quinta-feira, 3 de agosto de 2017

XÔ, TRISTEZA!

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IMAGEM: ARQUIVO GOOGLE
-- Ananias, meu caro: não se iluda, não. Para começo de conversa, você não é o único a ter problemas. Toda história real tem um fim triste. Não há como fugir dele. Depois de certa idade, todos nós – uns mais, outros menos, mas todos nós, sem exceção – somos obrigados a conviver com uma série de coisas muito chatas: perda de poder aquisitivo, perda de pessoas das quais a gente sempre gostou muito, perda da saúde. A cabeça pensa, voa. Mas o corpo e o bolso nos trazem de volta à realidade.

-- É verdade, Velho Marinheiro, viver é sofrer.

-- Eu não disse isso. Isso é bobagem de sua cabeça depressiva. Todo final de história é triste, porque a gente não pode mais fazer o que gostaria de fazer. O que não significa que a gente deva se lamentar, viver choramingando pelos cantos, feito carpideira sem remuneração. Temos que aproveitar cada minuto e da melhor forma possível.

-- Como assim?

-- É simples. Veja quem vem descendo a rua: Deolinda. Quem me dera ter 30 anos a menos, quem me dera ter dinheiro para embarcar a passeio em navio de luxo e cruzar os mares com o único e verdadeiro símbolo sexual de Vila Invernada. Quem me dera, Ananias.

-- E isso não o entristece?

-- Não me deixa contente, é verdade. Mas, ao menos, ainda tenho vistas para apreciar a paisagem. Poderia ser pior, sempre pode. O jeito é fazer com prazer o que dá para ser feito.

-- Dos males, o menor. Mas...

-- Agora, chega. Você me obriga a falar coisas que não estou disposto a falar. Vamos mudar de prosa, tomar um trago, entornar uma gelada e traçar uns torresminhos. Essa minha dentadura nova machucou no começo, mas agora ficou maravilha. Posso comer de tudo. E vou comer e beber enquanto puder, com alegria. Quando não der mais, paciência, eu tomo sopa.

(Orlando Silveira - atualizado em agosto de 2017)

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