sábado, 18 de julho de 2015

QUASE HISTÓRIAS (LXVI)

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O TRIBUNO

Vereador paulistano em primeiro mandato, ele levou meses para fazer seu discurso inaugural no chamado Grande Expediente – período da sessão em que quatro parlamentares podem falar por quinze minutos cada um. Garantia o sustento da família como professor de cursinho. Estava, portanto, habituado a falar em público. Timidez não era.

Certa tarde, ele tomou coragem e, munido de apontamentos, foi à tribuna. Aconteceu com ele o que, invariavelmente, acontece com a maioria dos oradores. Os que estavam no plenário não davam a mínima à sua falação, por mais que ele se empenhasse para ser ouvido. Irritado, pediu ao presidente da sessão que tomasse providências contra aquela falta de respeito etc. e tal.

Foi aparteado por uma das raposas da Casa:

-- Vossa Excelência precisa entender que o problema não está na falta de educação de seus pares, mas na precariedade de sua oratória.

O dublê de professor de cursinho e vereador só voltou a usar a tribuna tempos depois. Não reclamou mais da “falta de respeito”. Até porque, no plenário, ninguém está interessado em ouvir nada. Já foi tudo acertado nas reuniões fechadas. Agora, ele também sabia disso. Era um deles. (maio 2014)



Um comentário:

  1. Não pude deixar de pensar nos professores... Frequentemente, quando se queixam da falta de educação dos alunos, ficam sabendo que o problema não é esse. "O senhor é que não tem domínio da classe." (Precariedade de sua oratória: gostei do termo. Pode ser interpretado -- e usado -- de várias maneiras.)

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