sexta-feira, 17 de junho de 2016

QUASE HISTÓRIAS

A ÉTICA DO CRUZ-CREDO





CENA I

-- Fui falar com o vereador sobre aquele troço: o cargo de fiscal na Prefeitura.

-- E aí?

-- Aí nada. É um filho da puta como os outros. Só pensa nele mesmo. Veio com uma conversa de que para ser fiscal precisa passar no concurso. Lorota. Quando eles querem dão um jeito. Ou não dão?

-- Claro que dão.

-- Fui claro. Falei para ele: Eu não vou prejudicar ninguém, fique sossegado. Quero apenas ganhar uns trocos, sacou? Quero fazer que nem um fiscal conhecido meu. Ele leva R$ 10 do açougueiro; R$ 15 da lanchonete; R$ 25 do mercadinho... Ele tem uma tabela. Da padaria, ele leva R$ 50... Só para fazer vistas grossas.

-- Por dia?

-- Enlouqueceu? Por semana, por semana. Se fosse tudo aquilo por dia, seria corrupção. Com essas coisas, eu não lido.

-- Faz muito bem. Isso é coisa pra bandido.


CENA II

-- Aí, já é demais, mano velho. Os caras perderam a noção, não valem nada, não valem o que comem. São uns lixos. Roubar dinheiro da Saúde?

-- É verdade, cara, é verdade. Que desviem dinheiro de outras áreas. Dos Transportes, sei lá. Da Pesca, dos Esportes, da Cultura. Mas, da Saúde? Da Saúde não dá, não é, não?

-- É isso aí.



CENA III



 -- Sucupira, esses salgadinhos são todos de ontem?

-- São. Sobraram. Minha mulher fritou mais do que devia, pra variar. Não vai aprender nunca.

-- Que prejuízo, mano. Agora, vai tudo para o lixo?

-- Enlouqueceu? Vou fritar de novo. Eles ficam parecendo novinho em folha.

-- Você frita de novo o que sobra?

-- Claro. Mas só vendo pra quem não é freguês de todo dia, pra quem está de passagem. Pra você, frito na hora. Pode confiar.

-- Está certo. Não dá pra confundir freguês com paraquedista. (OS - 2013)



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