quinta-feira, 1 de outubro de 2015

SIMPLESMENTE, FILÓ

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Uma oportunidade daquelas - a de estar a sós com a visita – ele não perderia de jeito maneira. O tempo era demasiado curto. Deixou de caçar o bicho de pé imaginário. Foi ao assunto. O Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar – como sabemos – sempre primou pela objetividade:

-- Qual é mesmo sua graça?

-- Filomena.

-- Nome lindo demais. Tive uma namorada com esse nome. Faz tempo... Vou dispensar “dona”, porque tenho idade pra ser seu pai.

-- Claro, fique à vontade, seu...

-- Lobo do Mar. Filomena, eu gostei de sua prosa. Mulher não deve ter vergonha de ser gorda. Você tem seios fartos, quadris largos e devidamente encapados, cintura de pilão, como deve ser a mulher de bem, de interesse público.

-- Obrigado – respondeu a visita, constrangida.

-- Vai reclamar de quê? Vai deixar de comer e beber do bom e melhor, se não tem colesterol nem diabetes? Não ligue pra homem que bota reparo em celulite e peitos caídos. Homem queixoso dessas coisas não é homem...

A filha, que sempre teve ouvidos apurados, gritou da cozinha:

-- Papai! Papai do céu! Vamos parar?

-- Faça uns bolinhos de chuva pra “dona” Filomena, que veio de longe pra lhe visitar e não é mulher pra café bebido – rebateu o Velho Marinheiro. Não tenha pressa. Capriche. Esta minha filha é uma atordoada.

E ele voltou, imediatamente, ao assunto de seu interesse:

-- Filó: como seu marido lhe trata?

A visita foi salva pelo gongo. Esbaforida, a filha do Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, entrou na sala com a bandeja.

-- E os bolinhos de chuva, cadê? – quis saber o caçador de bicho de pé imaginário. Já estão na frigideira?

-- Vou servir bolacha, papai. Vai descansar, por favor.

-- Que miséria! Vou, sim. Está na hora. Foi um prazer conhecê-la, “dona” Filomena. Se precisar de algo, estou por aqui. Daqui nunca saio. De terça e quinta, passo o dia só. Apareça, Filó. Pra papear. (2013)



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