domingo, 31 de março de 2019

QUASE HISTÓRIAS: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE

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Dizem os tratadores de almas e mentes que, para viver em paz consigo mesmo, o sujeito tem que se aceitar como ele é. Viver em paz é uma coisa. Ser feliz é outra – coisa que só a turma da Xuxa, salvo engano, consegue ser. Aceitar-se exige paciência e dinheiro. Passar metade da vida estirado no divã a confessar o inconfessável é empreitada para valentes. Não precisei dos préstimos de analistas. Passei a me aceitar melhor por absoluta falta de opção. Aos poucos, por desastrado completo, fui sendo impedido de fazer tarefas para as quais jamais tive aptidão e saco. O problema é que, no início, me sentia humilhado. Afinal, era o homem da casa – e, como se sabe, homem da casa não escolhe nem recusa tarefa.

Sempre tive grandes dificuldades para, por exemplo, trocar aquela pecinha de torneira – cujo nome agora me escapa. A falta de coordenação motora, que muitos atribuem ao fato de não ter cursado o jardim da infância e o pré-primário, me atrapalhou um bocado, a ponto de me impedir de unir as pontas de dois fios e passar a fita isolante na maldita emenda. Trocar lâmpada nunca foi problema. O problema continua sendo subir os degraus. Tenho problema com altura. Escalo um degrau, dois degraus e, no terceiro, fico mais tonto que o habitual. Nunca me recusei a trocar pneu de carro. Desde que tenha alguém para me colocar os parafusos nas porcas, que insistem em brincar comigo de esconde-esconde.

A lista de minhas impossibilidades é vasta.

No começo, me sentia inferior a outros homens do lar. Ficava amuado quando me comparavam aos que consertam fechaduras, põem óleo nas janelas engripadas, trocam o botijão de gás, aparam grama, pintam o portão da garagem etc. Nunca soube fazer nada disso. Mas hoje vejo que minhas inutilidades não são de todo inúteis. Dou de ombros às gozações, e me estiro no sofá. Já não quero saber para quê sirvo. Essa preocupação passou a ser de minha mulher:

-- Não te largo, sem descobrir sua utilidade, diz.

Nosso casamento vai longe. Se nem eu sei minha utilidade...

(Atualizado em março de 2019)

sexta-feira, 29 de março de 2019

CHÁ DAS CINCO: CLARICE LISPECTOR (INTELECTUAL? NÃO)

FOTO: ARQUIVO GOOGLE


INTELECTUAL? NÃO.

Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que, agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade. Além do que leio pouco: só li muito, e li avidamente o que me caísse nas mãos, entre os treze e os quinze anos de idade. Depois passei a ler esporadicamente, sem ter a orientação de ninguém. Isto sem confessar que – dessa vez digo-o com alguma vergonha – durante anos eu só lia romance policial. Hoje em dia, apesar de ter muitas vezes preguiça de escrever, chego de vez em quando a ter mais preguiça de ler do que de escrever.

Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros “uma profissão”, nem uma “carreira”. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora?

O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.

Clarice Lispector em “A descoberta do mundo” 
(crônicas publicadas no Jornal do Brasil de 1967 a 1973).




RAPIDÍSSIMAS

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Ilustração: Depositphotos


CARA & COROA
Como é difícil ter amigos de fato. Como é difícil ser amigo de fato.

É COM ESTE QUE VOU
- Para onde vai este trem?
- Acho que para lugar nenhum.
- Pois é deste trem que preciso.

SÃO LONGUINHO
Em qual gaveta deixei meu rumo?

CUIDADO, TOTÓ
O cão continua sendo o melhor amigo do homem. A recíproca, apesar da onda atual, nem sempre é verdadeira.

NÃO, NÃO
A culpa não é de ninguém, não. Cada um de nós é responsável pelos seus erros e acertos. Pela sua irrelevância.

PESOS & MEDIDAS
Minhas opiniões valem pouco. Mas não abro mão de tê-las.

CONVIVÊNCIAS
A pior de todas é a involuntária.

SINA
Todo fanático é um idiota. Logo, incurável.


quinta-feira, 28 de março de 2019

HORA DA VITROLA: DJAVAN (EU TE DEVORO)

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FOTO: YOUTUBE

EU TE DEVORO
De Djavan

Teus sinais me confundem da cabeça aos pés
Mas por dentro eu te devoro
Teu olhar não me diz exato quem tu és
Mesmo assim eu te devoro

Te devoraria a qualquer preço
Porque te ignoro ou te conheço
Quando chove ou quando faz frio
Noutro plano, te devoraria tal Caetano
A Leonardo DiCaprio

É um milagre
Tudo que Deus criou pensando em você
Fez a Via-Láctea, fez os dinossauros
Sem pensar em nada, fez a minha vida
E te deu

Sem contar os dias que me faz morrer
Sem saber de ti, jogado à solidão
Mas se quer saber se eu quero outra vida
Não, não!

Teus sinais me confundem da cabeça aos pés
Mas por dentro eu te devoro
Teu olhar não me diz exato quem tu és
Mesmo assim eu te devoro

Te devoraria a qualquer preço
Porque te ignoro ou te conheço
Quando chove ou quando faz frio
Noutro plano, te devoraria tal Caetano
A Leonardo DiCaprio

É um milagre
Tudo que Deus criou pensando em você
Fez a Via-Láctea, fez os dinossauros
Sem pensar em nada, fez a minha vida
E te deu



Sem contar os dias que me faz morrer
Sem saber de ti, jogado à solidão
Mas se quer saber se eu quero outra vida
Não, não!

Eu quero mesmo é viver
Pra esperar, esperar
Devorar você

Eu quero mesmo é viver
Pra esperar, esperar
Devorar você

Viver, viver
Pra esperar você
Quero viver
Pra esperar você
 Quero esperar você

CHÁ DAS CINCO: FERREIRA GULLAR

NETO
REENCONTRO

Estou rodeado de mortos.

Defuntos caminham comigo na saída do cinema.

São muitos,
sinto a presença ativa das magnólias
queimando em seu próprio aroma.

Os mortos acomodam-se a meu lado
como numa fotografia.

Ajeitam o paletó, a gola da blusa
e parecem alegres.

São gente amiga
com saudade de mim
(suponho)
e que voltam de momentos intensamente vividos.

Tentam falar e falta-lhes a voz,
tentam abraçar-me
e os braços se diluem no abraço.

Fitam-me nos olhos cheios de afeto.

Ah quanto tempo perdemos,
quanta desnecessária discórdia,
penso pensar.

É isto que me parecem dizer seus pálidos rostos
neste entardecer de janeiro.


FOTOGRAFIA: ANDRÉ KERTÉSZ



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***

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Húngaro, André Kertész (1894–1985) foi um dos principais fotógrafos do século XX.  Autodidata, saía pelas ruas capturando imagens do cotidiano. Apesar de ser um tema comum para muitos fotógrafos, ele buscava um outro olhar sobre as paisagens urbanas. Como a maioria dos profissionais daquela época, serviu o exército e documentou os campos de guerra a partir de suas fotografias.

Conhecido por capturar formas da vida cotidiana de um modo irreverente, em algumas de suas fotografias é possível ver claramente a influência surrealista ou as características principais do fotojornalismo. Em suas fotografias “encomendadas”– trabalhos para revistas e jornais –, Kertész se aproveitava de elementos do fotojornalismo, mas não deixava de ousar em suas composições.

A partir de 1925, Kertész foi descobrindo novos caminhos para sua obra e dando início a sua série “Distorções”, uma das mais conhecidas, sem deixar de lado seu trabalho retratando a vida cotidiana ou personalidades e artistas da época. A produção de ensaios pessoais foi o foco a que Kertész se dedicou mais no fim da sua vida.


Fonte: Livia Chiovato (Atlliê Fotografia)

sábado, 23 de março de 2019

HORA DA VITROLA: NANA CAYMMI (PRA VOCÊ)

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PRA VOCÊ
De Silvio César
Com Nana Caymmi



 Pra você eu guardei
um amor infinito
Pra você procurei o lugar mais bonito
Pra você eu sonhei o meu sonho de paz
Pra você me guardei demais,demais
Se você não voltar o que faço da vida
Não sei mais procurar a alegria perdida
Eu nem sei bem por que terminou tudo assim
Ah! se eu fosse você eu voltava pra mim

IMAGENS: DI CAVALCANTI



Imagem representativa da obra
MULATAS - SEM DATA
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
ROMULO FIALDINI (*)


Imagem representativa da obra
SAMBA - 1925 
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
VERA ALBUQUERQUE (*)


Imagem representativa da obra
DEVANEIO - 1927
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
VICENTE DE MELLO (*)


Imagem representativa da obra
MULATAS  - 1927
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
AUTORIA DESCONHECIDA (*)


"(…) Eis o aparente paradoxo de Emiliano Di Cavalcanti: este grande individualista é um pintor social, este boêmio dispersivo é um trabalhador obstinado, este copiador de histórias pitorescas é um espírito sério capaz de disciplina. O homem Di Cavalcanti é rico em surpresas e imprevistos, solidário com outros no sofrimento e na alegria. Sabe que o prazer sempre foi um elemento importante na criação da obra de arte. Sabe que o prazer encerra também conflitos, abismos, contradições. Daí o aspecto triste, às vezes mesmo sinistro, de certos personagens festeiros de seus quadros. Todos nós sabemos que o substrato da alegria brasileira é carregado de tristeza. (…)"  Murilo Mendes



Imagem representativa da obra
RETRATO DE MARIA - 1927
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
VICENTE DE MELLO (*)


Imagem representativa da obra
MODELO NO ATELIER - 1925
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
AUTORIA DESCONHECIDA (*)


Mangue 1929 Di Cavalcanti.
MANGUE - 1925
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
AUTORIA DESCONHECIDA (**)


Pierrete 1924 Di Cavalcanti
PIERRETE - 1924
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
AUTORIA DESCONHECIDA (**)


Baile popular - 1972
BAILE POPULAR - 1972
REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA:
AUTORIA DESCONHECIDA (**)

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FONTES:
(*) ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL
(**) OBVIUSMAG.ORG

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Resultado de imagem para FOTOS DICAVALCANTI

Di Cavalcanti (06/09/1897 – /10/1976) nasceu e morreu na cidade do Rio de Janeiro. Foi pintor, caricaturista e ilustrador. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922, expondo 11 obras de arte e elaborando a capa do catálogo.

Em 1923, foi morar em Paris como correspondente internacional do jornal Correio da Manhã. Retornou para o Brasil dois anos depois e foi morar na cidade do Rio de Janeiro. Morou na Europa novamente entre os anos de 1936 e 1940.

Em 1955, publicou um livro de memórias com o título de Viagem de minha vida. Recebeu o primeiro prêmio, em 1956, na Mostra  de Arte Sacra (Itália).


FONTE: www.suapesquisa.com

MEMÓRIAS DO PARKINSON (I)

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Chegou a pensar que enlouqueceria antes de o dia amanhecer. Pensou, não: teve certeza. O pai o chamava ao quarto de hora em hora, no começo da madrugada. Depois, já no meio da madrugada, o tempo entre uma chamada e outra encurtou para meia hora.

O pai não queria mais o cobertor, queria mudar de lado, queria ficar sentado, queria tomar água, queria o cobertor de novo e mudar de lado também, queria tirar a fralda, não estava na hora do café, não?

Entre uma chamada e outra, o pai se digladiava com seus inúmeros fantasmas, chamava a polícia, chamava o ladrão, dizia palavrões que nunca dissera ao longo da vida, homem educado que sempre foi.

O dia amanheceu.

Após tomar a primeira leva de comprimidos, ainda na cama, o pai lhe perguntou:

-- Dormiu bem esta noite?

Saudade do pai.

(OS - Atualizado em março de 2019)



quinta-feira, 21 de março de 2019

CHÁ DAS CINCO: ADÉLIA PRADO (DONA DOIDA)

ADÉLIA PRADO


DONA DOIDA



Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois.  Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.

quarta-feira, 20 de março de 2019

HORA DA VITROLA: ALAÍDE COSTA & MILTON NASCIMENTO (ME DEIXA EM PAZ)



ME DEIXA EM PAZ
De Monsueto e Airton Amorim
Com Alaíde Costa
 



Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Não devia me iludir 
Nem deixar eu me apaixonar

CHÁ DAS CINCO: MANOEL DE BARROS

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Imagem: arquivo Google

MEMÓRIAS INVENTADAS

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

(De Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros)



MANHAS E ARTIMANHAS DA POLÍTICA

JOSÉ CAVALCANTI (*)




• O homem de responsabilidade política não mente: inventa a verdade.

• Político é o indivíduo que pensa uma coisa, diz outra e faz o contrário.

• O político, quando se elege, assume dois compromissos: 
um com ele mesmo e outro com o povo. O primeiro ele cumpre.

• Dinheiro é como azeite: por onde passa, amolece.

• Político sem mandato é como chocalho sem badalo: 
balança, mas não toca.

• O bem público não quer bem a ninguém, a não ser a si mesmo.

• Se queres ser bem sucedido na política, cultiva essas duas grandes virtudes: 
a sinceridade e a sagacidade. 
Sinceridade é manter a palavra empenhada, custe o que custar. 
Sagacidade é nunca empenhar a palavra, custe o que custar.

• Oposição é como pedra de amolar: afia, mas não corta.

(Fonte: "Folclore Político” números 2 e 3, de Sebastião Nery)

O paraibano José Cavalcanti da Silva (1918 — 1994) foi deputado estadual pela UDN, por quatro mandatos consecutivos, até 1963. Foi Prefeito de Patos, por cinco anos, quando teve os seus direitos políticos cassados. Escreveu cerca de vinte livros.


(setembro/2014)


O TROCO DE JÂNIO



(POR AUGUSTO MARZAGÃO) Dois meses antes de terminar o seu segundo mandato de prefeito de São Paulo, Jânio Quadros pediu ao jovem advogado Marcelo Martins de Oliveira para que me acompanhasse até o seu gabinete no Parque do Ibirapuera. Lá chegando, encontramos Jânio repreendendo alguns funcionários da prefeitura: "Vocês negligenciaram neste assunto. Não posso aceitar a decisão do juiz! Dou-lhes uma semana para resolverem essa pendência".

Marcelo quis saber por que o prefeito estava tão aborrecido. "Vejam vocês", explicou ele, "recebi há dias um telefonema do presidente do Tribunal de Justiça do Estado, pedindo para retirar os camelôs que lotavam as escadarias daquela Corte. Limpei-as. Agora me aparece uma tal associação de vendedores ambulantes brandindo uma liminar concedida pelo mesmo juiz em mandado de segurança, que permite aos camelôs retornarem ao lugar antigo, as escadarias do Tribunal. Faz sentido isso?".

Durante almoço dias depois, eu e o advogado Marcelo surpreendemos o prefeito radiante de felicidade. Jânio explica o seu novo estado de espírito: "Lembram-se daquele juiz que me aborreceu? Eu tinha descoberto onde ele mora e ao receber um pleito do sindicato dos peixeiros para que designasse um ponto de venda a céu aberto na cidade, imaginem só qual foi a minha escolha: a frente da casa do magistrado. A ele só restou levantar a bandeira branca". (Folha de S. Paulo – 25/10/2002)

Augusto Marzagão, jornalista, autor do livro "Memorial do Presente", ex-secretário particular de Jânio Quadros e José Sarney e ex-secretário de Comunicação Institucional de Itamar Franco.