terça-feira, 13 de outubro de 2015

NÚBIA NONATO


TRAÇOS


Dormi pensando no meu pai, acordei cedo
e ele comigo. Sentei buscando nas lembranças
algo mais pueril, mais ingênuo, mais criança.
Lembrei-me que nos juntávamos pra desenhar
ele sempre repetia o mesmo traço, nunca se atrevia
mais e nos acostumamos.
Nos habituamos a um pai seco, rude, sem muito esboço.
Um pai nem sempre tão presente, nem sempre sorridente.
Nos acostumamos com o pai trovão que rugia alto à mesa.
Conforme fui crescendo o rugido do velho leão foi se perdendo
e só me dei conta disso quando comecei a enxergá-lo como
pai.
Um pai forjado talvez às pressas, na dificuldade de criar
cinco meninas.
Meu Deus! Cinco meninas...
Busco naquilo que me é possível desenterrar o amor que eu
não entendia, busco perdoar na menina imagens que eu não
percebia, busco no velho leão que agora dorme o afago que
eu não reconhecia.
Tomara pai, que um dia você nos entenda e que nos traços
possamos resgatar mais do que rabiscos.


Um comentário:

  1. Parabéns, Núbia Nonato! Simplesmente especial e emocionante! recomendo a leitura :)

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