quarta-feira, 20 de setembro de 2017

QUASE HISTÓRIAS: QUEM É O CHEFE?

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Ilustração: Bigstock

O candidato fez o que pode para quebrar as resistências dos ouvintes. Para tanto, valeu-se de sua larga experiência de ilusionista. Afinal, aquela não era sua primeira incursão na árdua tarefa de pedir votos – para ele próprio e para outrem. Distribuiu sorrisos largos e tapinhas nas costas, não deixou de perguntar como andava mãe e pai de uns e outros, financiou cachaça e cerveja para todos aqueles que estavam dispostos a quebrar o gelo. Enquanto a carne de segunda queimava na churrasqueira, fez seu discurso, entremeado de piadinhas sem graça e promessas vãs. Foi breve. Era do ramo. Estava na estrada há quase vinte anos.

Terminada a falação, o candidato abriu a palavra a quem quisesse se manifestar. Romualdo Bastos – o grande cruzadista de Vila Invernada, talvez o único –, pediu pela ordem e engatou uma sugestão:

- O que o senhor acha de incluir no currículo da rede estadual uma nova disciplina? Precisamos despertar em nossos jovens o interesse pelo saber. Fazer palavras cruzadas é a porta de entrada desse mundo maravilhoso do conhecimento.

Com ar solene, o candidato dirigiu-se a seu factótum:

- Anote aí, Gustavo, essa será uma de minhas prioridades. Vou trabalhar por sua aprovação, desde o primeiro dia de meu próximo mandato.

De jogo de camisas para o time do bairro à reforma do campo de malha, os pedidos se sucediam. Gustavo registrava com esmero as novas prioridades de Sua Excelência, um homem em prol de todas as causas que lhe pudessem render uns votos.

O Velho Marinheiro resolveu, então, entrar na conversa:

- Doutor, o senhor disse que já fez isso e aquilo, que fará muito mais no próximo mandato, que seu partido é formado por gente séria, por pessoas que não roubam nem deixam roubar etc. Só não nos disse o essencial.

O candidato mordeu a isca, não tinha como escapar:

- Perdão, mas o que seria o essencial para o caro amigo?

- Ora, o senhor tem uma dezena de processos por furto dos cofres públicos. Jornais dizem que, não satisfeito com o próprio rendimento e com as negociatas, Vossa Excelência toma parte dos salários de seus funcionários de gabinete...

- Tudo mentira da imprensa golpista.

- Ninguém faz sozinho tanta lambança. A qual quadrilha o senhor pertence? Quem é o chefe de seu bando? Precisamos conhecer seu grau de periculosidade. 

OS - SETEMBRO/2017

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