quarta-feira, 27 de maio de 2015

QUASE HISTÓRIAS (XXVII)

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LUZ E SOMBRA

-- Cara: fui muito mal? Seja sincero, por favor, me fale a verdade. Pra mim, é muito importante. Comecei o trabalho ontem, não deu nem tempo de esquentar a cadeira e me vejo ao lado do deputado e da cúpula do partido tendo que dar opinião sobre isso e aquilo. Quase surtei. Não gosto de falar em reuniões, prefiro escrever. Sou tímido, falo muito em boteco, depois da terceira. Entende?

-- Você foi bem. Bem demais, Osvaldo.

-- Jura?

-- Por que mentiria para você?

-- Ufa! Que bom! Fico feliz demais.

-- Não deveria.

-- Como assim?

-- Luz projeta sombra. Dois assessores do deputado, Osvaldo, já querem vê-lo pelas costas.


TODO MUNDO FICAVA DODÓI

1986. Vereadores paulistanos pediam – e obtinham! – licença “por motivos de saúde” com uma facilidade impressionante. Em seus lugares, assumiam os suplentes, ávidos por apresentar projetos e discursos inócuos. Os titulares continuavam ganhando normalmente seus salários. Os suplentes também, muito embora alguns tivessem que dividir a grana com os primeiros. A conta, evidentemente, era paga por todos nós. Em julho, em pleno recesso, muitos se licenciaram e foram assistir aos jogos da Copa do Mundo no México. Até então não se sabia que o sol escaldante de Guadalajara e as emoções que uma competição dessas provoca faziam tão bem à saúde. Não há reforma política que dê jeito na falta de caráter.



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