terça-feira, 31 de maio de 2016

CHÁ DAS CINCO: LYGIA FAGUNDES TELLES



Descobri outro dia que a gente só se mata por causa dos outros, para fazer efeito, dar reação, compreende? Se não houvesse ninguém em volta para sentir piedade, remorso e etc. e tal, a gente não se matava nunca. Então descobri um jeito ótimo, de me matar e continuar vivendo. Largo meus sapatos e minha roupa na beira do rio, mando cartas e desapareço.


Se é difícil carregar a solidão, mais difícil ainda
 é carregar uma companhia


Selecionei as neuroses mais comuns e que podem nos levar além da fronteira convencionada: necessidade neurótica de agradar os outros. Necessidade neurótica de poder. Necessidade neurótica de explorar os outros. Necessidade neurótica de realização pessoal. Necessidade neurótica de despertar piedade. Necessidade neurótica de perfeição e inatacabilidade. Necessidade neurótica de um parceiro que se encarregue da sua vida – ô! Deus – mas desta última necessidade só escapam mesmo os santos. E algumas feministas radicais.


O mal está no próprio gênero humano, ninguém presta.
Às vezes a gente melhora.
Mas passa


O poeta dizia que era trezentos, trezentos e não sei quantos. Eu sou apenas duas: a verdadeira e a outra. Uma outra tão calculista que às vezes me aborreço até a náusea. Me deixa em paz! – peço e ela se põe a uma certa distância, me observando e sorrindo. Não nasceu comigo mas vai morrer comigo e nem na hora da morte permitirá que me descabele aos urros, não quero morrer, não quero! Até nessa hora sei que vai me olhar de maxilares apertados e olho inimigo no auge da inimizade: “Você vai morrer sim senhora e sem fazer papel miserável, está ouvindo?” Lanço mão do meu último argumento: tenho ainda que escrever um livro tão maravilhoso... E as pessoas que me amam vão sofrer tanto! E ela, implacável: “Ora, querida, as pessoas estão fazendo montes. E o livro não ia ser tão maravilhoso assim”. É bem capaz de exigir que eu morra como as santas.



MARCELO F. ABREU




Obras de Lygia Fagundes Telles:

Porão e Sobrado, contos, 1938
Praia Viva, contos, 1944
O Cacto Vermelho, contos, 1949
Ciranda de Pedra, romance, 1954
Histórias do Desencontro, contos, 1958
Verão no Aquário, romance, 1964
Histórias Escolhidas, contos, 1964
O Jardim Selvagem, contos, 1965
Antes do Baile Verde, contos, 1970
As Meninas, romance, 1973
Seminário dos Ratos, contos, 1977
Filhos Prodígios, contos, 1978
A Disciplina do Amor, contos, 1980
Mistérios, contos, 1981
Venha Ver o Por do Sol e Outros Contos, 1987
As Horas Nuas, romance, 1989
A Noite Escura e Mais Eu, contos, 1995
Biruta, contos, 2004
Histórias de Mistérios, contos, 2004
Conspiração de Nuvens, contos, 2007
Passaporte para a China, contos, 2011


FRASES: BERNARD SHAW

INTERNET

De todas as perversões sexuais a castidade é a mais perigosa.

***

Inocente é aquele que não foi apanhado em flagrante.

***

O especialista é um homem que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, e por fim acaba sabendo tudo sobre nada.

***

Os capazes criam, os incapazes ensinam.

***

A reputação de um médico se faz pelo número de pessoas famosas que morrem sob seus cuidados.

***

Um homem é tão mais respeitável quanto mais numerosas são as coisas das quais se envergonha.

***

A dança: uma expressão perpendicular de um desejo horizontal.

***

Enquanto tiveres um desejo, terás uma razão para viver. A satisfação é a morte.

***

Não faças aos outros o que gostarias que te fizessem a ti. O gosto deles pode não ser o mesmo.

(Fonte: Pensador UOl)




George Bernard Shaw (1856-1950), polemista e dramaturgo irlandês, nasceu em Dublin e iniciou sua carreira como crítico de artes. Exercitou a ficção e o ensaio, mostrando o poder de fogo da ironia cortante e a visão do mundo peculiar em que vivia. Consagrou-se no teatro, deixando clássicos como "A profissão da sra. Warren" (1902) e "Pigmalião" (1913), esta última, sua peça mais popular, e que, em 1964, deu origem ao filme "My fair Lady". O autor foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1925.

(Fonte: Projeto Releituras)



QUASE HISTÓRIAS (I)

www.acidadevotuporanga.com.br

OLHOS

-- Você está ficando velho, meu velho. Não se preocupe, não. Ninguém lhe dá a idade que, de fato, tem. Parece ter quinze anos a menos. Continua bonito, conservado. Mas – como eu – envelheceu.

-- Por que diz isso?

-- Seus olhos marejam por qualquer coisa. Os meus também.

SENHOR

Não me queira mal por chegar assim: de mãos abanando. Cheguei como pude – sem terno, sem mortalha, sem roupinha melhor. Sem compostura. Compostura, aliás, nunca foi minha praia. Venho como vivi: quase pelado: de bermuda ordinária, camiseta, chinelos, assuntando inutilidades.  Com cigarros no bolso, caixinha de fósforo na mão... Pode fumar aqui, Senhor?

DIÁLOGO NO BOTECO

-- Então, como ficaram seus olhos após a operação?

-- A mesma porcaria de antes. Tanto faz eu estar de óculos ou sem óculos. Enxergo a mesma coisa: muito mal.

-- Então, deixe os óculos em casa. Pelo menos, o senhor deixa de carregar um peso desnecessário.




O CANTO DE VÓLIA


DIÁRIO DE BORDO

Ah coração!
Por onde andas nesses mares de calmaria?  
Enerva-me a falta de ventos,
Eles pressupõem o tédio,
Que não é companheiro da poesia.

Ah coração!
Eu bem faço gosto quando abrigas
Amores clandestinos!
Desses inesperados,
Que dizem ser frutos do destino...

Mas a que destino leva essas águas?
Quantas tempestades já enfrentaste!
Quantas vezes saíste avariado,
Com as velas rotas, os mastros quebrados,
Assim tristonho, de bandeira a meio pau!

Quantas vezes pensei naufragar
Em mares bravios,
Em noites de tormentas,
Onde ficaste à deriva,
Acompanhando do vento o rodopio?

Ah coração!
Foram tantas aventuras,
Tantas tempestades,
Tantos motins,
Tantos amores clandestinos...

E hoje, ancorada em porto seguro,
Eu canto e conto as aventuras,
De ventos e céus brumosos,
De brisas e céus de brigadeiro.
De buscas e lutas pelo amor verdadeiro.

(04/02/2016)

Vólia Loureiro do Amaral Lima é paraibana,
 engenheira civil, poetisa, romancista e artista plástica. 
Autora das obras Aos Que Ainda Sonham (Poesia) 
e Onde As Paralelas Se Encontram (Romance). 
Acaba de lançar seu segundo livro de poesias:
As Rosas que Nascem no Asfalto.



CHARGES: SPONHOLZ

















Roque Sponholz é arquiteto, urbanista, 
professor universitário, 
chargista, caricaturista e cartunista 

COISAS DA VIDA

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GIGACONTEUDO.COM


A INDIGESTÃO

(Por Violante Pimentel) Dona Francisca, com a sua mania de aproveitar as coisas, resolveu comer, à noite, umas bananas bem madurinhas, quase estragadas. Não comeu uma nem duas...Comeu  umas dez. Meia hora depois, bateu-lhe uma indigestão,  com fortes dores abdominais. Já com 70 anos, essa extravagância fez bastante mal à bondosa mulher. Nada de diarreia, nem vômito. Eram apenas dores de estômago e gases. O mal-estar fez com que Dona Francisca se deitasse na cama, esperando melhorar, após tomar um chá de boldo. Mas, nada do chá fazer efeito. O abdome parecia estar inchado. A mulher começou a ficar nervosa. Chamou Izabel, a irmã solteirona, quase da sua idade, e a parenta Idila, e disse que queria conversar com elas. As duas se sentaram ao lado da cama. Dona Francisca começou a chorar, e se dirigiu à irmã:

- Izabel, minha irmã! Sei que vou morrer! De hoje, eu não passo!!! Sinto que minhas forças estão indo embora! Essas bananas amaldiçoadas acabaram comigo! Se eu escapar, nunca mais quero ver banana na minha frente!!! Ai, meu Deus, eu vou morrer!!!

Izabel, muito franca e grosseira, começou a se irritar com a “doente”, e, para acalmá-la, respondeu:

- É isso mesmo, minha irmã! Você se conforme, porque, se chegou a sua hora de morrer, você tem que ir!!!  Ninguém pode ir no seu lugar! Quem manda no destino da gente é Deus. Pode se conformar, pois se chegou a hora, não tem jeito!!! Você vai morrer mesmo! Mas você é muito católica e vive falando que quer ir para o céu, então, bote na sua cabeça que você vai para o céu!!! Vai ver Jesus Cristo de perto!


Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte

A doente não gostou das palavras da irmã. Não viu nenhuma emoção e nenhuma lágrima em seus olhos. Fechou, então, a cara para Izabel e fixou o olhar na parenta Idila, dirigindo-lhe a palavra:

-Idila, quero que você me perdoe as ingratidões que eu fiz com você! Eu me arrependo de ter sido desatenciosa e grosseira, chamando sempre você de “hóspede”, quando, na verdade, você é como uma irmã para mim! Perdão, Idila!!!

Muito malcriada, Idila não gostou do que ouviu e achou que era dramatização barata. Com o dedo indicador da mão direita em riste, apontado para Dona Francisca, respondeu, quase aos gritos:

- Olhe, Francisquinha, não me peça perdão de nada, pois você nunca me tratou mal. E se você tivesse me  tratado mal, EU TINHA REAGIDO, ouviu? Você não estava nem besta de me tratar mal. Ora bolas!!! Só o que estava faltando agora era esta encenação!!! Pois fique aí sozinha!

Izabel e Idila deixaram Dona Francisca sozinha no quarto.

Sem plateia, a mulher, muito cavilosa, levantou-se desconfiada, e meia hora depois não se queixava mais de nada.  O chá de boldo serviu...



IMAGENS: CLÓVIS CAMPÊLO








MERCADO DO SÃO JOSÉ
Bairro do São José
Recife, julho 2015

Fotografias de Clóvis Campêlo













quarta-feira, 25 de maio de 2016

NÚBIA NONATO

INTERNET

ESTALOS DE LEMBRANÇA

Mãe que letra é essa?
E essa?
E essa daqui?
Caixa de sabão em pó, lata de óleo (é, sou desse
tempo), caixa de remédio, placas de rua.
Tudo eu queria ler e minha mãe vendo o meu descontentamento
e fome por saber, me alfabetizou.

Minha primeira professora...lógico que quando fui para a
escola tinha vários vícios, mas não dei trabalho a professora.
Não as chamávamos de tia, era dona fulana ou somente
professora.

Dona Maria Auxiliadora, minha primeira professora oficial
era grandona, alta, de cabelos curtos, por debaixo daqueles
óculos redondinhos eu a achava tão bonita.
Sua voz ressoava na sala e o silêncio era imediato.

Minha escola parecia o mundo, com grandes árvores cujas
raízes transgressoras, rasgavam o chão pra respirar.
Na minha imaginação eu podia jurar que eram baobás.

A campainha tocava e saltava criança de tudo que era canto,
eu observava as lancheiras e o que saíam delas, sucos, frutas
biscoitos. Sentava-me em uma das raízes e abria o meu
guardanapo, por sorte o pão tinha recheio, mas nem sempre
era assim, das vezes oferecia um pedaço pra professora, mas
ela nunca aceitava, nos deixava no recreio e ia pra sala dos
professores.

Eu era quase sempre a primeira a copiar todo o dever, a fazer
a redação, a colorir um mapa e o meu caderno sempre em
dia e sem orelhas servia de exemplo.
Na simplicidade do meu dia a dia acumulei experiências, algumas
bem dolorosas, como no dia em que acordei muito
mal, mas minha mãe não acreditou em mim. Voltei pra casa
com o casaco amarrado na cintura e um séquito de mosquitinhos
a minha volta, tadinha, ela ficou pior do que eu.

Ah! E mais e mais eu escreveria! A memória é um prodígio, reacende a cada estalo de lembrança.

RAPIDÍSSIMAS – POLÍTICA

GENTE: É O LULA SOB DISFARCE

TANTO FIZERAM...

Conseguiram. A lógica do Direito foi invertida pela própria “categoria”. Todo político é safado, até prova em contrário.

OURO DE MINAS

O que está faltando para prender Lula? Daqui a pouco vão transformar o maior pilantra da história política brasileira em santo – nem que seja em santo do pau oco, agora recheado com dólares das empreiteiras.

O TEMPO

Nem os piores ladrões suportam mais. Querem celeridade da Justiça. Delação premiada só faz mal aos outros. Que venham as “mocinhas”.

HISTÓRIA

Não há escapatória: ou Dilma é ladra, como os seus, ou Dilma é retardada.

GOLPE?

KKKKKKK. Golpe seria manter a quadrilha no poder. Mas, como dizem, a luta continua. Pilantras não param de chegar.



CHARGES




SPONHOLZ



AMARILDO



AROEIRA 



PELICANO




SPONHOLZ

terça-feira, 24 de maio de 2016

RAPIDÍSSIMAS


ÁLIBI

Sei que enchi o saco de muita gente, mas foi sempre sem querer.


QUEM FOI?

Vontade de dormir não lhe falta. Falta-lhe sono. Quem roubou o bandido?

DISFARCE

Faz de conta que ainda lhe importo.

BRASIL

Sempre resta uma esperança. Como não? Amanhã, a gente evapora.

QUERIDA

Não me queira mal. A essa altura, sou a insignificância que deu pra ser.

MEU SENHOR

De mais trabalho, não preciso, não. Careço é de paga.

DONA MORTE

Infelizmente, morrer faz parte do jogo. Eu sei. Mas ando muito ocupado. Volte daqui a um ano.

RECIPROCIDADE

Ai, ai, ai. Desisti de ilusões. Já tinha passado da hora.

DOR

Essa coisa não precisa ser gritada, alardeada. Ela falar por si.