De Coutinho todos procuravam fugir: no bar do Carneiro, no trabalho, nas
raras festas de família para as quais ele era convidado. Coutinho era um chato
incurável, de uma inconveniência avassaladora. Queria saber quanto Fulano ganhava,
quanto Beltrano pagara pelo carro novo, se a mulher de Sicrano casara virgem.
Passava o dia na porta do prédio em que morava, para acompanhar o entra e sai
dos vizinhos. Não raro, quando alguém chegava com uma sacola nas mãos,
perguntava:
-- O que temos de bom aí?
Justamente por isso, causava estranheza o fato de Donato – só ele, mais
ninguém – ter tanta paciência com Coutinho.
Certo dia, Donato esqueceu o celular na mesa do bar. Coutinho não se fez
de rogado: pegou a aparelho do amigo, acessou a lista de contatos e a de mensagens.
Depois, partiu para as fotos. Ficou excitado quando se deparou com a imagem de
uma mulherona seminua. A excitação cresceu – e muito – quando a viu pelada, em
poses pornográficas. Aquele corpão violão não lhe era de todo estranho. Quem
seria a beldade? Descobriu logo em seguida. A beldade era Maria Rita, sua
mulher.
Um infarto fulminante levou a bisbilhotice de Coutinho sabe-se lá pra
aonde. De volta ao bar, Donato chamou o SAMU, tirou o celular das mãos do morto
e apagou as fotos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário