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PANCADINHA & PANCADÃO
Cumpriu o ritual
de sempre. Deu os remédios para o pai, esperou o pai tomar banho, secou o pai,
vestiu o pai, preparou o café do pai, serviu o pai, colocou o pai sentado no sofá
para escutar a tevê, porque ver o pai pouco via.
Era seu plantão de
final de semana.
Pediu ao pai para que
ficasse ali quietinho, que não se levantasse sozinho porque as chances de cair
e de se machucar eram de 110%. Precisava ir até o mercado do outro lado da rua
comprar frutas, coisa de quinze minutos no máximo.
Mas cadê os
óculos?
Procurou em vão
pela casa toda. Onde estariam os malditos? Sem eles, como ir às compras? Depois
de quase meia hora de procura, foi tomado por uma ideia medonha: será que o pai
sentara em cima dos óculos? Sentara. Mas sentara em cima dos óculos dele, do pai. Mas e os óculos do filho? Estavam na cara do pai.
E quem os colocou na
cara do pai foi o próprio filho, o pancadinha.
FIM DA LINHA
E nada mais foi dito, após a sentença ser decretada pela família.
Os filhos se entreolharam comovidos, sob o olhar aflito, mas firme,
da mãe.
O velho também não disse palavra. Olhava o nada, sem lágrimas. Sabia
que aquilo – sua interdição – não era maldade.
Era inevitável.
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