HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB – PARTE 05
Lamartine Babo (1904-1963)
Ao longo do mês passado trouxe aqui para a nossa coluna algumas curiosidades acerca de dois grandes nomes de nossa música. Tom Jobim e Vinícius de Moraes foram personagens marcantes dentro e fora da música e aqui no JBF tive a oportunidade de registrar algumas passagens engraçadas ao longo de suas respectivas biografias.
Pois bem, devido ao sucesso da pauta publicada em janeiro, volto agora com outro grande personagem de nossa música e algumas passagens interessantes (e porque não cômicas?) de sua biografia. Saudosista e ainda inebriado por confete e serpentinas, trago hoje um artista considerado como uma das figuras mais emblemática do carnaval brasileiro, que foi o compositor Lamartine Babo (também conhecido por Lalá). Dos doze irmãos, foi um dos três que chegaram a vida adulta e mesmo sem o menor conhecimento musical foi capaz de criar melodias maravilhosas ainda na adolescência como por exemplo a valsa “Torturas do Amor“, composta por ele aos 14 anos.
Sua primeira marchinha gravada, foi a divertida “Os Calças-Largas“, um deboche de Lamartine sobre rapazes que usavam calças boca-de-sino. Em 1937, com a implementação da censura advinda com o Estado Novo de Getúlio Vargas, as sátira foram proibidas e a partir daí as marchinhas não foram mais as mesmas. Porém é válido lembrar que além das marchinhas carnavalescas, o versátil Lamartine, foi capaz da proeza de, em 1949, compor os hinos (não-oficiais) de todos os 11 participantes do campeonato carioca daquele ano. Patrocinado pelo prgrama radiofônico “Trem da alegria“, todos os hinos compostos acabaram sendo lançados em 78 rotações. Uma curiosidade sobre a composição desses hinos é que em apenas um dia “Lalá” compôs os famosos hinos dos considerados seis maiores e mais tradicionais times de futebol do Rio de Janeiro – sendo o primeiríssimo em seu coração o América FC, além de Vasco da Gama, Fluminense, Flamengo, Botafogo e Bangu.
Algumas estórias mostram o quanto Lamartine Babo era um cara despojado e irreverente, como por exemplo o dia em que foi enviar um telegrama, o telegrafista bateu então o lápis na mesa em morse para seu colega: “Magro, feio e de voz fina“. Lalá tirou o seu lápis e bateu: “Magro, feio, de voz fina e ex-telegrafista“. Outra passagem interessante foi durante uma entrevista na década de 50 quando declarou: “Eu me achava um colosso. Mas, um dia, olhando-me no espelho, vi que não tenho colo, só tenho osso“. Ainda sobre sua magreza costumava dizer: “Eu era tão magro que não dava fotografias às minhas fãs, dava radiografias” e todas as vezes que alguém o repreendia pela vida desregrada o mandando cair em si, ele costumava dizer: “Amigo, eu sou tão magro que se eu cair em si, eu ainda caio fora“.
Há várias outras passagens interessantes na biografia deste que foi sem dúvida um dos maiores compositores de sua época, como um fato que ocorreu quando trabalhava na Companhia Internacional de Seguros. Neste emprego ele passou pouco tempo, pois logo foi despedido quando o seu patrão o viu batucando numa mesa, em horário de trabalho, e mordendo a língua, cacoete que fazia quando estava compondo.
Muitos dizem que Lalá especializou-se em copidescar canções mal feitas e mal arranjadas, transformando-as em grandes sucessos. Dizem que foi o caso de canções como “No Rancho Fundo” e “Uma Andorinha Não Faz Verão“. Outra composição polêmica é um dos seus maiores sucessos: “O Teu Cabelo Não Nega“. Dizem que escrita pelos irmãos pernambucanos João e Raul Valença, Lalá alterou a letra e alguns arranjos, além de criar a introdução instrumental da obra.
Sim! Não posso esquecer de lembrar aos amigos do JBF que Lalá foi tio de Oswaldo Sargentelli, o dono da casa de espetáculos “Sambão” em Copacabana. Sargentelli tornou-se conhecido nacionalmente quando teve a sua imagem associada as inúmeras mulatas que passaram em espetáculos organizados por ele.
Agora, como de costume, deixo duas composições do nosso Lalá. A primeira trata-se da parceria de Lalá com o genial Noel Rosa, na voz do próprio Lamartine a canção A.E.I.O.Ué um registro de 1932:
A segunda canção trata-se de “Isto é lá com Santo Antônio, um dos clássicos juninos da história da música brasileira e composição do Lamartine. Aqui a canção foi registrada pelo próprio autor, presente no LP de 10 polegadas "Noites de junho", da Sinter, e do 78 rpm 553-A, lançado em maio de 1957:
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