terça-feira, 19 de setembro de 2017

CHÁ DAS CINCO: HAICAIS (GUILHERME DE ALMEIDA)



PESCARIA

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.

O HAIKAI

Lava, escorre, agita
a areia. E, enfim, na bateia
fica uma pepita.

ROMANCE

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.

HORA DE TER SAUDADE

Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)




HISTÓRIAS DE ALGUMAS VIDAS

Noite. Um silvo no ar.
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.

OS ANDAIMES

Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.

INFÂNCIA

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".

O PENSAMENTO

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.

TRISTEZA

Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?

NOTURNO

Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua


 

Guilherme de Almeida foi advogado, jornalista, poeta, ensaísta e tradutor. Nasceu em Campinas (SP), em 24 de julho de 1890, e faleceu na capital paulista, Em 1930, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Destacou-se também como heraldista. É autor dos brasões-de-armas de várias cidades. Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, em setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Haicai é um poema de origem japonesa, de três versos, que chegou ao Brasil no início do século 20. Guilherme de Almeida começou a escrever haicais em 1936, ano de seu encontro com o cônsul japonês no Brasil, Kozo Ichige.




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Bete providenciou tudo sozinha: bolo, salgadinhos, 
vela, flores e mensagens. Foi o aniversário mais feliz de sua vida. 

Por Orlando Silveira
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