LYRA: SEM PAPAS NA LÍNGUA (FOTO: G1)
A RETAGUARDA DO ATRASO
Temer será salvo por uma aliança firmada entre os políticos
mais fisiológicos da Câmara e os encrencados com a Lava Jato
e outras operações da Polícia Federal
Por Ricardo Noblat
noblat.oglobo.globo.com
02/08/2017 - 03h44
Ministro da Justiça escolhido
pelo presidente eleito Tancredo Neves e mantido no cargo pelo presidente
empossado José Sarney, o pernambucano Fernando Lyra, um dos líderes do PMDB na
luta contra a ditadura militar de 64, era capaz de arriscar o emprego por causa
de uma boa frase.
Em 1985, na cerimônia do Teatro
Casa Grande, no Rio, em que anunciou o fim da censura, Lyra elogiou Sarney
definindo-o com uma frase que se tornou célebre:
- Sarney é a vanguarda do atraso.
Queria dizer que o presidente era
o político mais avançado entre aqueles que até pouco antes haviam sustentado o
regime dos generais. Sarney jamais perdoou Lyra. Demitiu-o meses depois.
Se fosse vivo, é bem possível que
Lyra ser arriscasse a brigar com Temer qualificando de “vitória da retaguarda
do atraso” o que deverá se consumar logo mais na Câmara dos Deputados.
Faltarão votos para aprovar a
denúncia contra o presidente por crime de corrupção. Temer será salvo por uma
aliança firmada entre os políticos mais fisiológicos da Câmara e os encrencados
com a Lava Jato e outras operações da Polícia Federal.
Mas não só. Cabeças coroadas dos
partidos de oposição conspiraram em segredo para manter Temer no cargo. Apostam
que é melhor tê-lo onde está, e cada vez mais fraco, do que trocá-lo por não se
sabe quem. De resto, Temer não nega favores a quem lhe pede.
Pareceu difícil derrubar os
ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, mas não foi. Seus eventuais
sucessores eram conhecidos – Itamar Franco e Michel Temer. O ronco das ruas fez
o resto do serviço.
Quase cinco meses depois do
empresário Joesley Batista ter gravado Temer no porão do Palácio do Jaburu,
sabe-se quem substituiria Temer provisoriamente – Rodrigo Maia (DEM-RJ),
presidente da Câmara. Mas não se sabe quem o sucederia em definitivo.
De resto, as ruas não roncaram.
Mais de 80% dos brasileiros gostariam de ver Temer processado. Mesmo assim
preferiram ficar em casa em sinal de protesto contra todos os políticos,
partidos e instituições desacreditadas.
As urnas roncarão em 2018.
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