segunda-feira, 25 de maio de 2015

FALA, OTÁVIO


Otávio Nunes: jornalista, poeta, amigo, cidadão
A ORGANIZAÇÃO

(Por Otávio Nunes) Grenólio sentou-se na cadeira ao lado de um amigo e se posicionou bem para ouvir o seu líder fazer o primeiro discurso da organização recém-fundada. O presidente exaltou a união entre os membros e a necessidade de a entidade se expandir para poder pleitear mais benesses. “Só o crescimento nos dará maior importância e poder.”

Na segunda reunião, havia o dobro de pessoas e Grenólio só conseguiu sentar-se a muito custo. Na terceira, mais gente. Na seguinte, também. Nosso personagem, fiel a seu compromisso com a organização, assistia a tudo em pé, aturdido com o vozerio da multidão. Não havia mais cadeiras para tanto bumbum.

Com o passar dos anos, a organização cresceu tanto que não encontrava mais ambiente com espaço que pudesse comportar os militantes. Então, o líder teve a idéia de publicar um jornal para os associados conhecer as decisões. Para o trabalho, contratou um companheiro de lida, que tinha pequenos lampejos de letrado. Não deu certo. O texto não saiu a contento, com palavras erradas, raciocínio torto. As fotos, então, verdadeiros borrões no papel. O presidente da entidade resolveu, após incessantes reclamações dos leitores, contratar profissionais do ramo: jornalista e fotógrafo.

Com o aumento de trabalho interno na organização, vieram depois médico, economista, psicólogo, assistente social, pedagogo, sociólogo, antropólogo, químico, engenheiro e até um cientista político, diplomado em Yale e na Sorbonne. Estes profissionais passaram a rodar em torno do líder como satélites conselheiros. Tudo o que fosse decidido teria de ter anuência deles. A organização, sem intenção de trocadilho, estava bem organizada, com pessoas ilustres e profissionais em suas funções.  

Grenólio não participava mais de reuniões, pois as mesmas não mais existiam. Há anos não conseguia conversar com o líder e nem chegar próximo a ele. Mas a organização era forte, seu poder retumbava como trovão na sociedade. Ele, entretanto, não entendia porque a entidade que ajudara a criar e a expandir não mais falava sua língua e os interesses já não eram mais os seus, nem de seus iguais.



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