AÉCIO: MELHOR ESCONDÊ-LO? |
PSDB ESCONDE SEUS
LÍDERES
E ENALTECE
PARLAMENTARISMO
EM PROPAGANDA NA TEVÊ
Por Josias de Souza
UOL – 03/08/2017 – 04:12
Às voltas com a maior crise de
sua história, o PSDB levará ao ar no próximo dia 17, em rede nacional de rádio
e TV, uma propaganda partidária inusual. Nela, não haverá o tradicional desfile
de lideranças. A vitrine eletrônica — dez minutos no horário nobre— será usada
para enaltecer o parlamentarismo como sistema de governo ideal para o Brasil,
um país em eterna ebulição política.
O parlamentarismo é uma velha
bandeira do tucanato. A hipótese de ser implementado é remota. Ainda assim, o
PSDB decidiu bater bumbo. Foi o pretexto que a legenda encontrou para esconder
as aves do ninho, sobretudo Aécio Neves, cuja plumagem foi tisnada por nove
inquéritos criminais abertos no Supremo Tribunal Federal.
Em condições normais, a um ano da
corrida ao Planalto, o partido não hesitaria em aproveitar o tempo de
propaganda que a lei lhe assegura para colocar um presidenciável no pedestal.
Mas o PSDB não dispõem de um candidato consensual. Seria Aécio, pois ele bateu
na trave na disputa de 2014. Mas o senador mineiro, com a biografia na lama,
talvez tenha dificuldades para se eleger deputado federal.
O governador paulista Geraldo
Alckmin tenta emplacar a própria candidatura. Mas seu nome também soou em
delações premiadas da Lava Jato. De resto, sua posição nas pesquisas de intenção
de voto provoca nos correligionários um entusiasmo de velório. A atmosfera
fúnebre leva o prefeito paulistano João Doria, uma cria política de Alckmin, a
sonhar com a hipótese de furar a fila dos presidenciáveis do PSDB.
Na propaganda partidária anterior,
exibida em maio passado, o PSDB intercalou o falatório de jovens líderes
municipais com o lero-lero dos seus bicos mais tradicionais — Aécio, Alckmin e
Fernando Henrique Cardoso, por exemplo. Embora a propaganda contivesse uma
crítica à forma tradicional de fazer política, João Doria, que se autoproclama
um não-político, foi excluído da peça.
Decorridos pouco mais de quatro
meses, o futuro do tucanato está acorrentado a Michel Temer, um presidente que
acaba de renovar sua aliança com a banda ladra da Câmara para enterrar a
denúncia em que a Procuradoria o qualifica de corrupto. Rachada ao meio, a
bancada de deputados tucanos deu sua cota de contribuição para salvar a
Presidência de Temer.
Nos subterrâneos, Aécio pegou em
lanças por Temer. Os dois foram alvejados pelo mesmo delator: Joesley Batista,
da JBS. O infortúnio alterou a natureza do relacionamento da dupla. Antes,
mantinham uma aliança política. Agora, cultivam um vínculo de solidariedade
penal do tipo em que uma mão suja a outra.
O PSDB não consegue se livrar de
Aécio, hoje um filiado tóxico. Licenciado da presidência da legenda, o senador
se move nos porões de Brasília como se pretendesse retomar o trono partidário.
Incomodado com a desenvoltura de Aécio, o grão-tucano Tasso Jereissati, que
preside interinamente a legenda, ameaça devolver o cetro a Aécio nesta
quinta-feira. Ensaia o gesto desde o início da semana.
É contra esse pano de fundo
conflagrado que a marquetagem do PSDB concebeu a propaganda que esconde as
mazelas do tucanato atrás da bandeira do parlamentarismo — uma iniciativa da
presidência interina de Tasso. Planeja-se exibir na próxima segunda-feira (7)
um comercial de 30 segundos convidando a plateia para assistir à propaganda do
dia 17. No convite, sem mencionar nomes, o PSDB admite que cometeu erros.
Receia-se que Aécio vista a carapuça e implique com a peça, vetando-a.
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