quinta-feira, 14 de setembro de 2017

QUASE HISTÓRIAS: NO TEMPO DO SHANGAI E DA PIRANI

Parque Shangai - 1959 - Folhapress


Sabiá, menina de tudo, ia ao Parque Shangai; eu também ia. Íamos quando o dinheiro dos pais dava para nos levar. Íamos pouco. Muito aquém de nossos desejos. Quase sempre não dava para ir. Além do ingresso, sempre havia uma despesinha extra. Sabem como é? Crianças são gulosas, ainda mais se forem gorduchas (sempre fomos, Sabiá e eu), acham que orçamento apertado é invenção dos pais. Não é. 

Nunca encontrei Sabiá no Shangai - uma espécie de Playcenter dos anos 1950, 1960.  Azar meu. Sorte dela?

Ela era chique. Ia, com Mami, Papi e seus irmãos de Rural Willis. Papi, temerário ao volante, era um querido – embora janista, era adepto da tese “fé em Deus e pé na tábua”, do Adhemar de Barros, rival ferrenho do homem da vassoura. Grande sogro, do tamanho da força e coração da Mami.

Eu ia com mãe, pai e irmã – de ônibus –, no começo. Depois melhorou muito.

O pai, esforçado que só, a mãe economizando até não mais poder. Melhoramos de vida. Eles compraram geladeira, batedeira e automóvel: um Aero Willis branco, de banco bordô. Quando havia ovos, farinha e leite era bolo todo sábado. Bolo de cenoura virou moda na família. Não tenho dúvidas de que, à época, a cenoura estava sendo vendida na bacia das almas. Além do bolo, era tudo feito com cenoura: patês, purês, croquetes. Até hoje, tenho certa implicância com o legume.

Nunca nos encontramos por lá, Sabiá e eu, no Shangai. Nem na afamada Pirani, loja de grande sucesso, entre pobres e remediados da zona Leste de São Paulo, no século III A.C. Mas foi ali que o amor teceu suas teias. Fotos comprovam que estivemos por lá, posando para o lambe-lambe: tocando sanfona, dois sanfoneiros, Sabiá e eu. 

Faz tempo.

Mas até hoje, décadas depois, dançamos um miudinho. É tão bom. (OS)


(ATUALIZADO EM SETEMBRO DE 2017)


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