Dublê de diretor pedagógico e carcereiro, “Educador” Barbosa (ai de
quem não o chamasse assim), cultivava apreço especial pela uca. Também não
desconsiderava os cigarros, que fumava sem descontinuar, alternando os de palha
com os industrializados. Pagava pra ver até aonde fígado e pulmões iam. Pagamos
caro pela aventura insana, porque o seguro saúde lhe deixou na mão. Morreu nos
braços do SUS. Ou seja: a conta, como Sílvio Santos, foi coisa nossa.
Não se sabe até hoje se levava os conhecimentos pedagógicos que não
tinha para o cárcere, mas ninguém tem dúvidas de que trazia a lei do cárcere
para o colégio supletivo. Inferno. De quando em vez, baixava normas estranhas. E
mandava espalhar cartazes pelos corredores, com as tais das normas estranhas, “carimbadas”
com um sonoro “CUMPRA-SE”.
Ai de quem não as cumprisse. Ai de quem não colocasse o “Educador”
antes do Barbosa. De “Educador” Barbosa, o jovem professor sempre o chamou. Mas
ousou desrespeitar, num dia, o famigerado “CUMPRA-SE” – que proibia professor
de dar início às aulas sem que todas as carteiras estivessem alinhadas,
rigorosamente alinhadas.
Do nada, mas em estado natural – ou seja: tocado –, “Educador Barbosa”
entrou na sala. E foi direto ao assunto:
-- Professor: o senhor não cumpre uma ordem minha. Olhe como estão as
carteiras.
-- “Educador” Barbosa: ou dou aula, ou levo quarenta minutos esperando
que eles cumpram sua determinação.
Baixou o espírito carcereiro.
“Educador” Barbosa levou a mão direita até o fim da espinha, sacou o
revólver. Mirou os alunos, que, de imediato, puseram as carteiras em posição de
sentinela.
-- Professor: veja como a vida é fácil. Basta querer. E olhe: só estou
brincando. Se atirasse...
Para o bem do ensino, encerrava ali a carreira de um professor
improvisado.
(2013)
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