JANOT DEU A RENAN (JUSTO A ELE!) A CHANCE DE DIZER A COISA CERTA |
E NÃO É QUE JANOT PERMITE
QUE O RENAN DOS 11
INQUÉRITOS
LHE DÊ UMA LIÇÃO DE MORAL
DEMOCRÁTICA?
BLOG DO REINALDO – 08/06/2016
– 06h
(Por
Reinaldo Azevedo) Fique certo, leitor amigo: sempre que você confere a alguém
habitualmente errado a chance de dizer a coisa certa, é sinal de que algum erro
você cometeu. É o que me ocorre dizer ao considerar a reação de Renan Calheiros
(PMDB-AL), presidente do Senado — e do Congresso —, aos pedidos de prisão
encaminhados por Rodrigo Janot, procurador-geral da República, que vazaram para
a imprensa.
Antes
de se pronunciar em plenário a respeito, Renan divulgou a nota que segue
abaixo. Leiam. Volto em seguida.
“Apesar de não ter tido
acesso aos fundamentos que embasaram os pedidos, o presidente do Congresso
Nacional reitera seu respeito à dignidade e autoridade do Supremo Tribunal
Federal e a todas às instituições democráticas do País. O presidente do Senado
está sereno e seguro de que a Nação pode seguir confiando nos Poderes da
República.
O presidente reafirma que
não praticou nenhum ato concreto que pudesse ser interpretado como suposta
tentativa de obstrução à Justiça, já que nunca agiu, nem agiria, para evitar a
aplicação da lei. O senador relembra que já prestou os esclarecimentos que lhe
foram demandados e continua com a postura colaborativa para quaisquer novas
informações.
Por essas razões, o
presidente considera tal iniciativa, com o devido respeito, desarrazoada,
desproporcional e abusiva. Todas as instituições estão sujeitas ao sistema de
freios e contrapesos e, portanto, ao controle de legalidade. O Senado Federal
tem se comportado com a isenção que a crise exige e atento à estabilidade
institucional do País.
A Nação passa por um período
delicado de sua história, que impõe a todos, especialmente aos homens públicos,
serenidade, equilíbrio, bom-senso, responsabilidade e, sobretudo, respeito à
Constituição Federal.
As instituições devem
guardar seus limites. Valores absolutos e sagrados do Estado Democrático de
Direito, como a independência dos poderes, as garantias individuais e
coletivas, a liberdade de expressão e a presunção da inocência, conquistados
tão dolorosamente, mais do que nunca, precisam ser reiterados.”
Se Renan fez um décimo, ou ainda menos, do que lhe atribuem os delatores, seu lugar é a cadeia. |
Retomo
Já
em plenário, o presidente do Senado afirmou, depois de ouvir do senador Romero
Jucá (PMDB-RR) uma manifestação de inconformismo com o pedido de prisão:
“E queria dizer ao senador
Romero Jucá que nós não devemos ter preocupação com os excessos que cometem
contra a gente. Eu, como presidente do Senado, toda vez que cometem excessos
contra os senadores, eu fico preocupado. Preocupado, sobretudo, com a soberania
dos mandatos dos senadores. Mas isso não importa, não precisamos ter tanta
preocupação. Temos de ter, sim, preocupação é quando cometem excessos contra a
instituição. Porque aí não haverá quem corrija esse excesso”.
Por
incrível que possa parecer, caros leitores — e o arquivo está à disposição para
que vocês saibam o que penso sobre Renan —, a fala está correta. Notem: Renan é
investigado em 11 inquéritos, nove deles dizem respeito à Lava-Jato. É figura
carimbada de várias delações premiadas, ainda que, até agora, Rodrigo Janot não
tenha oferecido denúncia contra ele.
Ora,
permitir que uma personagem com esse perfil dê lições sobre institucionalidade
dá conta do tamanho do erro cometido por Janot — um erro, acho, ao qual foi
induzido pela soberba e pela arrogância. E, de certo modo, pelo espírito de
reformadores do mundo que, tudo indica, tomou conta dos membros da Lava-Jato. É
bom que baixem um pouco a bola da autossuficiência para não perder o foco.
Num
particular, Renan está coberto de razão: uma coisa é tomar providências para
meter em cana personagens que degradam as instituições; outra, distinta, é
ignorar as fronteiras dessas instituições. Isso é sinal de perda de rumo.
E
Renan prosseguiu com a sua aulinha:
“Queria dizer aos senadores
e às senadoras: temos a mais aberta compreensão da separação dos Poderes. Mais
do que nunca, é preciso exercitar a separação dos poderes e aguardar com
tranquilidade, com serenidade, com responsabilidade a decisão da Suprema Corte.
Qualquer movimento que fizermos a mais parecerá que estamos danificando a separação
dos Poderes, que é fundamental para o equilíbrio nesse momento dramático da
vida nacional. Mais do que nunca, é preciso falar pelo silêncio. Eu acabei de
dizer pra imprensa que o meu silêncio será uma manifestação retumbante. Eu
falarei pelo meu silêncio. E aguardarei a manifestação do Supremo”.
Se
Renan fez um décimo, ou ainda menos, do que lhe atribuem os delatores, seu
lugar é a cadeia. No caso em questão, no entanto, Rodrigo Janot lhe deu a
oportunidade de dizer a coisa certa.
Logo,
adivinhem se Janot acertou ou errou.
REINALDO AZEVEDO |
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