CADÊ TEMER, O MAQUINISTA? (YOUTUBE) |
GESTÃO TEMER OPERA
EM RITMO DE TREM
FANTASMA
Por Josias de Souza
UOL – 11/08/2017 | 04:29
''A mensagem importante é que
essa recessão já terminou'', alardeou o ministro Henrique Meirelles em
fevereiro. Michel Temer repete desde então, com a regularidade de um mantra,
que seu governo “colocou o país nos trilhos”. Muitos brasileiros, ao ouvir o
presidente falando, acalentam o sonho de viver no Brasil que Sua Excelência
descreve, seja ele onde for. Entretanto, o que se vê sobre os trilhos é um
governo com aparência de trem fantasma.
Ao assumir, Temer prometeu
pacificar o país e tirar as contas do vermelho. Hoje, com 5% de aprovação, arrisca-se a tomar vaia sempre que leva os sapatos
para fora dos palácios brasilienses. E anuncia para a próxima semana a
reaparição de uma velha alma penada sobre os trilhos: o descumprimento de uma
meta fiscal. O rombo de R$ 139 bilhões
que Meirelles dizia ser ''exequível'' para 2017 vai virar uma cratera de R$ 159 bilhões, que se repetirá em
2018.
Caótico e com os cofres no osso,
o governo planeja enviar ao freezer os reajustes salariais que concedeu aos
servidores públicos no ano passado. Dizia-se na época que os aumentos — coisa
de R$ 58 bilhões até 2019 — já
estavam computados na meta de déficit. A farra foi aprovada na Câmara numa
madrugada de junho de 2016, sob aplausos de Temer. De uma tacada, passaram 14
projetos de lei. Continham bondades destinadas a 38 carreiras do Estado.
O então deputado Nelson Marchezan
Júnior (PSDB-RS), hoje prefeito de Porto Alegre, subiu à tribuna para
pronunciar um discurso premonitório. Foi registrado aqui. Vale a pena recordar:
“Estamos estendendo gratificações
de desempenho para servidores inativos”, disse Marchezan naquela madrugada.
“Incorporamos aos quadros da Defensoria Pública servidores cedidos que vão
entrar numa nova carreira, sem concurso, ganhando até 400% a mais. Isso é inconstitucional. Criamos mais de 11,5 mil empregos. E o presidente
Michel Temer havia prometido fechar 4
mil cargos comissionados.”
O deputado acrescentou: “Dizem
aqui que não posso ser mais realista que o rei. Se o governo encaminha tudo
isso, devemos votar a favor. Quero lembrar que acabamos de depor uma rainha
porque ela administrou as contas públicas contrariamente ao interesse popular.
Tiramos na expectativa de que o novo governo administraria para o interesse
popular. Espero que esse novo rei mude sua forma de reinar, para que ele não
siga no mesmo caminho da rainha deposta. Espero também que as operações da Lava
Jato anunciadas para os próximos dias não tenham nenhuma relação com esse
açodamento de votar esse rombo de algumas centenas de bilhões de reais.”
QUE ÁGUA ESSE SENHOR BEBE? |
Temer costuma dizer que se dará
por satisfeito se chegar ao final do seu mandato como um presidente reformista.
Não deseja senão entregar ao sucessor “um país nos trilhos”. Mas o autogrampo
do delator Joesley Batista tornou impossível o que era difícil. Para salvar o
mandato, Temer ampliou o balcão e entregou cargos, cofres e a alma ao centrão.
Recolocou nos trilhos o grupo fantasmagórico idealizado pelo presidiário
Eduardo Cunha.
Junto com a denúncia que o acusa
de corrupção, Temer enterrou no plenário da Câmara o futuro do resto do seu
governo, que será ruim enquanto dure. Tratada como a mãe de todas as reformas,
a mexida na Previdência, tal qual o governo a concebera, foi para o beleléu.
Médico e líder do PSD, o deputado Marcos Montes (MG), proferiu o
diagnóstico: ''O governo saiu da UTI.
Está no quarto. A data da votação [da emenda constitucional da Previdência] vai
depender da recuperação do paciente. Pode ser no final do ano, pode ser em
2019'', no próximo governo.
Sem o ajuste na Previdência,
Temer sucederá Dilma também no posto de presidente do rombo insanável. A
hipótese de o governo entregar o que prometeu é nula. Acenara-se com um
crescimento econômico de até 2% neste ano. Se chegar a 0,2% será um milagre.
O brasileiro percorre o trajeto
do trem fantasma rezando para não dar de cara com um aumento de impostos. Nessa
matéria, o governo desmente à noite o que admitira pela manhã. E a plateia não
acredita nele durante todas as horas do dia.
Nesta quinta-feira, após discutir
com ministros e congressistas a revisão para o alto da meta de rombo fiscal, a
ser anunciada na semana que vem, Temer deixou no ar a hipótese de adotar
“medidas rigorosas”. Emendou: ''[…] O governo não mente para o povo brasileiro.
Muitas vezes toma medidas rigorosas, mas indispensáveis para a higidez das
finanças públicas do nosso país.”
Que língua extraordinária é o
português! Higidez virou um outro vocábulo para esculhambação. Há no percurso
do trem fantasma 14 milhões de desempregados. A saúde pública continua sendo
uma calamidade. O ensino público, um acinte. O fisiologismo ri da Lava Jato.
Mas o Brasil da fábula de Temer está “nos trilhos”.
Todo brasileiro tem o direito de
reivindicar um gole do que Michel Temer anda bebendo.
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