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A FILA
Agenor
era um cambista de Nova-Cruz, e a esposa, Maria da Paz, era costureira. O casal tinha cinco filhos, três meninos e
duas meninas.
“Pau
d’água” inveterado, o passador de bicho não conseguia chegar em casa sóbrio.
Procurava sempre fazer confusão, e tentava bater nos filhos por qualquer
tolice. A esposa não permitia e a briga era inevitável. Quase sempre, a mulher
saía apanhada, levando, no mínimo, uns empurrões. Entretanto, em mesa de bar,
Agenor mostrava-se educado e prestativo aos companheiros de copo.
O
dinheiro de Agenor era curto, mas o da sua bebida era sagrado. Totalmente
dominado pelo álcool, cada vez mais a convivência com a esposa e os filhos
tornava-se insuportável. Sua violência em casa estava aumentando
assustadoramente. Frustrado por não ter feito nenhum esforço para vencer na
vida, descarregava sua revolta na família.
Numa
sexta-feira, no começo da noite, como sempre, Agenor chegou embriagado, e
“dando coice no vento”. Parecia que vinha com o diabo no couro. Entrou trôpego,
foi direto para o banheiro, e, ao sair, ordenou aos cinco filhos e à esposa que
fizessem uma fila no meio da sala. Achando que era uma brincadeira do pai, as
crianças se posicionaram em fila, e Agenor ordenou que a esposa fosse a
primeira. Agenor trazia escondido nas mãos um chicote, e gritou que, daquele
dia em diante, todos teriam que fazer uma fila para apanhar de chicote. Isso
serviria para punição daquilo que tivessem feito de errado durante o dia...
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E tu, mulher, vais ser a primeira a apanhar!
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E
o bêbado procurou logo açoitar a mulher, segurando-a pelo braço. O cretino só não esperava a reação dela e dos
filhos. O mais velho, de treze anos, segurou o pai, ajudado pelos irmãos mais
novos, e conseguiram contê-lo. A mulher conseguiu tomar o chicote do marido, e,
com ele, deu-lhe uma grande e merecida surra. Agenor ficou prostrado ao chão,
bêbado e desmoralizado. Em seguida,
Maria da Paz e os cinco filhos foram se
refugiar na casa dos pais dela, que os acolheram penalizados e revoltados.
Na
manhã seguinte, passada a carraspana, Agenor dirigiu-se à casa dos sogros, à
procura da esposa, que, dessa vez, recusou-se, definitivamente, a voltar para a
sua companhia. Para ele, o mundo quase
desabou. Como iria viver sem aquela
mulher, que há quase quinze anos cuidava da sua roupa, fazia-lhe a comida, e
vivia numa máquina a costurar pra fora, como meio de manter a casa?!!! Agenor chorou, e, pela centésima vez, pediu
perdão à esposa, de joelhos, jurando que não voltaria a beber. Irredutível, a
mulher não voltou atrás e lhe comunicou que iria pedir a separação judicial.
Os
sogros de Agenor não quiseram se envolver na discussão, mas quando viram que a
decisão da filha, agora, era séria, exultaram de satisfação.
A
fila para apanhar foi a gota d’água para que o casamento, finalmente,
terminasse. De nada valeram os apelos anteriores da esposa para que Agenor
deixasse de beber ou pelo menos maneirasse o vício.
Houve
a separação do casal, e Agenor continuou sua trajetória etílica, separado da
família até o fim dos seus dias.
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