terça-feira, 12 de maio de 2015

“EDUCADOR” BARBOSA (2/2). OU: CUMPRA-SE!

Dublê de diretor pedagógico e carcereiro, “Educador” Barbosa (ai de quem não o chamasse assim), cultivava apreço especial pela uca. Também não desconsiderava os cigarros, que fumava sem descontinuar, alternando os de palha com os industrializados. Pagava pra ver até aonde fígado e pulmões iam. Pagamos caro pela aventura insana, porque o seguro saúde lhe deixou na mão. Morreu nos braços do SUS. Ou seja: a conta, como Sílvio Santos, foi coisa nossa.

Nosso “educador” era adepto ferrenho da disciplina. 

Não se sabe até hoje se levava os conhecimentos pedagógicos que não tinha para o cárcere, mas ninguém tem dúvidas de que trazia a lei do cárcere para o colégio supletivo. Inferno. De quando em vez, baixava normas estranhas. E mandava espalhar cartazes pelos corredores, com as tais das normas estranhas, “carimbadas” com um sonoro “CUMPRA-SE”.

Ai de quem não as cumprisse. Ai de quem não colocasse o “Educador” antes do Barbosa. De “Educador” Barbosa, o jovem professor sempre o chamou. Mas ousou desrespeitar, num dia, o famigerado “CUMPRA-SE” – que proibia professor de dar início às aulas sem que todas as carteiras estivessem alinhadas, rigorosamente alinhadas.

Do nada, mas em estado natural – ou seja: tocado –, “Educador Barbosa” entrou na sala. E foi direto ao assunto:

-- Professor: o senhor não cumpre uma ordem minha. Olhe como estão as carteiras.

-- “Educador” Barbosa: ou dou aula, ou levo quarenta minutos esperando que eles cumpram sua determinação.

Baixou o espírito carcereiro.

“Educador” Barbosa levou a mão direita até o fim da espinha, sacou o revólver. Mirou os alunos, que, de imediato, puseram as carteiras em posição de sentinela.

-- Professor: veja como a vida é fácil. Basta querer. E olhe: só estou brincando. Se atirasse...

Para o bem do ensino, encerrava ali a carreira de um professor improvisado.


(2013)







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