sexta-feira, 23 de outubro de 2015

BRUNO NEGROMONTE

ZÉ GUILHERME CANTA ORLANDO SILVA
No centenário do cantor das multidões, o artista cearense apresenta o oportuno tributo "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva", projeto que traz Zé Guilherme ao mercado fonográfico após um hiato de quase uma década.
Não há o que se negar acerca da importância do cantor Orlando Silva dentro da música popular brasileira. Essa afirmação podemos atestar nas mais variadas fontes de pesquisas existentes, assim como também através de depoimentos de alguns dos mais relevantes nomes da MPB. O artista, que teve sua fase áurea entre os anos de 1935 e 1942, atuou no mercado fonográfico até os anos de 1970 e a partir de interpretações singulares de canções que posteriormente viriam a se tornar clássicos de nossa música acabou fazendo escola e  consequentemente tornou-se responsável por influenciar muitos daqueles que viriam dar continuidade a história da boa música popular brasileira nos anos subsequentes como é o caso de nomes como o ícone da bossa-nova João Gilberto e do saudoso Nelson Gonçalves. Onipresente dentro da música brasileira, o "cantor das multidões" (apelido dado pelo locutor esportivo Oduvaldo Cozzi) influencia cantores e intérpretes das mais distintas gerações como é o caso do artista aqui hoje em questão. No entanto, no ano de centenário dessa emblemática figura do nosso cancioneiro, os grandes meios de comunicação de massa praticamente ignoraram tal comemoração e, no último dia 03 de outubro, data em que Orlando de faria aniversário, poucos foram aqueles que dedicaram-se à lembrança dessa saudosa figura. Diferente dos noventa anos do artista, quando o ator Tuca Andrada ganhou os palcos do país a partir do musical "Nada além de uma ilusão", escrito por Antônio de Bonis e Fátima Valença, o centenário de Orlando tem passado desapercebido em detrimento a sua importância dentro de nossa música e até agora poucas foram as homenagens concedidas. Até o momento, a mais significativa em disco, vem a ser "Abre a Janela - Zé Guilherme Canta Orlando Silva", tributo prestado pelo cantor cearense Zé Guilherme. 
Nascido em Juazeiro do Norte (CE), Zé Guilherme teve a oportunidade de crescer sob as mais distintas influências. Sua formação musical se deu a partir da audição dos grandes nomes do cenário musical brasileiro (dentre eles o próprio Orlando), assim como também da absorção de toda a cultura existente em sua região através das mais distintas fontes culturais e manifestações artísticas. Esse tal contexto fez-se de fundamental importância para que tempos depois o jovem juazeirense almejasse seguir carreira artística. Percebendo que seu torrão natal não possibilitaria de imediato o alcance que desejava em sua carreira artística, Zé decidiu partir para o Sudeste. Em São Paulo, desde 1982, de início cantou no circuito de casas noturnas da cidade. De lá para cá vem desenvolvendo inúmeros projetos musicais, dentre os quais os shows "Clandestino" e "Zé Guilherme e Convidados" (que contou com a participação de nomes como Carlos Careqa e Vânia Abreu). Depois de anos na estrada, em 2000, Zé lança "Recipiente" (Lua Discos), seu primeiro CD e que conta com a produção musical e arranjos de Swami Jr., seis anos após o lançamento de "Recipiente" lança mais um projeto intitulado "Tempo ao Tempo", com direção artística do próprio Zé Guilherme, que assina também a coprodução em parceria com Marcelo Quintanilha. Quase uma década depois o artista cearense volta ao mercado fonográfico com o álbum "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva", um projeto que resgata o repertório de um dos maiores intérpretes de nossa música a partir de uma releitura peculiar de uma obra composta por clássicos do cancioneiro brasileiro eternizados por Orlando. Trata-se de uma comemoração ao centenáriodo Cantor das Multidões como assim pudemos observar.
Composto por dezoito canções, "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva" busca abranger a fase áurea do saudoso intérprete carioca ocorrida entre os anos de 1935 e 1942 a partir de faixas como a popular marchinha carnavalesca de 1930, “A Jardineira” (Benedito Lacerda e Humberto Porto). “Apresento minha visão pessoal desta canção auxiliado pelo belo arranjo que traz introdução com o piano de Breno Ruiz, fazendo referência ao estilo barroco”, relata o intérprete cearense. O disco segue com Dama do Cabaré” e A Primeira Vez”. A primeira, de autoria do poeta da Vila Noel Rosa (que também assina em parceria com Cristovão de Alencar a faixa Pela Primeira Veztraduz o clima boêmio dos cabarés da Lapa carioca; já a segunda consta no repertório do disco por se tratar de uma canção que, segundo o próprio Zé Guilherme, remete à inocência da paixão juvenil e me faz rememorar as desilusões passageiras da juventude”. Logo em seguida vem a faixa que batiza o álbum: “Abre a Janela”. Registrada pelo cantor das multidões em 1937, esta canção de autoria de Marques Júnior e Roberto Roberti foi o primeiro sucesso carnavalesco do artista no ano seguinte. O disco segue com sucessos da carreira de Orlando como Preconceito” (Marino Pinto e Wilson Batista), Aos Pés da Cruz” (Marino Pinto e Zé da Zilda), Curare” (Bororó), O Homem Sem Mulher Não Vale Nada” (Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti), Alegria” (Assis Valente e Durval Maia), Lábios Que Beijei” (J. Cascata e Leonel Azevedo), Faixa de Cetim” (Ary Barroso), Lealdade” (Wilson Batista e Jorge de Castro) e Malmequer” (Newton Teixeira e Cristovão de Alencar). Entre as menos populares encontram-se Meu Consolo é Você” (Nássara e Roberto Martins) e “Meu Romance” (J. Cascata). Vale destacar também as homenagens para as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro a partir das canções Cidade do Arranha Céu” (composição da lavra de Edgard Cardoso, Ranchinho e Alvarenga) Cidade Brinquedo” (Silvino Neto e Plínio Bretas).  "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva" atesta a atemporalidade de artista singular dentro da música popular. É um projeto que faz uma justa reverência ao saudoso cantor das multidões a partir de um seleto repertório composto após um longo processo de pesquisa sobre a trajetória e a discografia do inigualável intérprete carioca. Ao decidir homenagear um artista do quilate de Orlando Silva, Zé Guilherme não apenas realiza um desejo contido ao longo de uma década, mas também expõe-se visceralmente em um trabalho imbuído de reminiscências como ele mesmo faz questão de registrar eu abri a janela do meu coração para me apossar, com respeito e reverência, dos sucessos de Orlando Silva e reapresentá-los ao público pela minha voz, pela minha forma de cantar”. Desse modo, "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva" faz-se, sem o menor vestígio de saudosismo, um disco imprescindível para todos aqueles que se declaram fã de Orlando Silva (ou não) devido ao mapeamento de um repertório caracterizado por um apurado critério e rigor que corroboraram e continuam a contribuir para a história do nosso cancioneiro. Disco fundamental para que as novas gerações possam conhecer, a partir de interpretações carregadas de afetividade. Um carinho que de tão sincero faz-se combustível para que Orlando, mantenha-se vivo no coração daquele que esmo após quase quatro décadas de sua morte, o mantenha como referência na música popular brasileira.
Serviço
CD: Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva
Artista: Zé Guilherme
Distribuição: Tratore (www.tratore.com.br).
Preço sugerido: R$ 27,00

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