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LIÇÕES DE MORAL
Gosta de ouvir a
própria voz. E como gosta! Gosta mais ainda que os outros saibam de suas
certezas absolutas e de seu coração "generoso":
-- Dinheiro para
pedinte eu não dou. Se o sujeito quer comer um pão com manteiga, eu pago. Se
quiser comer uma coxinha, pago. Pago até picolé de frutas. Mas ele tem que
comer e chupar na minha frente. Agora, dinheiro para pinga? Sem chances. Não
dou mesmo.
O que nosso
humanitário ignora é que o pedinte não consegue engolir o pão com manteiga,
muito menos a coxinha, e que picolé de frutas lhe provoca os piores enjoos.
Lições de moral
não aliviam a fissura dos fissurados. Nem recuperam quem já não tem mais nada a
perder.
DESSINTONIA
Nunca foi homem de farra, nunca teve muitos amigos. Gostava mesmo
era de ler e reler seus muitos livros – e de fazer planos, ainda que não
tivesse condições de colocá-los em prática. Sempre foi uma pessoa afável, mas
sem tempo para, como se diz, jogar conversa fora.
-- Por que o senhor não desce e vai conversar com outras pessoas lá
embaixo, no jardim do prédio? Fica tão só... – era o que todos lhe perguntavam.
E ele sempre dizia:
-- Não tenho nada contra ninguém, não. Tenho uma relação cordial com
todos os que moram no prédio. Também não me sinto melhor ou pior que fulano ou
beltrano. Mas o que tenho para lhes falar não é do interesse deles. A recíproca
é verdadeira. Além do mais, a vida é curta.
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