terça-feira, 21 de junho de 2016

QUASE HISTÓRIAS (III)

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DOLORES, DOLORES

-- Acordei hoje sem dores. O dia estava bonito, ensolarado. Uma beleza. Mas não consegui segurar o choro.

-- Uai, chorou por quê?

-- Até elas, as dores, Dolores, me abandonaram.


JOÃO BOBO

Ele ia e vinha, vinha e ia, ao sabor dos murros e pontapés que tomava. Sua alegria era dar alegria a quem lhe batia. João Bobo. Bobo João.

João Bobo cansou de apanhar. De ir e vir, vir e ir sem ver o mar. Bobo João cansou da vida sem graça, cansou de apanhar.

Quando o menino do vizinho chegou com o espeto na mão, para lhe furar os pés de plástico, ele não lhe disse palavra, não reagiu, nada fez.

Murchou em paz. Aliviado.

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ZÉ PAULO

Desde sempre, lástima das lástimas, ele entornava todas, mais algumas, com direito a “chorinho”. Sem descontinuar. O pai se foi, a mãe se foi, Zé Paulo ficou livre para fazer o que mais gosta: beber. Entornou em dobro. Sem parar.

Herdou casa própria, recebia aluguel. O irmão – ex-sócio na oficina – lhe dava mesada. Zé Paulo ia em frente, contra o vento. Bebendo muito, comendo nada.

Final de ano.

Zé Paulo, solitário como sempre, sentou-se na porta de casa. Passou muitas horas sem falar coisa com coisa. Chamaram seu irmão. O irmão chegou. E fez o que deveria ser feito: colocou Zé Paulo numa clínica.

Zé Paulo falando sandices, sandices sem parar.

Apesar da uca, Zé Paulo sempre foi inteligente, gozador nato.

Dias depois, o irmão quis saber da enfermeira se Zé Paulo estava melhor, se o juízo (ou a falta dele) estava voltando. Por via das dúvidas, foi direto ao ponto:

-- Zé Paulo: dois e dois são quanto?

Zé Paulo não se fez de besta:

-- Porra! Isso aqui é hospital ou escola?



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