domingo, 3 de maio de 2015

ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO

CENA 1

Sem tirar os olhos do computador, a colega perguntou ao colega ao lado, que também estava com os olhos grudados no monitor:

– É impretero ou impreiteiro?

Impreiteiro, com i depois do primeiro e.

– Droga! Vou ter que corrigir esse documento. Escreveram empreiteiro. Que saco! Fazem a coisa errada e depois a gente tem de corrigir. Custa perguntar, se não sabe?

José Ferrão

CENA 2

O chefe ignorante chegou, como chegava todos os dias – com pompas e circunstâncias e a falta de educação desde sempre cultivada. Foi logo informado do entrevero da véspera. Disparou um e-mail para o gerente:

– O que ouve?



Puta velha, o gerente tripudiou da ignorância arrogante:

– Não ouço nada.


CENA 3

E a disputa acirrada, quase irracional, do bilhar extrapolou: atropelou a gramática, ferrou a regência, jogou o pai dos burros no lixo.

– Animal, analfabeto: não se fala “nóis fumo”; o certo é nóis fomo. Tô errado, doutor? – quis saber o mais ignorante e grandalhão deles, do intelectual da redondeza, único que fazia todos os dias palavras cruzadas na Vila Invernada. Quase sábio.

– Os dois estão certos. A língua é um ente dinâmico, se me entendem. Os dois estão certos.

O cruzadista mais não disse. E pegou o caminho da roça. Homem prudente. (2013)



5 comentários:

  1. Prazer tê-lo por aqui, Pernambuco. Abração.

    ResponderExcluir
  2. É a realidade...Quem sabe português, aprendeu no curso primário e no ginasial de antigamente...Quem não aprendeu, não aprende mais não!!!

    ResponderExcluir