segunda-feira, 18 de abril de 2016

ONDE ESTÃO OS CRIADOS?


Digam o quiserem, mas é inegável: os tempos melhoraram muito. Ao menos no que se refere àquele período que antecede o casamento. Hoje, qualquer um vai à loja indicada pelos noivos, compra o que pode, escolhe uma mensagem já feita, paga e vai embora pra casa esperar o dia de ralar o bucho na festa dos nubentes.

Mas nem sempre foi essa moleza. Sou de um tempo em que, um mês antes de casório, noivo e noiva – e suas respectivas mães, evidentemente, porque aonde uma sogra vai a outra vai atrás – eram obrigados a esperar os convidados, para receber presentes e lhes mostrar o ninho dos pombinhos. Em geral, o expediente era de segunda a segunda. Nos finais de semana, a jornada era dupla. Caceteação sem fim. Peguei nojo de Martini doce e amendoins.   

Muitos presentes nos deixavam – convidados e noivos – absolutamente constrangidos. Afinal, não se tem notícia de casal que precise de treze ferros de passar roupa, onze jogos de café, sete batedeiras de bolo, onze liquidificadores, meia dúzia de vassouras mágicas e tralhas afins. E ficava tudo ali: em cima da cama do casal. Pra todo mundo ver. E especular: “Quem deu isso, quem deu aquilo?”

Mas há convidados criativos. São os piores. Sabiá e eu ganhamos um treco cujo nome até hoje ignoro. Era uma roda de latão apoiada num suporte. Um porrete com a ponta envolta em feltro acompanhava a engenhoca. Um gongo. Foi um susto. Afinal, que serventia tinha aquilo? “É para chamar os criados”, esclareceu o parente distante, metido a chique.   

Usamos muitas vezes o porrete para chamar os criados. Que jamais nos obedeceram. Nunca tivemos dinheiro para contratá-los... (OS - 2013)

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