NATHAN |
DILMA (“CORAÇÃO VALENTE”)
ESCOLHE O SEU DESTINO
03/05/2016 - 02h54
(Por Ricardo Noblat) Lula
faltou ao ato público de 1º de Maio, em São Paulo, não por que estivesse rouco,
quase sem voz. Mas porque Dilma não gostou do que ele pretendia falar. Foi por
isso que Dilma falou sozinha para menos de 50 mil militantes de movimentos
sociais arrebanhados pela Central Única dos Trabalhadores.
O
que Lula pretendia dizer poderia ter sido interpretado como uma admissão prévia
de que o impeachment de Dilma é jogo jogado. Como de resto é. Ele se valeria do
discurso do golpe para anunciar que o PT e seus aliados irão desde já para a
oposição ao governo Temer, e se oferecer, se fosse o caso, como candidato a
presidente em 2018.
Dilma
discordou da linha do discurso de Lula. Ela não quer dar o impeachment como
liquidado. Acha que liquidado ele está na Comissão Especial formada por 21
senadores que na próxima sexta-feira deverá aprovar a admissibilidade do
impeachment, remetendo o processo para votação em plenário no dia 11 ou 12 do
mês corrente.
Reconhece
que o plenário também aprovará a abertura do processo contra ela. Mas imagina
que ainda terá chances de retomar o cargo, mesmo se afastada dele por um prazo
máximo de 180 dias. Tudo irá depender, conforme os cálculos de Dilma, do placar
no plenário e, depois, do desempenho dos primeiros meses do governo Temer.
São
81 os senadores. Até ontem, pelo menos, Dilma achava que poderia contar apenas
com 21 votos para barrar a admissibilidade do impeachment no plenário. Mas
tinha esperança de amealhar mais alguns na votação final, lá por setembro,
quando precisará de 27 votos para vencer. Temer espera derrotá-la desde já com
60 votos contra 21.
Uma
vez fora do cargo, e mesmo sabendo que dificilmente será absolvida pelo Senado
quando for julgada finalmente, Dilma terá tempo para tentar reescrever a
história dos seus governos malsucedidos. Sua defesa final seria menos técnica e
mais política. E ela poderia construir uma narrativa para opor-se à narrativa
que por ora predomina.
É
nisso que ela pensa quando nega a hipótese de renunciar, e quando teima em
dizer que lutará até o fim. A renúncia esvaziaria o discurso de que ela foi
vítima de um golpe parlamentar. E não combinaria com a imagem que ela tanto
preza de mulher de coração valente, capaz de enfrentar toda a sorte de
sofrimentos sem se acovardar.
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