FECHADURA VELHA
Zé
de Vina, dono de uma gráfica em Nova-Cruz, era muito conhecido na cidade, pelas
suas andanças e farras homéricas. Era um assíduo frequentador da Rua do Sapo,
onde fica localizada a zona do baixo meretrício. A esposa, dona Anália, mesmo
sabendo da deslealdade do marido, fazia de conta que não sabia de nada,
procurando sempre tapar o sol com a peneira. Preferia fazer-se de boba, para
manter a harmonia do lar, e para não perturbar os quatro filhos, ainda
crianças.
Entretanto,
Zé de Vina era displicente demais, e não podia evitar que, uma vez por outra,
chegasse batendo palmas em sua porta, uma das mulheres da "zona" de
Nova-Cruz, pedindo-lhe dinheiro para fazer a feira. Dona Anália ficava de
orelha em pé, desconfiada, mas não perguntava nada. Ele é que ficava nervoso e
procurava justificar, dizendo que aquela pobre criatura tinha ido lhe pedir
dinheiro emprestado, por estar passando necessidade.
Zé
de Vina era tão astucioso, que simulava viagens a João Pessoa ou Natal, dizendo
à esposa que iria comprar material para sua gráfica, e que só retornaria no dia
seguinte. Dirigia-se para a estação ferroviária, ainda de madrugada, chegando
por um lado e saindo pelo outro, no horário do trem. De lá, seguia direto para
casa de alguma prostituta na Rua do Sapo. A esposa nem desconfiava que ele não
houvesse, sequer, saído da cidade. Acreditava mesmo que tivesse viajado.
Um
certo dia, dona Anália chegou à gráfica do marido e o encontrou na maior prosa
com Maria Grude, uma conhecida prostituta de Nova-Cruz, que fazia parte da
lista das “amantes” que lhe eram atribuídas pelas pessoas faladeiras da cidade.
Dona Anália fechou a cara e passou o dia sem falar com o marido. À noite, Zé de
Vina começou a adular a esposa, fingindo que não sabia por que ela estava
amuada, mesmo sabendo o motivo.
|
Não
aguentando mais a insistência do marido, dona Anália resolveu dizer a verdade:
Estava chateada porque o havia encontrado de prosa com aquela prostituta. Ele,
muito santo, muito falso e cheio de razão, disse:
-
Deixe de besteira, Anália! Como é que você tem ciúme de mim com uma mulher
daquela? Você sabe muito bem que a mulher da minha vida é você! Aquela mulher é
igual a uma fechadura velha, que qualquer chave abre!!!
Dona
Anália fez de conta que acreditou, e guardou a sua mágoa para si.
O
cinismo venceu a parada, e Zé de Vina só se aquietou depois de velho e doente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário