POR ANTÔNIO LUCENA |
TEMER,
SEM VOTOS PARA GOVERNAR
o governo Temer parece condenado a só cumprir tabela. O que precisar
de larga maioria de votos no Congresso acabará ficando
para o próximo governo. Subirá o preço do ralo apoio oferecido
Por Ricardo Noblat
noblat.oglobo.globo.com
11/08/2017 - 04h32
Ao negar licença para que o
presidente da República pudesse ou não ser julgado pelo Supremo Tribunal
Federal por crime de corrupção passiva, a Câmara dos Deputados garantiu a
Michel Temer o direito de cumprir seu mandato até o fim. Mas foi só. Não lhe garantiu
os votos necessários para que governe ativamente.
A joia da coroa da curta e
tumultuada Era Temer, a reforma da Previdência, por exemplo, não passará pelo
Congresso por falta de votos na Câmara e no Senado. Foi o que mostrou ao
presidente e aos seus acólitos o mais recente levantamento feito por líderes
dos partidos que dizem apoiá-lo.
Cristalizou-se cá fora a
percepção de que a reforma prejudicará a maioria dos brasileiros,
principalmente os de baixa renda. E dentro do Congresso, a certeza de que o
voto a favor da reforma custará muitos votos nas eleições do próximo ano. O
governo não soube vender a reforma ao distinto público. Agora é tarde.
Caso sobreviva às novas denúncias
que estão por vir, seja por meio da Procuradoria Geral da República ou de
delações à Lava Jato, o governo Temer parece condenado a só cumprir tabela. O
que precisar de larga maioria de votos no Congresso acabará ficando para o
próximo governo. Subirá o preço do ralo apoio oferecido.
Caberá a Temer cumprir o rito de
transferência do poder ao seu sucessor. O que está longe de significar que ele
terá se tornado um presidente decorativo. A caneta que detém ainda está
carregada de tinta. Mesmo que fraco, um presidente ainda pode muito, mais ainda
a 15 meses de eleições.
Temer cobrará alto pela adesão do
PMDB a candidatos à sua vaga. E é por isso que o PSDB finge descolar-se do
governo para acabar permanecendo nele. A digital do governador Geraldo Alckmin
foi identificada nos votos do seu partido favoráveis na Câmara ao pedido de
licença para processar Temer.
Bastou que Temer declarasse
abertas as portas do PMDB à candidatura do prefeito João Dória a presidente da
República para que Alckmin voasse à Brasília à cata de melhores informações. E
lá, depois de visitar o senador Aécio Neves (MG), aliado de Temer, se
convertesse à ideia de que o PSDB não precisa deixar o governo.
Em 1989, o então presidente José
Sarney pouco pode influir no destino de sua sucessão. Temer não quer ser um
novo Sarney.
Nenhum comentário:
Postar um comentário