domingo, 3 de março de 2019

QUASE HISTÓRIAS: ÂNGELA & ANTÔNIO


Imagem: nadafragil.com.br

Ricos mesmo nunca foram, mas já estiveram bem de vida. Compravam quase tudo que tinham vontade de comprar: de tempos em tempos, trocavam carros, móveis e eletrodomésticos; andavam bem vestidos; pagavam plano de saúde top de linha; duas vezes ao ano, tiravam quinze dias para viajar. Nunca foram para o exterior porque não falavam outra língua – e feio é que não iriam fazer, ainda mais lá fora.

Os tempos, porém, mudaram. Ângela recebe aposentadoria mixuruca. Ele, Antônio, perdeu o emprego. Há cinco anos, não encontra ocupação fixa, com remuneração decente. Paga o INSS como autônomo. Espera estar aposentado em dois anos, se o governo não mudar as regras atuais.

Naquele final de tarde, bateu em Antônio vontade forte de ir ao supermercado e encher dois carrinhos com guloseimas, como nos bons tempos. Ângela ponderou que era melhor ficarem. Mas aquiesceu. Foram. Pareciam duas crianças. Riram muito, pegaram tudo aquilo que lhes enfeitiçava os olhos. E encheram dois carrinhos com as compras. Retornaram para casa com quatro pãezinhos e uma goiabada cascão.O que deu para pagar.

Ângela preparou a sopa, Antônio não quis jantar. Ângela foi dormir, Antônio ficou na sacada olhando o nada, fumando e bebendo sem descontinuar, sem dar palavra. No outro dia, ele não tinha hora para sair da cama.  (OS - julho/2015, atualizado em março de 2019)


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