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DORINHA
Coisa
boa demais voltar, depois de anos, para a terra natal (nem que seja a passeio),
rever parentes e amigos, pedir a benção ao padre que o batizou e crismou,
percorrer as ruas que marcaram a infância, perguntar por Dorinha:
--
Como está Dorinha?
--
Do mesmo jeito, embora muito mais velha. Continua fazendo a alegria da
molecada.
VIDA DE GADO
Um
dia a política abandonou a racionalidade. Se é que um dia a política foi
racional.
O
povo é o que se sabe: tolo, falso malandro. Louquinho da silva por mentira bem
contada. Povo adora “bolsa”, condena a corrupção – a não ser que ela o
favoreça.
Políticos,
os piores à frente, não sobrevivem por obra do acaso.
São
profissionais: conhecem o rebanho.
JEJUM
Segunda
das bravas O telefone toca, o coitado atende. Uma, duas, três, quatro, quinze
vezes. Com a educação possível.
É
a velha que não escuta querendo saber quanto custa para lavar o edredom.
(Perdão, senhora: aqui não é
lavanderia.) É o gerente querendo convencê-lo de que os
juros cobrados pelo banco são excelentes. (Obrigado,
amigo, não quero empréstimo.) É a moça do consórcio querendo lhe empurrar
um carro, é a senhora da creche pedindo ajuda, é, é...
É
o mundo lhe torrando o saco.
Na
vigésima vez, não perguntou quem era, bateu pesado:
-
Vá pra puta que o pariu.
Era
a mulher. De TPM.
Vai
jejuar um mês.
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