PENSAR QUE É POETA
NÃO É SER POETA
Sempre fui admirador do repentista, do Poeta que faz do mote uma
glosa, daquele que tira de onde não tem e coloca onde os normais pensam nada
caber, como dizia Pinto do Monteiro, um dos maiores exemplos de inteligência do
repente nordestino. Sempre disse (acho que mais de uma vez nesta mesma coluna)
que fazer poesia como eu faço, num computador de última geração, com
dicionários ao dispor e com todo o tempo disponível é fácil. É uma tarefa que
exige muito mais suor que talento. Ser Poeta, de fato, é procurar no curral das
palavras a rima perfeita sem se distanciar da lógica. Veio-me a história de um
violeiro do Ceará, sentado na Praça do Ferreira, em Fortaleza, na década de 20,
quando a Bolsa de Nova Iorque quase derruba o mundo inteiro. Passa um cidadão,
coloca uma moeda na tigela do cantador, pedindo-lhe para que ele comentasse a
queda da bolsa. Para atendê-lo o repentista, que nunca tinha ouvido falar de
Nova Iorque muito menos sabia da crise que ali nascera, improvisou a seguinte
sextilha:
Vim pra Praça do
Ferreira
Pra tomar café com
pão
Passou uma velha
correndo
Dizendo: Pega
ladrão!
Eu me agarrei com
o cabra
E a bolsa caiu no
chão.
Precisa dizer mais alguma coisa sobre esses Pintos, Louros, Joões,
Dimas, e tantos outros verdadeiramente Poetas?
Xico Bizerra é compositor, poeta, cronista e produtor musical. Tem mais de 270 composições gravadas |
http://www.forroboxote.com.br/ |
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