria dois tipos de música: uma que atende a expectativa do mundo e aquela que há dentro de você. O grande desafio seria conciliar essas duas realidades. Você quando compõe leva em consideração essas realidades e procura adequá-la do modo mais harmonioso possível ou não?
JT - Eu faço música sem pensar nessas questões. Ela nasce de uma expressão genuína. Se eu gostar, coloco ela no mundo.
Ser filho de um músico do gabarito do Benjamim facilita as coisas ou a responsabilidade só aumenta? Essa inevitável referência ao nome do seu pai o incomoda?
JT - A responsabilidade aumenta mas ao mesmo tempo, ser filho dele, me possibilitou estar em contato com a música e músicos da melhor qualidade. Essas experiências sempre me colocaram em situações de muita exigência, que foi muito bom pra mim. Nunca consegui um trabalho por ser filho dele mas as experiências que tive ao lado dele são inesquecíveis. A referência que as pessoas fazem em relação ao meu pai é inevitável, mas quando as pessoas conhecem a minha música fica claro que a minha identidade é outra.
Quais as suas maiores influências que você destacaria na concepção de sua sonoridade além do Benjamim?
JT - Minhas influências são diversas mas destaco como principais o Led Zeppelin e o Milton Nascimento. Esses sons mudaram a minha vida.
É possível perceber que sua música não faz concessão. Há ramificações sonoras diversas, por exemplo, neste seu primeiro álbum. Passar longe do conceitual é uma busca constante em sua sonoridade ou é algo espontâneo?
JT - A minha busca é pela identidade. Ela nasce como resultado das experiências que vivi ou inspirada por um filme, um show, uma viagem, uma pessoa, um lugar.
A música instrumental brasileira apesar de riquíssima e de grande sucesso junto a festivais no Brasil e no Exterior não tem o espaço devido nos grandes meios de comunicação. Você acredita que este tipo de cenário é reversível ou tornou-se algo crônico, uma vez que a desvalorização de nossos valores culturais é algo que está presente em nosso consciente coletivo já há muitos anos?
JT - É uma situação delicada pois o ‘jabá’ é um sistema muito atrativo pra quem quer fazer dinheiro. Por exemplo, o artista paga pra rádio, a rádio toca a música infinitas vezes e com isso ele vende mais discos, mais shows e consegue continuar pagando esse jabá. É um sistema que se retroalimenta. Falo da rádio nesse exemplo, mas incluo todos os meios de comunicação. Daí cai na questão da educação. As pessoas são educadas por esses veículos. Esse sistema impossibilita a diversidade da informação. Quem não tem contato com uma cultura de qualidade tem o acesso muito mais restrito, pois esses veículos constrõem um muro de concreto na entrada do caminho que possibilitaria isso. Não acho que a música instrumental tenha que ser uma música das grandes massas, ao meu ver ela não tem esse perfil, mas o espaço que ela ocupa é muito pequeno, a fatia do bolo deveria ser mais generosa. Apesar disso, tem gente séria que divulga a boa música, com menos força que esses grandes veículos mas cumprem um papel muito importante.
Quais os projetos para este ano de 2015?
JT - Em 2014 o trio fez seu primeiro show fora do país, em um festival de música na Colômbia. Fora isso terei o prazer de participar de projetos de outros artistas. Sou muito feliz com o meu projeto, mas tenho muito prazer em fazer parte de outros trabalhos. Isso garante o meu sustento e me enriquece como ser humano. Amo o que faço! Eu vivo cada dia. Acho que isso afina o olhar para as coisas e abre um monte de possibilidades.