Otávio Nunes: jornalista, poeta, amigo, cidadão |
A ORGANIZAÇÃO
(Por Otávio Nunes) Grenólio
sentou-se na cadeira ao lado de um amigo e se posicionou bem para ouvir o seu
líder fazer o primeiro discurso da organização recém-fundada. O presidente
exaltou a união entre os membros e a necessidade de a entidade se expandir para
poder pleitear mais benesses. “Só o crescimento nos dará maior importância e
poder.”
Na
segunda reunião, havia o dobro de pessoas e Grenólio só conseguiu sentar-se a
muito custo. Na terceira, mais gente. Na seguinte, também. Nosso personagem,
fiel a seu compromisso com a organização, assistia a tudo em pé, aturdido com o
vozerio da multidão. Não havia mais cadeiras para tanto bumbum.
Com
o passar dos anos, a organização cresceu tanto que não encontrava mais ambiente
com espaço que pudesse comportar os militantes. Então, o líder teve a idéia de
publicar um jornal para os associados conhecer as decisões. Para o trabalho,
contratou um companheiro de lida, que tinha pequenos lampejos de letrado. Não
deu certo. O texto não saiu a contento, com palavras erradas, raciocínio torto.
As fotos, então, verdadeiros borrões no papel. O presidente da entidade
resolveu, após incessantes reclamações dos leitores, contratar profissionais do
ramo: jornalista e fotógrafo.
Com
o aumento de trabalho interno na organização, vieram depois médico, economista,
psicólogo, assistente social, pedagogo, sociólogo, antropólogo, químico,
engenheiro e até um cientista político, diplomado em Yale e na Sorbonne. Estes
profissionais passaram a rodar em torno do líder como satélites conselheiros.
Tudo o que fosse decidido teria de ter anuência deles. A organização, sem
intenção de trocadilho, estava bem organizada, com pessoas ilustres e
profissionais em suas funções.
Grenólio
não participava mais de reuniões, pois as mesmas não mais existiam. Há anos não
conseguia conversar com o líder e nem chegar próximo a ele. Mas a organização
era forte, seu poder retumbava como trovão na sociedade. Ele, entretanto, não
entendia porque a entidade que ajudara a criar e a expandir não mais falava sua
língua e os interesses já não eram mais os seus, nem de seus iguais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário