quarta-feira, 1 de julho de 2015

XICO BIZERRA

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PENSAR QUE É POETA
NÃO É SER POETA

Sempre fui admirador do repentista, do Poeta que faz do mote uma glosa, daquele que tira de onde não tem e coloca onde os normais pensam nada caber, como dizia Pinto do Monteiro, um dos maiores exemplos de inteligência do repente nordestino. Sempre disse (acho que mais de uma vez nesta mesma coluna) que fazer poesia como eu faço, num computador de última geração, com dicionários ao dispor e com todo o tempo disponível é fácil. É uma tarefa que exige muito mais suor que talento. Ser Poeta, de fato, é procurar no curral das palavras a rima perfeita sem se distanciar da lógica. Veio-me a história de um violeiro do Ceará, sentado na Praça do Ferreira, em Fortaleza, na década de 20, quando a Bolsa de Nova Iorque quase derruba o mundo inteiro. Passa um cidadão, coloca uma moeda na tigela do cantador, pedindo-lhe para que ele comentasse a queda da bolsa. Para atendê-lo o repentista, que nunca tinha ouvido falar de Nova Iorque muito menos sabia da crise que ali nascera, improvisou a seguinte sextilha:

Vim pra Praça do Ferreira
Pra tomar café com pão
Passou uma velha correndo
Dizendo: Pega ladrão!
Eu me agarrei com o cabra
E a bolsa caiu no chão.

Precisa dizer mais alguma coisa sobre esses Pintos, Louros, Joões, Dimas, e tantos outros verdadeiramente Poetas?



Xico Bizerra é compositor, poeta, 
cronista e produtor musical.
Tem mais de 270 composições gravadas


http://www.forroboxote.com.br/

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