quarta-feira, 6 de maio de 2015

QUASE HISTÓRIAS (X)

sites.uem.br



NA CASA DO PAI

Na casa da mãe e do pai, sempre foi tudo muito suado. O pai trabalhava dobrado; a mãe economizava em dobro. Dava para o gasto. Comida nunca nos faltou. A mãe era especialista em picadinho – em omelete também. O “vício” do pai era comprar livros e mais livros, que as vistas cegadas já não lhes permitem ler. A mãe se foi. Que lástima. O pai está por aqui, conversando (às vezes) com seus fantasmas. Saudades daquele tempo.


PARKINSON

Chegou a pensar que enlouqueceria antes de o dia amanhecer. Pensou, não: teve certeza.

O pai o chamava ao quarto de hora em hora, no começo da madrugada. Depois, já no meio da madrugada, o tempo entre uma chamada e outra encurtou para meia hora. Não queria mais o cobertor, queria mudar de lado, queria ficar sentado, queria tomar água, queria o cobertor de novo e mudar de lado também, queria tirar a fralda, não estava na hora do café?

 Entre uma chamada e outra, ele se digladiava com seus fantasmas, chamava a polícia, chamava o ladrão, dizia palavrões que nunca disse acordado. O dia chegou. E o pai, após tomar os comprimidos matinais, perguntou ao filho:

-- Nesta noite, eu não dormi muito bem. E você?

(PS: Meu pai morreu em 04/05/2015)

3 comentários:

  1. Ele com certeza, meu caro Orlando, está descansando em paz!
    Já cumpriu a missão dele e merece o repouso!
    Abraço carinhoso!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelo carinho, Jorge. Tenho certeza de que está em paz. Foi um grande homem. Abraço.

      Excluir
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir